Venezuela no epicentro da disputa geopolítica mundial e a guerra pelo petróleo
"A Venezuela é no momento o epicentro de uma disputa geopolítica na América Latina e em termos globais"
A Venezuela é no momento o epicentro de uma disputa geopolítica na América Latina e em termos globais – o país tem sólidas alianças com a China e a Rússia, países integrantes e decisivos dos Brics. As imensas reservas de petróleo e de minerais raros são parte essencial dessa disputa — o que motiva e intensifica a natureza do conflito.
O processo bolivariano de mudanças das instituições políticas e de estado, iniciado com a chegada de Hugo Chávez ao governo em 1999, implicou desde o início na disputa pelo controle da renda petroleira. Ou seja, o controle da PDVSA, e de suas subsidiárias, como a Citgo, uma refinaria venezuelana e rede de revenda de combustíveis dentro dos Estados Unidos [ subtraída da Venezuela na mão grande durante a aventura do bisonho Juan Guaidó].
Nos 25 anos do atribulado projeto bolivariano de governo e de poder, ocorreram 31 processos eleitorais, com maior e/ou menor grau de intensidade da disputa e legitimidade.
Durante todo esse período, a antiga institucionalidade e modelagem política foram modificadas: o Chavismo aprovou uma nova constituição, enterrou o bi-partidismo oligárquico que se reveza no poder [Copei e AD, ambos partidos das classes dominantes e sustentados pela renda do petróleo].
O governo do presidente Hugo Chávez também mudou o caráter das Forças Armadas, do Poder Judiciário e nacionalizou parte da economia do país. Portanto, A Venezuela tem um regime político com formas híbridas, combinando elementos da “democracia parlamentar” com a democracia direta”, ou “protagônica”, como dizem os bolivarianos — não sem problemas e da permanência de traços autoritários, mas com adesão de massas.
Na concretude do atual conflito, em que 10 candidatos disputaram o pleito presidencial, com ampla liberdade de campanha e propaganda, um fato notório — com regras eleitorais acatadas pelos quase 30 partidos legais que atuam na arena política do país –, com um sistema de votação moderno e auditável da base ao topo. Informação importante: os partidos participam da totalização final da contagem dos votos, junto com os reitores do Conselho Nacional Eleitoral – CNE].
Um pleito eleitoral radicalizado e disputado em cada centímetro do território venezuelano, todos os representantes partidários com acesso aos locais de votação e com cerca de mil observadores internacionais, é praticamente impossível a fabricação de uma fraude em escala industrial, como alega a extrema direita e os “liberais” de fachada agrupados na Plataforma Unitária de Democrática, de Corina Machado e do fantoche Edmundo Gonzalez.
O surreal dessa confusão, criada pela oposição extremista da direita e pela mídia enferma de preconceito contra o Chavismo e a figura de Maduro, é que até o momento não apareceu a materialização das acusações que comprovem uma fraude eleitoral de tamanha proporção. Quem contesta o resultado eleitoral não apresentou nenhum indício, nada, um único e definitivo indício.
Numa coletiva de imprensa para jornalistas internacionais, realizada na tarde de terça-feira (30), Corina Machado chegou a apresentar números do “resultado eleitoral” obtidos, segundo ela, por um sistema paralelo de apuração, com base em boletins parciais de urna fornecidos pela própria apuração oficial conduzida pelo CNE. Algo bizarro! É uma ingerência — e mais, é um desrespeito ao povo e nação venezuelana — exigir os tickets de urna da eleição de um país, qualquer país. Se a moda pega, vai ser um “deus-nos-acuda” nos próximos processos eleitorais a partir de agora na América Latina.
Vamos aguardar a conduta dos que gritam contra a “fraude” de Maduro, se vão ter o mesmo oxigênio no peito para gritar contra o confuso sistema de apuração norte-americano e o resultado eleitoral da disputa em curso entre Kamala e Donald Trump, que já avisou que se ele perder, será por fraude, como fez Bolsonaro por aqui. Os que gritam contra a “fraude” de Maduro também estão calados com o golpe “brando” de Macron na França, duplamente derrotado pela coalizão de esquerda, Nova Frente Popular, liderada por Melénchon, e por Marina Le Pen, líder do Agrupamento Nacional, que segue adiando a convocação das novas eleições. Na França não acontece um golpe contra a vontade expressa nas urnas pelo povo francês?
E para classificar a filiação política e ideológica “democrática” da oposição venezuelana, [já que algumas boas almas progressistas cultivam dúvidas sinceras sobre o resultado eleitoral da Venezuela], liderada por Corina Machado, Edmundo Gonzalez, Leopoldo López, Caprillez, João Guaidó, é a mesma linhagem do Clã Bolsonaro, de Milei, de Steve Bannon e dos neofranquistas do Vox espanhol. Um pessoal amante da democracia, desde que o resultado seja favorável ao meu grupo político.
Após o resultado eleitoral, desde domingo (28), a extrema direita adotou o modus operandi das “guarimbas”, protestos com obstruções de vias públicas, ataques a prédios públicos, queima de veículos, algo muito semelhante do que aconteceu por aqui, após a derrota de Bolsonaro para Lula nas eleições presidenciais de 2022.
A posição do PT [ferramenta política e organizativa da militância de esquerda] – e do governo Lula [institucionalidade e representação estatal do Brasil] – apontaram para o reconhecimento do pleito, solicitaram a apresentação do resultado final da eleição, o que será feito nos próximos dias, e aconselharam para o prosseguimento das conversações entre as forças políticas do país [previstas nos protocolos de Barbados]. Uma posição correta do PT, maior partido popular da América Latina, e do presidente Lula, uma liderança política reconhecida por sua capacidade de diálogo e concertação.
A questão de fundo que move as engrenagens dessa guerra contra a soberania da Venezuela, é o petróleo. Parafraseando o estrategista da campanha presidencial de Bill Clinton contra George Bush, em 1992, James Carville –, é o petróleo, estúpido. Alguém tem dúvida?
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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