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    Toninho Kalunga

    Ex-vereador do PT em Cotia. Foi coordenador Estadual de Formação Política do Diretório Estadual do PT/SP. Cristão católico ligado aos Orionitas no Santuário São Luís Orione

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    Walter Delgatti e a estranha ação daquilo que não se vê e não se explica na história humana

    Alguém que não tinha nem uma relação com o poder reinante, derrubou o sistema político construído pela extrema direita e fascistas

    Hacker Walter Delgatti em depoimento à CPMI dos Atos Golpistas (Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado )

    Coisas estranhas acontecem na vida humana todos os dias. Uma pequena parte dessas estranhezas se tornam fatos históricos, que, de tão importantes, não conseguimos explicar na lógica, então, se diz que foi sorte ou azar, que foi um acaso ou obra do destino e por aí vai.

    Mas, como isso não explica nem convence, uma das formas que gosto de usar para compreender tais fatos é o uso da etimologia da palavra, assim, através das origens podemos chegar mais perto do entendimento destes fenômenos.Neste sentido, vamos ao significado da palavra “estranho”. Estranho vem do latim “extraneu”- que significa: exterior, de fora; que não pertence à família.

    Ou seja, alguém que ninguém imaginava, que estava fora de todo o sistema, que não tinha nem uma relação com o poder reinante, derrubou todo o sistema político, construído pela extrema direita e fascistas, que se instalou no Brasil nos últimos 6 anos

    Assim sendo, Delgatti é uma pessoa estranha em vários sentidos! Pessoalmente, é um homem simples, um cidadão dos mais comuns, alguém que a sabedoria popular costuma dizer que “ninguém dá nada por ele”.

    Sendo visto como um comum também é, antagonicamente, uma figura humana complexa, com uma história de vida cheia de perdas, pois se vê de longe, como alguém introspectivo, tímido, “na dele”. É daquelas pessoas que se diz que não faria mal a ninguém. Mas por trás disso tudo, há um gênio.

    Um cara que passaria despercebido em qualquer lugar. Alguém que sentaria ao seu lado em um ônibus, e mal se notava sua presença ou se fosse um profissional de qualquer área, lhe serviria e depois de alguns dias, não se teria muita lembrança de suas feições. Ele parece querer estar sempre escondido ou se escondendo de tudo.  

    Na outra ponta, dois homens poderosíssimos de nossa história recente e ao contrário deste, faziam de tudo para serem protagonistas e aparecer. A busca e o gosto pelo poder eram suas grandes marcas. Gente que tem como característica, exatamente o inverso de Valter Delgatti.

    Eram dois Golias, Sergio Moro e Jair Bolsonaro, vistosos gigantes da política fascista, que amedrontavam e se posicionavam a pouco mais de 8 anos atrás, como as duas figuras mais proeminentes da extrema direita política nacional e personificavam o que havia de mais poderoso em nosso país, tendo como único adversário capaz de derrotá-los em 2018, Lula.

    Havia também o séquito dos capachos. Os subalternos ocupavam o lugar de limpar a cadeira onde os dois se sentavam, em troca de medíocres nacos de poder, distribuídos para membros do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, ligados à Lava Jato. Uma vergonha. Uma nódoa na atividade destas instituições fundamentais da nossa democracia.

    Junto a estes, uma das mais tenebrosas páginas da religiosidade cristã brasileira está sendo escrita nestes momentos. Lideranças evangélicas e católicas, perfilaram-se ao lado do que tem de mais contraditório com a mensagem do cristianismo e do Evangelho. Ai, juntou de tudo: Defensores de pena de morte, defensores de assassinatos em série, defensores do armamentismo em massa, defensores da destruição da natureza, das matas, das águas, da exploração sem limites dos minerais, defensores do exterminio das populações indígenas, ribeirinhos, extrativistas, posseiros, sem terra, sem teto e pobres em geral, moradores das periferias humanas e existênciais.

