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    Lucio Lauro Massafferri Salles

    Descrição: Professor e psicólogo/psicanalista. É graduado em Filosofia (UFRJ) e Psicologia (CEUCEL), doutor e mestre em Filosofia (UFRJ) e especialista em Psicanálise (USU). Realiza atualmente uma pesquisa de pós-doutorado em Filosofia na UERJ.

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    Um amor em tempos de cólera

    "Depois de todas as crueldades, injustiças tramadas e perdas, Lula ama. Se une, cria e se casa novamente", escreve Lucio Massafferri Salles

    Janja e Lula (Foto: Ricardo Stuckert)

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    Por Lucio Massafferri Salles

    Hoje é o dia do casamento de Lula com a sua Janja. Amor é a palavra e é também o afeto. Não há força maior do que essa, a do amor que junta, une, liberta, agrega, cura, cria e transforma.

    É compreensível que o ódio, o ressentimento ou a discórdia, não possam ocupar o mesmo lugar o qual o amor resolve se instalar. Não cabe.Amor e ódio não ocupam o mesmo espaço, no tempo.

    E essa reflexão físico afetiva me traz à memória que no texto Análise terminável e interminável (1937), já próximo ao fim da sua vida, Sigmund Freud fez uma afetuosa e demorada alusão ao filósofo siciliano Empédocles.

    Nesse texto, Freud revela que algumas ideias do filósofo Empédocles são idênticas a aspectos importantes da sua doutrina dualista das pulsões (a de vida e a de morte).

    Em tom de confissão, o criador da psicanálise responsabilizou a ocorrência de um “eclipse de memória” pelo fato de só tardiamente ter conseguido lembrar e reconhecer o impacto das leituras dos poemas de Empédocles na sua própria mente, ao longo de sua vida.

    Dizendo se tratar de uma das figuras mais notáveis da Antiguidade Grega, Freud assumiu o seu fascínio pela multifacetada personalidade de Empédocles, lembrando ter sido ele não apenas um político, um sofista, um poeta e pensador místico, mas, também, um médico que conhecia profundamente as ciências naturais.

    Nas palavras de Freud, Empédocles ensinou que o universo, a vida e as psiquês humanas são dirigidas por dois princípios: φιλία (Amor) e νεῖκος (Discórdia), isto é, o amor e o ódio como motores da geração/criação e da desintegração/destruição, do nascimento, da vida e da morte.

    Seguramente, há fortes componentes trágicos nessa visão cosmológica do filósofo Empédocles. A sombra da força de uma reviravolta capaz de marcar com infortúnio um local, uma ou mais vidas que, de repente – como em uma peripécia trágica – passam a ser atingidas e influenciadas pela ação da desagregação, da separação, da discórdia e do ódio.

    Entretanto, o contrário dessa imagem viva também ocorre. A ideia é a de que esses movimentos de criação e destruição, essas forças agindo, são algo contínuo; elas se alternam no movimento a que chamamos de tempo. O amor e a discórdia não se estagnam fixamente como regentes da (as) vida (s), e esse é o incessante jogo de forças.

    Vislumbrando isso, me parece ser compreensível que a ação da discórdia (ou do ódio) seja comumente acompanhada do medo. Afinal, o medo é um estado afetivo, uma emoção via de regra bastante alinhada com possibilidades de desintegração, de perda ou morte, enfim.

    Em sua mais intensa expressão, o medo dá vez à angústia. E é também do medo, da angústia e da sensação de aniquilação que os brasileiros precisam se livrar. É como um aprisionamento no declive de uma depressão. É hora de girar isso.

    Evidentemente que não é o único caso no mundo, certamente não é. Mas, vejam o caso de Lula. Depois de tudo o que viveu e de tudo o que passou nos últimos anos.

    Depois de toda a sórdida armação operada contra ele. Depois de todas as crueldades, injustiças tramadas e perdas, Lula ama. Se une, cria e se casa novamente.

    Sendo humano, de carne e osso, e não um mito ou herói, Lula se manteve firme, mesmo nos momentos em que o mundo desabou em cima dele.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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