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    Vagner Freitas

    Vagner Freitas, é o presidente do Conselho Nacional do Sesi. Foi presidente da CUT entre 2012 e 2019

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    Um banco a serviço do Brasil não pode ser privatizado

    A reorganização do Banco do Brasil não pode usar e abusar das inovações tecnológicas para prejudicar milhares de trabalhadores. A evolução científica deve favorecer toda a humanidade e não meia duzia de banqueiros e latifundiários.

    O anúncio do plano de reorganização do Banco  do Brasil, que tem como meta inicial a adesão forçada, até 5 de fevereiro, de 5 mil funcionários ao Programa de Desligamento Extraordinário (PDE), lembra a tragédia que ocorreu no país quando a gestão do tucano Fernando Henrique Cardoso, que tomou decisão semelhante.

    No início do governo FHC, o BB implementou programa de desligamento e o resultado foi uma quantidade inédita de suicídios de funcionários, tamanha a tensão e pressão a que foram submetidos os trabalhadores e as trabalhadoras.

    Em plena pandemia, que já matou mais de 204 mil pessoas e com as taxas de desemprego em alta, é inadmissível o governo de Jair Bolsonaro pensar em desativar agências, escritórios e postos de atendimento com o objetivo de economizar, otimizar espaços ou qualquer outra justificativa dos cabeças de planilha que estão no governo.

    As novas tecnologia podem e devem ser usadas para melhorar o trabalho e a empresa e não apenas para aumentar a produtividade e o lucro. O BB pode usar as tecnologias para ampliar o seu mercado e propiciar a humanização dos processos de trabalho de seus funcionários. A adequação das estruturas às distintas e inovadoras formas de se prestar serviços financeiros, como os clientes digitais, pode ser necessária.

    O que é incompreensível e inaceitável é o desmonte de uma instituição pública que presta relevantes serviços ao desenvolvimento econômico do Brasil desde 1808, quando passou a ser  responsável por investimentos públicos, pelo financiamento da agricultura e da garantia de nossa soberania alimentar.

    Pela sua posição e papel como principal agente financeiro do governo, o BB contribui na gestão macroeconômica, podendo ajudar na redução das taxas de juros, como fez durante o governo Dilma Rousseff.

    As medidas anunciadas pela gestão bolsonarista são inaceitáveis porque respondem a um projeto privatista, entreguista e rentista, que passa pela autonomia do Banco Central, ou seja, pela entrega da principal instituição na gestão macro econômica ao capital privado e redução do papel do principal banco público como agente financeiro do governo.

    As medidas anunciadas pelo BB aumentarão ainda mais os lucros dos acionistas, beneficiarão os bancos privados e o agronegócio, mas certamente terão impacto negativo para o crédito rural aos pequenos produtores da agricultura familiar, pois o BB é o principal operador do PRONAF- Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar.

    Além disso, prejudicarão os pequenos negócios e a economia de milhares de pequenas municípios considerados pelo sistema privado como não rentáveis.

    Assim como os Correios, ainda são os bancos públicos que asseguram a bancarização, o crédito e o financiamento nestas regiões. As opções virtuais em expansão não atendem às necessidades destas comunidades, pois funcionam como braços de um aspirador, que retira recursos da economia local sem qualquer compromisso com o desenvolvimento das localidades.

    São medidas retrógradas e elitistas voltadas para beneficiar poucos em detrimento de milhões. O Banco do Brasil é uma instituição lucrativa que transfere para os cofres públicos bilhões em dividendos todos os anos. Em 2019, lucrou 18, 1 bilhões e pagou ao governo federal 3, 4 bilhões de reais em dividendos.

    Certamente o BB precisa de ajustes, mas para melhorar e ampliar sua atuação e fornecer crédito a baixo custo para os pequenos negócios urbanos e rurais se recuperarem da difícil e dramática situação pela qual estão passando, em face da crise econômica, amplificada pela pandemia. E para melhorar as condições de trabalho de seus funcionários.

    Como banco público, suas regras para financiamento podem ser flexibilizadas e ajustadas às difíceis condições dos pequenos empreendimentos, que são os que mais geram empregos.

    A reorganização do Banco do Brasil não pode usar e abusar das inovações tecnológicas para prejudicar milhares de trabalhadores. A evolução científica deve favorecer toda a humanidade e não meia duzia de banqueiros e latifundiários.

    Ao contrário disso, as medidas anunciadas não visam fortalecer esta instituição pública secular. Pelo contrário, visam reduzir sua presença em mercados de interesse dos bancos privados e implementar programas de demissão, preparando-o para futura privatização. O que torna ainda mais difícil a defesa da soberania nacional de um país continental, que precisa acima de tudo, voltar a crescer e gerar milhares de empregos, ao invés de promover o desemprego de 5 mil funcionários.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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