Vírus rico e vírus pobre – nada será como antes
"Nada iguala mais as pessoas do que doenças", escreve Helena Chagas, do Jornalistas pela Democracia. "Mas o limite da suposta igualdade acaba no vírus. Uma vez infectados, voltamos a encarar a iniquidade – que começa no atendimento a cada um", acrescenta
Por Helena Chagas, para Os Divergentes e para o Jornalistas pela Democracia - Nada iguala mais as pessoas do que doenças. Mortes, epidemias, tudo aquilo que nos faz lembrar da fragilidade de nossa condição humana. Ricos, pobres, mulheres, homens, velhos ou novos, todos podemos ser alcançados pelo coronavírus. Mas o limite da suposta igualdade acaba no vírus. Uma vez infectados, voltamos a encarar a iniquidade – que começa no atendimento a cada um.
Até agora, no Brasil, a pandemia parece estar dando preferência aos mais privilegiados, aqueles que viajaram ao exterior e retornaram infectados. E quando chegar aos pobres?
A perversidade maior do coronavírus, em sua versão brasileira, pode ser esta: em alguns dias, os doentes passarão maciçamente da excelência do Albert Einstein e outros dos melhores hospitais do país para a rede do SUS. A contaminação importada dos mais ricos passará à modalidade comunitária, na qual o vírus estará em todos os lugares , atingindo usuários do transporte público, trabalhadores, gente que não viajou.
O SUS, nosso sistema de saúde universal, é uma das melhores invenções da Constituição de 1988, um sistema igualitário, exemplo para o mundo. Sucateado como está, porém, terá sérios problemas para fazer face à pandemia. Está certo o governo quando baixa medidas provisórias dando mais dinheiro para a saúde atender ao coronavírus. Mas chega tarde. Os recursos serão usados de forma emergencial, pois não há tempo para consertar estruturas que já tinham muitas falhas e terminaram de ser desmanteladas pelas políticas liberais do governo Bolsonaro.
É interessante ver Paulo Guedes ir à TV falar nos mais pobres. Logo ele, que segundo muita gente no Congresso, nunca tinha visto um. É louvável qualquer iniciativa para proteger a economia e combater o vírus. Daí a acreditarmos que, feito isso, a pandemia se vai em alguns meses e tudo voltará a ser como antes, é muito difícil. Nada será como antes, e talvez também para Paulo Guedes e suas políticas. Se há alguma coisa que o coronavírus parece estar ensinando ao mundo é que o Estado é mais necessário do que muita gente pensava.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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