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    Florestan Fernandes Jr

    Florestan Fernandes Júnior é jornalista, escritor e Diretor de Redação do Brasil 247

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    “Vitória” e “Ainda estou aqui”: a arte representando o país

    Em “Vitória”, Fernanda Montenegro, aos 95 anos, interpreta um dos papéis mais potentes de sua carreira

    Fernanda Torres (à esq.) e Fernanda Montenegro (Foto: Divulgação)

    É temeroso ver como a milícia vem se apossando rapidamente do estado brasileiro. Seus representantes, que controlam boa parte das periferias do país e setores importantes da segurança pública dos estados, já há algum tempo vêm também estendendo seu domínio, alcançando cargos públicos, em todas as esferas da administração pública, inclusive no parlamento e poder executivo.

    No Rio, a milícia sempre foi associada a políticos do baixo clero. Há relatos das relações da família Bolsonaro com alguns desses milicianos. Um deles, Adriano da Nóbrega, foi homenageado em 2005, por iniciativa do então deputado estadual, Flávio Bolsonaro, com a medalha “Tiradentes” da ALERJ. Detalhe: o miliciano laureado recebeu a mais importante condecoração do Poder Legislativo fluminense na cadeia, pois era onde estava na ocasião.

    Como sabemos, Adriano da Nóbrega foi apontado em 2019 pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como líder de um grupo de matadores de aluguel conhecido como “Escritório do Crime”.

    Milícia, crime organizado e estado corrompido se integram e interagem numa sociedade abandonada à sua própria sorte que dia a noite tenta sobreviver às balas perdidas, aos achaques de milicianos e à truculência de PMs despreparados e venais.

    O filme “Vitória”, do cineasta Andrucha Waddington, é um retrato cruel dessa realidade que atinge boa parte da sociedade civil.

    O filme conta a história real de uma senhora solitária, moradora de Copacabana que, em 2005, consegue, com sua incansável determinação, registrar em vídeo um esquema de tráfico de drogas com a conivência corrupta de PMs.

    A protagonista do filme, Fernanda Montenegro, aos 95 anos interpreta de maneira intensa e impecável um dos papéis mais potentes de sua magistral carreira.

    O filme terminou com a plateia sentada e em silêncio por longos minutos. Um impacto ainda maior que o do premiadíssimo “Ainda estou aqui”.

    Saí da sala de exibição atordoado com a falta de perspectiva de um país capturado pelo crime organizado, milícias e entorpecido pelas mentiras e discursos de ódio do novo fascismo brasileiro. É desalentador ver que no momento em que mais necessitamos de um parlamento pronto a atender as necessidades da nação, inclusive e especialmente quanto à proposição de leis que ajudem a combater a criminalidade entranhada no próprio estado, ver a cena patética de um dos parlamentares mais bem votados do país abandonando seu mandato para fustigar a democracia e encorpar narrativas falaciosas contra o Poder Judiciário brasileiro.

    Foi patético ver a interpretação grotesca de Eduardo Bolsonaro se vitimizando de uma perseguição que nunca, nem ele e nem sua família experimentaram. É impensável, caro leitor, que alguém que se diz perseguido político possa participar de manifestações como a que vimos no domingo passado em Copacabana...  “flopada”, é verdade, mas nem de longe por qualquer entrave ou perseguição da justiça.

    Enfim, o deputado Eduardo Bolsonaro fugiu para os Estados Unidos, onde busca se aliar aos seus pares - aqueles que fazem saudações nazistas, sinais de supremacia branca e que consideram latinos uma “raça” inferior.

    Eduardo fala em direitos humanos para os golpistas do 8 de janeiro, mas em nenhum momento demonstrou empatia ou indignação pelo tratamento desumano que o governo Trump (de quem lambe as botas) proporcionou aos brasileiros deportados em condições degradantes: acorrentados, maltratados e sem direito a banheiro e comida.

    Infelizmente, o país dividido entre humanistas e fascistas é o cenário ideal para o avanço e perpetuação das milícias e do crime organizado.

    A nós, os democratas, humanistas, nos cabe repetir: ainda estamos aqui!

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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