    Manipulam a Palavra de Deus, usando a Bíblia para justificar atrocidades mil. Um dos exemplos mais explícitos foi Silas Malafaia (mas não o único). Este, chegou a usar um dos mais belos trechos da Carta de São Paulo Apóstolo à comunidade de Coríntios, 1,27-28

    27Mas Deus escolheu o que é loucura no mundo, para confundir os sábios; e Deus escolheu o que é fraqueza no mundo, para confundir o que é forte. 28E aquilo que o mundo despreza, acha vil e diz que não tem valor, isso Deus escolheu para destruir o que o mundo pensa que é importante. Na ocasião, Silas Malafaia, dizia que esta passagem bíblica era dirigida, não aos pobres e desvalidos, mas a Jair Bolsonaro, o mais poderoso homem da República. Acreditaram, assim, que poderiam usar o nome de Deus para praticar barbaridades e manipular o nome de Deus para defender suas barbaridades;

    Às vezes penso que existe uma certa ironia nas respostas de Deus para os poderosos. Será se existe um texto bíblico mais explicitamente claro com relação a Sérgio Moro, Dallagnol, Jair Bolsonaro, seu exército e Valter Delgatti? Se não, vejamos:

    Aos que, assim como eu, acreditam na ação de Deus no decorrer da história humana, pode claramente, enxergar neste  momento histórico esta ação acontecendo. Estes homens, - Bolsonaro e Moro - usaram e abusaram do nome de Deus para praticar atrocidades.

    Sérgio Moro como coadjvante, mas, tão ou mais sedento de poder que Jair Bolsonaro, que por sua vez, jamais havia se posicionado como homem religioso antes de sua eleição para presidente da república. Os dois passaram a frequentar templos religiosos e serem recepcionados como enviados de Deus, quando não, era visto como Mito, onde havia verdadeiro incentivo à idolatria de um homem. Dúvida? Vá numa destas igrejas e diga que o Mito é um ladrão. A resposta lhe dará dimensão do tamanho do estrago que estes pastores fizeram em suas comunidades.

    Os dois manipularam mentes e corações de metade do povo brasileiro, usando como chave para abrir estes corações e mentes, em larga medida o nome de Deus, inaugurando um modelo de cristianismo sem Jesus Cristo e sem Evangelho, realizado por um grupo de líderes evangélicos e católicos que abriram mão do amor aos pobres e colocaram no lugar o capitalismo, o poder e o lucro como sendo seu reino.

    O primeiro, prendeu pessoas com acusações que não se sustentam num processo que respeitasse a lei, o Juiz ladrão com seu puxa saco de estimação no Ministério Público e os asseclas da PF, querendo cargos e poder, mesmo sabendo que aquilo era injusto, diziam agir em nome de um deus, cujas missões era punir sem provas, interferir no processo democratico e calar opositores e assim prenderem e tiraram Lula da disputa presidencial daquele ano de 2018.

    O segundo, Jair Bolsonaro, é produto cuspido e escarrado por essa gente ligada ao primeiro. O resultado disso que foi parido, a partir da junção da mentira de Bolsonaro e da injustiça de Sérgio Moro, nutrida pelo lafware, (nome pomposo de perseguição judicial e policialesca), contra os interesses dos mais pobres com apoio integral dos grandes conglomerados econômicos, midiático e empresarial.

    Num cristianismo estilo livre, ou freestyle, - para os mais jovens -, atentaram contra Deus e contra a fé do povo brasileiro, expondo um discurso que nada tem de relação com os ensinamentos  cristãos.

    E, em nome deste suposto deus, grandes aglomerações de pessoas em plena pandemia foram incentivadas a se juntar. E mataram pessoas de forma direta, dizendo ser representantes deste deus, quando negaram a existência de uma doença que para uma parcela dos acometidos pelo mal, tinha como desfecho a fatalidade da morte ou sequelas que permanecerão enquanto viver.

    E eis que do nada, quando quase tudo parecia perdido, um certo hacker, movido por uma indignação pessoal, acessa as mensagens dos telefones destas pessoas e a partir deste acesso, destrói primeiro os pés da injustiça que sustentava essa mentira. E a república de Curitiba começa a cair. E destruída está. E adivinha quem o Procurador chefe da Lava Jato estava nessa engrenagem? Um cristão freestyle.

    O tempo passa e eis que o coração endurecido de Jair Bolsonaro, cravejado de pecados contra Deus e contra o povo brasileiro, resolve falar justamente com quem?? Sim… com Valter Delgatti. Uma espécie de Davi sem reinado, mas com uma mira admirável!

    A história está sendo contada. Mas raramente nossa geração poderá testemunhar tão de perto o significado da oração de Nossa Senhora no maravilhoso Magnificat:

    "A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que O temem.

    Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos.

    Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias." (Lucas 1,50-53).

    Por isso, enxergar o que parece estranho é algo que somente os que crêem podem compreender. Então, pastor Silas Malafaia tem muito do que se envergonhar: afinal, Deus escolheu o que para o mundo é loucura para envergonhar os sábios e escolheu o que para o mundo é fraqueza para envergonhar o que é forte.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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