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    Sara York

    Sara Wagner York ou Sara Wagner Pimenta Gonçalves Júnior é bacharel em Jornalismo, licenciada em Letras Inglês, Pedagogia e Letras vernáculas. Especialista em educação, gênero e sexualidade, primeiro trabalho acadêmico sobre as cotas trans realizado no mestrado e doutoranda em Educação (UERJ) com bolsa CAPES, além de pai, avó. Reconhecida como a primeira trans a ancorar no jornalismo brasileiro pela TVBrasil247.

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    Uma entrevista com Ron Brown e suas reflexões sobre a universidade como conhecemos

    Brown dedicou sua carreira a transformar a realidade de atletas negros e a garantir que todos tenham acesso a uma educação de qualidade

    Ronald Brown (Foto: Arquivo Pessoal/Sara York)

    Com mais de 25 anos dedicados à defesa dos estudantes atletas, Ronald Brown, um dos pioneiros do movimento pelo bem-estar dos atletas, é uma figura crucial na luta por justiça no esporte universitário. “O esporte universitário precisa ser um caminho para o sucesso, não um obstáculo para o futuro dos atletas”, afirma Brown, que dedicou sua carreira a transformar a realidade de atletas negros e a garantir que todos tenham acesso a uma educação de qualidade. Seu trabalho, que abrange desde a criação de novas legislações até a implementação de programas de apoio acadêmico e desenvolvimento de carreira, transformou o cenário do atletismo intercolegial e moldou o futuro de milhares de estudantes atletas.

    Ronald Brown Brown tem sido consultor da NFL, NBA e MLB para seus programas de conclusão de graduação e iniciativas comunitárias.

    É preciso lembrar que milhares de estudantes recorrem aos esportes para ter seus estudos subsidiados pelas bolsas estudantis. Durante nossa conversa, discutimos o impacto do governo Trump nas questões sociais, especialmente em sua atual gestão e ainda o eco em relação ao movimento Black Lives Matter. Abordamos como a administração de Trump lidou com as manifestações e a luta por justiça racial, destacando a importância do movimento “Vidas Negras Importam” nos Estados Unidos atualmente.

    No atual cenário político e acadêmico, a existência e a permanência das universidades como espaços de conhecimento e diversidade têm sido questionadas. Em entrevista exclusiva, o Professor Ron Brown, especialista em Estudos Africanos da Universidade de Pittsburgh, compartilha suas reflexões sobre os desafios da educação superior, o papel da diversidade e a conjuntura política global.

    O futuro das universidades e a instabilidade política

    Ao abordar as incertezas sobre o futuro da educação superior, o Professor Brown destacou a fragilidade do financiamento universitário e a falta de lideranças comprometidas com a inclusão e a equidade. Segundo ele, a história política dos Estados Unidos reflete um ciclo de mudanças nas estruturas partidárias, mas atualmente, nem democratas nem republicanos apresentam soluções concretas para os desafios da sociedade diversa e globalizada.

    Ele ressaltou que a criação de iniciativas institucionais de equidade, diversidade e inclusão é essencial, mas teme que a pressão por financiamento leve ao enfraquecimento dessas políticas. “Quando vi que implementamos uma estrutura de equidade e diversidade, senti esperança. Mas agora vejo nossos líderes lutando contra ameaças de perda de financiamento”, afirmou.

    Desafios da experiência universitária e os perigos do discurso de ódio

    A discussão sobre a experiência de minorias dentro da universidade é fundamental para o Professor Brown. Em resposta a uma pergunta sobre os desafios enfrentados por grupos marginalizados, incluindo pessoas transgênero, ele defendeu o direito igualitário de acesso ao ensino superior. “A oportunidade de frequentar uma universidade como a de Pittsburgh não é dada, é conquistada. Mas, uma vez dentro, todos devem ter os mesmos direitos, independentemente de cor, gênero ou identidade.”

    A crescente normalização de discursos de ódio nas redes sociais e sua relação com a política também são preocupações centrais. Brown destacou que a retórica racista e excludente está sendo usada sob a justificativa da liberdade de expressão, minando direitos fundamentais. “O discurso de ódio se disfarça de liberdade de expressão. E isso é assustador. Existe uma parcela da população que controla leis e regulamentos e usa sua posição para explorar e oprimir.”

    Paralelos históricos e a volta do colonialismo

    Ao ser questionado sobre a relação entre o atual momento político e modelos históricos de opressão, Brown traçou paralelos com o colonialismo e a escravidão. Ele alertou que a busca por domínio econômico e tecnológico pode levar a um novo tipo de feudalismo, no qual poucas elites controlam os recursos e marginalizam grandes parcelas da população. “Parece que estamos voltando a um passado em que a supremacia branca e o colonialismo se impunham. Como podemos tomar algo de volta, se nunca foi nosso para começar?”

    Brown enfatizou que a luta por direitos ainda está longe de ser concluída e que avanços conquistados por meio de políticas afirmativas estão sob constante ameaça. “Dizem que já fizemos o suficiente: com a Comissão de Oportunidades Iguais de Emprego, com a ação afirmativa, com os direitos civis. Mas ainda existe uma subclasse que atravessa raças e gêneros, e não podemos permitir que isso continue.”

    A lição não é apenas seguir, mas lutar enquanto podemos!

    O Professor Ron Brown apresenta uma visão crítica e contundente sobre o futuro da educação, a política e a inclusão social. Seu alerta sobre os riscos da ascensão do discurso de ódio e da perda de direitos conquistados reforça a importância da mobilização e da resistência. Em tempos de incertezas, a história e a experiência de pesquisadores como Brown são fundamentais para compreender os desafios e delinear caminhos para um futuro mais justo e igualitário.

    Agradeço imensamente ao professor Ronald Brown por sua atenção e carinho e, mais que isso, por ser alguém comprometido com seu tempo e que não hesitou em expressar e compartilhar suas percepções neste momento em que tantos têm se calado por medo!

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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