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    Luis Mauro Filho

    Luis Mauro Filho é jornalista e editor do Brasil 247.

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    Vivemos a blitz semiótica de Donald Trump

    Presidente norte-americano usa o absurdo como violento projeto político

    Presidente Donald Trump na Casa Branca (Foto: REUTERS/Evelyn Hockstein)

    O segundo mandato do presidente norte-americano Donald Trump começou há pouco mais de cinquenta dias. Aos que acompanham a pauta internacional mais de perto, no entanto, o período parece ser bem maior do que é.

    Isso ocorre porque a tática do republicano nesta sua segunda encarnação à frente do governo dos Estados Unidos é realizar uma verdadeira blitz na discussão pública global.

    Sabendo do alcance que sua agenda tem e entendendo seu poder de pautar debates, Trump superou o simples conceito das pautas de cortina de fumaça, que por vezes distraem a imprensa e a opinião pública das decisões relevantes, e agora governa pautado pelo total absurdo.

    Na frente econômica, nem o mais atento observador da guerra comercial de tarifas consegue entender exatamente qual é o atual cenário dos conflitos. Trump avança e recua com ameaças de impostos sobre importação de commodities de parceiros estratégicos históricos, como os países da União Europeia e o Canadá. Sua estratégia não parece fazer sentido nem mesmo para ele próprio, uma vez que acaba por se desmentir em diversas oportunidades quando pressionado por mais informações sobre o que havia falado anteriormente.

    Sua briga com a China, por outro lado, é mais contida, talvez pelo potencial de ameaça real que a potência asiática representa na contemporaneidade. No entanto, as tarifas que impôs a Pequim já reverberam no mercado, podendo colocar os EUA numa situação de recessão, somada a um cenário de alta inflacionária doméstica ainda em 2025.

    Internacionalmente, seu governo sinaliza um rompimento profundo e talvez irrecuperável com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Ao ameaçar a anexação completa do Canadá e da Groenlândia, dispara contra membros da instituição, o que por si só já levaria a uma escalada militar inesperada e destruidora do bloco.

    Também protagonizou um espetáculo sem precedentes na história das relações internacionais, ao lavar roupa suja com outro chefe de Estado, neste caso o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, diante das câmeras de toda a imprensa global. Uma espécie de diplomacia disruptiva e anti-diplomática.

    É impossível não mencionar seu plano imobiliário para a Faixa de Gaza. O presidente manifestou o interesse em transformar a região, ocupada legitimamente por mais de dois milhões de palestinos, na “riviera do Oriente Médio”. Algumas semanas depois, na última quarta-feira (12), Trump recuou da posição, dando a entender que nunca havia mencionado o assunto antes.

    Há incontáveis outros exemplos cotidianos de barbaridades afirmadas e encampadas pelo presidente norte-americano nestes pouco mais de cinquenta dias à frente da Casa Branca. E é muito provável que esse seja seu padrão de atuação política ao longo do mandato, que se estende até 2028.

    Trata-se de uma estratégia de ataques agressivos e violentos. Não no âmbito militar ou material, mas no nível simbólico e cultural, provocando choque constante. Donald Trump atua sabotando a percepção de mundo que temos sobre o decoro das autoridades públicas, sobre o ordenamento político estabelecido e até mesmo sobre a hegemonia do sistema capitalista transnacional, uma vez que abala cadeias globais de produção e põe toda a segurança do sistema internacional em risco.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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