Zefinha: a fofoqueira do bairro
Como acontece com qualquer pessoa que mente, chega o dia em que a conta é cobrada
Zefinha era a esposa de Chico das Quatro Rodas, o dono do único ferro-velho do bairro, frequentemente visitado pelas autoridades. Recordo-me de que ele foi conduzido amigavelmente à delegacia umas três vezes, da última vez voltando com alguns hematomas no rosto. Ele alegou ter escorregado na escada que levava ao primeiro andar do estabelecimento policial.
Sua esposa, por outro lado, era uma precursora na propagação de fofocas, que os incautos consumiam como verdade. Era a típica fofoqueira do bairro. Todos os dias ela tinha algo para contar sobre a vida alheia. Ninguém, exceto sua família, escapava da língua afiada dela. E qualquer um que ousasse desmentir suas histórias era vítima de sua fúria à luz do dia.
Então, um dia, no final dos anos 90, Zefinha, que já estava de olho em Aparecida, a filha de Mané da Tapera, começou a espalhar uma história que iria mudar o destino do bairro. Ela passou a contar que a garota não era exatamente um exemplo de virtude. Isso mexeu com todos que conheciam as duas. No entanto, ninguém acreditou em Zefinha, o que a deixou furiosa.
Afinal, Cidinha era uma moça recatada, indo da casa para a escola e vice-versa. Não havia indício algum de qualquer comportamento inadequado por parte dela. As negações sobre a garota frequentando esquinas deixaram Zefinha possuída de raiva. Ela jamais admitiria estar mentindo ou disseminando falsidades.
Zefinha envolveu todos os moradores do bairro em sua história. Cada pessoa que ela tentava convencer da fofoca era confrontada com argumentos em defesa de Cidinha, e isso só fazia Zefinha inventar novos detalhes para sustentar suas mentiras.
Chegou um ponto em que até o Padre da igreja do bairro foi arrastado para a história. Zefinha, para dar mais credibilidade às suas falsidades, afirmou ter visto Cidinha entrando na Cúria Diocesana, insinuando que algo acontecia entre eles. Esse foi o grande erro de Zefinha em sua longa carreira de mentiras. O Padre Pedro, todos sabiam, exceto ela, não tinha interesse pelo sexo feminino, e isso nada tinha a ver com seu celibato.
Como acontece com qualquer pessoa que mente, chega o dia em que a conta é cobrada. Zefinha, antes vista como uma mera fofoqueira, foi acusada de falso testemunho e recebeu a visita de um oficial da justiça. Ela teve que assinar uma convocação para comparecer ao tribunal e explicar suas afirmações. No dia da audiência, Zefinha foi vista chorando antes mesmo de entrar na sala da juíza. Ela saiu de lá com a obrigação de pedir desculpas à família de Cidinha e desmentir publicamente suas difamações. Ela usou o sistema de som da Mira Mar, utilizado pela comunidade e que tinha alto-falantes nos postes do bairro.
Desmoralizada, Zefinha decidiu se mudar. Ela foi vista em outra localidade, e dizem que ela mudou de residência, mas seus hábitos continuam os mesmos. Agora, ela tem um celular em mãos, usa camisas da seleção brasileira e está mais ativa nas redes sociais, com a ajuda do neto. Ela também foi vista em frente ao quartel do exército, reunida com seus novos amigos.
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