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André Gattaz

Jornalista, historiador e editor. Doutor em História Social pela USP. É autor de "A Guerra da Palestina" (Usina do Livro, 2003) e editor da Editora Pontocom

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Voto de protesto nos Estados Unidos

Eleições primárias nos EUA acendem sinais de alerta para os dois candidatos

Trump e Biden (Foto: Reuters)

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Os resultados das eleições primárias realizadas em diversos estados na “super terça-feira” carimbaram a escolha de Joe Biden e Donald Trump para representarem seus partidos na eleição presidencial de novembro. 

Alguns sinais de alerta, entretanto, foram acesos nas duas campanhas, atentas a uma eleição presidencial com uma característica quase inédita: um ex-presidente candidato a um novo mandato após ter sido derrotado na eleição anterior (o que ocorreu apenas quatro vezes, sendo que apenas uma vez este candidato foi vencedor – Grover Cleveland, em 1892). Por outro lado, a história mostra que presidentes em exercício que tiveram sua candidatura desafiada dentro do próprio partido acabaram não sendo reeleitos – como foi o caso com George Bush, desafiado por Pat Buchanan e derrotado por Bill Clinton em 1992, ou com Jimmy Carter, desafiado por Ted Kennedy e derrotado por Ronald Reagan em 1980, entre outros. E embora Trump não seja um presidente concorrendo à reeleição, seu retorno após quatro anos nos permite fazer tal comparação. 

O fato é que apesar de já ter conquistado 1059 delegados, contra apenas 90 de Nikki Haley, a desafiante tem obtido consistentemente cerca de 30% dos votos nos estados em que houve primárias – o que não se reflete em delegados devido à política de “o vencedor leva tudo” (winner taks all) que rege as eleições e as primárias na grande maioria dos estados.

Nikki Haley, ex-governadora da Carolina do Sul e ex-embaixadora dos EUA na ONU durante dois anos no governo Trump, obteve seus votos especialmente entre a população educada dos subúrbios das grandes e médias cidades – cidadãos cansados do estilo não presidencial e autoritário de Trump, que em pesquisas de boca de urna (à proporção de 70 a 80%) recusaram-se a declarar apoio ao ex-presidente, e podem migrar para Biden ou rumo à abstenção. Além disso, deve-se considerar o efeito que podem desempenhar os quatro processos criminais em que Trump é indiciado. 

Por outro lado, a situação de Joe Biden não é menos preocupante. Embora os dados econômicos revelem que o país está em crescimento e o desemprego em baixa, a extrema concentração de renda e a inflação não permitem à maioria da população trabalhadora ter a sensação de melhoria econômica. Além disso, o apoio explícito a Israel na promoção da guerra de limpeza étnica na Palestina, com o fornecimento de armas e o apoio diplomático, vem alienando uma grande parte da população jovem estadunidense, além da população de origem árabe, que obviamente posiciona-se contra a política de Biden e vem promovendo a votação em “Não comprometido” (uncommited) nas primárias. Assim como para Trump, essa votação (variando entre 15 e 20% nos estados) não ameaça os delegados necessários para que seja indicado como candidato do partido, mas fragiliza sua candidatura. Neste caso, o aspecto positivo (ou menos negativo) é que os eleitores desencantados quanto à política pró-sionista de Biden podem ter certeza que a de Trump é ainda pior, não apenas com o apoio explícito a Israel, mas também com a desumanização dos palestinos (o que Biden evita). Neste sentido explica-se a recente ajuda humanitária enviada pelo governo estadunidense aos cidadãos palestinos, que enfrentam uma crise humanitária sem precedentes em Gaza. Uma operação de marketing destinada a aplacar o descontentamento daqueles que votaram “não comprometidos” nas primárias, e que não esconde a realidade de que permanece o apoio militar e diplomático do governo de Joe Biden à limpeza étnica promovida por Israel.

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