TV 247 logo
    Benedita da Silva avatar

    Benedita da Silva

    Deputada federal pelo PT-RJ, ex-governadora do Rio de Janeiro e primeira senadora negra do Brasil

    63 artigos

    HOME > blog

    Vidas negras importam!

    A cor da pele conta para a compreensão da brutalidade, diz a deputada Benedita da Silva

    Emilly e Rebeca, vítimas num tiroteio em Duque de Caxias (Foto: Reprodução)

    João Alberto, Emilly e Rebecca. Mais vítimas da violência gratuita transformada em paisagem em nosso país. Mais pessoas negras vítimas do preconceito, do racismo que atravessa as relações sociais, pessoais e econômicas no Brasil.

    Nosso país avançou muito até poucos anos atrás na cultura da diversidade, da tolerância, do respeito aos direitos e às diferenças. Foi a partir das lutas sociais, de políticas públicas e de avanços institucionais, todos eles impulsionados por um sentimento de solidariedade, que começamos a avançar após o silêncio imposto pela ditadura.

    Neste momento, quem deveria continuar remando para a frente quer fazer o barco navegar para trás, retirar direitos, tornar normal que a juventude negra seja dizimada numa espécie de genocídio racial, que a população das favelas seja a principal vítima da pandemia. Que nosso trabalho, mesmo igual ao de um branco, tenha sempre uma remuneração menor.

    O assassinato gravado e exibido de João Alberto é a face inevitável da violência que brota naturalmente do racismo estrutural. A execução das duas crianças também.

    Para muitas pessoas, pode parecer difícil compreender o que leva profissionais encarregados de dar segurança a descarregar tanta violência sobre uma pessoa desarmada, asfixiando-a por quatro minutos diante de outros tantos que assistem, filmam. Ou o porquê de a bala perdida sempre encontrar um corpo negro pela frente.

    A cor da pele conta para a compreensão da brutalidade, que é a outra face do preconceito, da omissão frente ao racismo. A intolerância é permitida contra os negros simplesmente porque somos vistos como “culpados” por sermos negras e negros.

    Felizmente, os brasileiros não perderam a capacidade de se indignar. Os protestos são sinais da consciência crescente de que não haverá economia estável sem a inclusão da maioria da população, preta e parda. Assim como não há avanço civilizatório sem constranger a discriminação e o preconceito, sem o combate a perversões históricas como a escravidão, o apartheid e o racismo.

    Os empresários e os governos precisam entender isso. Não é possível mais que seguranças de patrimônio e forças policiais ajam pelo princípio da culpa do negro. É preciso educá-los pelos princípios da tolerância.

    Assim como a morte de George Floyd nos Estados Unidos abriu as mentes e provocou mudanças, as de João Alberto, Emilly e Rebecca também devem inspirar atitudes contra a injustiça e a impunidade. A Câmara dos Deputados, por iniciativa do colega Damião Feliciano, instalou uma comissão externa de deputados para acompanhar a investigação e cuidar para que o processo seja isento e ajude o Judiciário a fazer o julgamento correto. Da qual sinto-me honrada em participar. Também da Câmara tenho cobrado do governador Cláudio Castro que reveja estas operações policiais violentas nas favelas. Esta é mais uma herança do governo Witzel que precisa ser eliminada no nosso estado, para que possamos ter um Rio de Janeiro antirracista.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

    ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

    ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

    iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

    Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: