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Robert C. Koehler

Reporta para Peace Voice. Repórter e editor em Chicago por mais de 30 anos, ele orgulhosamente se autodenomina jornalista da paz. Ele ganhou vários prêmios por seus escritos e, desde 1999, escreve uma coluna nacionalmente sindicada sobre política e eventos atuais para Tribune Media Services. Seu novo livro, Courage Grows Strong at the Wound, foi recentemente publicado pela Xenos Press.

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Votando além da pseudo-democracia

Stein e os Verdes desafiam a realidade básica da política estadunidense, que se trata de clichês e mentiras

Jill Stein (Foto: Dominick Reuter / Reuters)

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Originalmente publicado pela LAProgressive em 29 de setembro de 2024

É possível expandir os objetivos desta eleição além da pseudo-democracia bipartidária da nação?

Eu tenho que escrever isso. Tenho que expressar solidariedade com todos os outros eleitores perdidos e divididos por aí, que estão lutando com a questão do momento: Em quem eu devo votar? A guerra genocida e em expansão de Israel — apoiada e fomentada por ambos os candidatos mainstream, “legítimos” — destruiu a simplicidade abstrata do processo de votação. Não temos escolha senão votar a favor do assassinato contínuo?

Ou podemos votar a partir da profundidade das nossas almas?

Entra o Partido Verde. Entra Jill Stein (novamente). Ela é inequívoca em sua objeção à cumplicidade dos EUA no massacre de Israel — em Gaza, na Cisjordânia, no Líbano. Aqui está o que ela disse, por exemplo, em uma entrevista ao Middle East Eye. Quando perguntada qual seria o seu plano — se eleita — para os primeiros cem dias no cargo, ela disse:“Eu pego o telefone e a guerra genocida acaba. A Casa Branca tem controle absoluto sobre Israel porque não há como Israel sobreviver 24 horas aqui sem o apoio dos EUA.”

Mais tarde, na entrevista, ela observou: “Eu me oponho à guerra em Gaza como um símbolo do império, que está em seus últimos dias, e precisamos fazer a transição para um mundo multipolar, em vez de tentar ser o poder unipolar, único dominante ao redor do mundo, para nós estarmos envolvidos em confrontos militares ao redor do mundo, a fim de manter o poder único, quando já não somos mais a única potência econômica.”

Transcendendo o Deus da Guerra

Não-o-o! Um candidato não pode falar assim! Sinto uma onda imediata de cinismo. Isso é idealismo, não realidade política. Ainda não aprendeu isso? A política estadunidense não trata-se de valores bonzinhos, como essa simples verdade no site do Partido Verde:“Não há paz sem justiça. Precisamos de um cessar-fogo imediato, do fim do massacre em Gaza e da libertação completa de tanto os reféns israelenses mantidos pelo Hamas e quanto dos reféns palestinos mantidos em prisões israelenses. Mas para garantir um cessar-fogo permanente e o fim da ocupação ilegal de Israel na Palestina, devemos assumir a responsabilidade por esses crimes de guerra.”

Stein e os Verdes desafiam a realidade básica da política dos EUA, que consiste de clichês e mentiras. Decisões geopolíticas reais — em obediência às entidades corporativas controladoras — são tomadas a portas fechadas. O público estadunidense recebe uma palmadinha verbal na cabeça, cujo objetivo é transcender todas as notícias angustiantes. Assim, como Kamala Harris declarou repetidas vezes: “Sou inequívoca e inabalável no meu compromisso com a defesa de Israel e a sua capacidade de se defender.”

E então ela acrescenta, para apaziguar todos aqueles irritados eleitores anti-genocídio: “Muitos palestinos inocentes foram mortos.” Claro, mudando para a voz passiva. O Hamas cometeu atrocidades em 7 de outubro — mas e as milhares de crianças palestinas mortas nos escombros, milhares aterrorizadas e famintas, sem acesso a cuidados médicos, água limpa ou um lugar para viver — bem, isso simplesmente aconteceu de alguma forma. E sobre essas palavras: “muitos palestinos inocentes”? Elas parecem implicar que um número não especificado de palestinos inocentes mortos está tudo bem.

O Que Exatamente Kamala Ganhou?

E, ah sim, o governo Biden continua fornecendo a Israel bilhões de dólares em armas, não importa o que ele faça, permitindo passivamente que o genocídio continue e que a guerra se espalhe. Israel pode fazer o que quiser; tem impunidade. Harris tampouco expressou ter qualquer problema com isso.

Mas, como aparentemente a maioria dos eleitores sabe, Harris e os democratas, não importa a sua posição sobre Israel, são muito, muito melhores do que Donald Trump, o maior mal desta eleição e a verdadeira razão pela qual os democratas devem vencer. Não só Trump é o bom amigo e o candidato preferido de Benjamin Netanyahu, ele é absolutamente louco em uma notável variedade de questões: de “enforquem Mike Pence” a imigrantes haitianos “comendo os animais de estimação” dos moradores de Springfield, Ohio.

E em relação à eleição atual, Trump disse: “Agora, se eu não for eleito, vai ser um banho de sangue. Isso vai ser o mínimo. Vai ser um banho de sangue para o país.”

Trump pode ganhar, não importa o quê, mas aparentemente ele está um pouco atrás de Harris nas pesquisas. Assim, os democratas — incluindo os seus apoiadores relutantes — clamam com desespero que estadunidenses sãos têm que votar em Harris. Votar nos Verdes é virtualmente o mesmo que votar em Trump.

Ah, o paradoxo! Em certo sentido, tem sido assim por grande parte da minha vida. A primeira eleição em que eu tinha idade suficiente para votar (a idade para votar era então 21) foi Nixon vs. Humphrey. Eu era um fervoroso militante contra a guerra do Vietnã e optei por não votar, achando que não havia uma diferença real entre os candidatos. Mas rapidamente comecei a me arrepender dessa decisão, à medida que a presidência de Nixon dominava o país; prometi nunca mais deixar de votar em uma eleição, nacional ou local, e mantive esse compromisso.

Além dos Clichês do Estado Está a Pérola Azul

Mas hoje o paradoxo eleitoral está consumindo a alma da nação. Nos levantamos e votamos pela sanidade, pelo candidato que diz: “Não há paz sem justiça”? A enormidade dessa escolha não pode ser ignorada. Não podemos votar pela evolução da nação além da violência, especialmente à medida que a crise climática se intensifica?

“Acho que é muito importante que as pessoas não aceitem a sua impotência”, disse Stein na entrevista. “Estão dizendo a você que você é impotente. Na verdade, você não é impotente. Você é poderoso. Ninguém é dono do seu voto. Eles têm que ganhar o seu voto. E a menos que você os faça ganhar o seu voto, você é impotente.”“...E o que você vê”, ela continua, “é o que você vai ver mais. Ao longo da história, fazemos progresso quando nos levantamos como movimentos, e esses movimentos então têm veículos políticos.”

Então deixo penetrar em mim essas palavras. Isso é maior do que uma eleição. Apenas um movimento — tanto espiritual quanto político — pode nos empurrar além das guerras atuais e impedir que aconteçam futuras guerras, incluindo guerras nucleares. Não há paz sem valorizar todas as vidas humanas.

Qual é o estado desse movimento no momento presente? Harris começará a transcender a sua capitulação militar (e ganhar os nossos votos)? Um voto em Stein fará mais do que ajudar Trump?

Eu deposito meu voto para...?

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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