“A crise climática agrava a insegurança alimentar no Brasil”, alerta pesquisadora
Para Mónica Rocha, do Instituto Comida do Amanhã, o impacto de eventos extremos, compromete não apenas a produção, mas também a logística de abastecimento
Beatriz Bevilaqua, 247 - A alimentação é um dos pilares fundamentais da sociedade, influenciando não apenas a saúde da população, mas também questões econômicas, ambientais e sociais. No Brasil, um dos maiores produtores de alimentos do mundo, ainda há desafios significativos no acesso a uma alimentação de qualidade e na sustentabilidade dos sistemas alimentares.
No último episódio do programa “Brasil Sustentável”, da TV 247, recebemos Mónica Rocha, cofundadora do Instituto Comida do Amanhã, think tank dedicada a fomentar mudanças estruturais na forma como o país lida com sua produção, distribuição e consumo de alimentos, com foco especial nas cidades.
Mónica é portuguesa radicada no Brasil há 14 anos, tem formação em arquitetura e mestrado em planejamento e gestão urbana. Sua trajetória profissional foi marcada por sua atuação na ONU Habitat no Rio de Janeiro, onde despertou um forte interesse pelo Terceiro Setor. "No Brasil, compreendi a correlação profunda entre alimentação, justiça social e mudanças climáticas", destacou Rocha.
O Instituto Comida do Amanhã nasceu oficialmente em 2018, a partir do trabalho dela e suas colegas Francine Xavier e Juliana Tângari. Seu objetivo é qualificar o debate público e influenciar políticas alimentares, buscando assegurar o direito universal à alimentação dentro dos limites planetários. "Não basta entender o que é uma comida boa, é preciso ter políticas que garantam acesso equitativo a ela", afirmou.
Durante a conversa, Mónica ressaltou a ausência do tema alimentação no ensino de arquitetura e urbanismo, o que considera uma lacuna significativa. "As cidades são desenhadas sem considerar como a comida circula por elas. Essa é uma peça essencial que precisa ser encaixada”, enfatiza.
A crise climática foi apontada como um fator que agrava a insegurança alimentar no Brasil. O impacto de eventos extremos, como enchentes no Rio Grande do Sul e queimadas na Amazônia e no Pantanal, compromete não apenas a produção, mas também a logística de abastecimento. "Quando falamos de sistemas alimentares, não estamos tratando apenas da comida no prato, mas de todo um conjunto de processos que afetam a disponibilidade e a qualidade do que consumimos."
Mónica também chamou atenção para o paradoxo do Brasil, um dos maiores produtores de alimentos do mundo, que ainda enfrenta altos índices de fome. “Apesar dos avanços das últimas décadas, os desafios persistem. Temos todas as condições de erradicá-la, mas falta vontade política e estrutural das cidades."
O Instituto “Comida do Amanhã” trabalha com duas grandes frentes: a qualificação do debate público e a incidência em políticas públicas. Produz materiais gratuitos, promove debates intersetoriais e mantém uma forte presença digital para levar informação a um público mais amplo. "Precisamos desempacotar a complexidade do sistema alimentar e mostrar que todas as pessoas são agentes de transformação", explica.
Assista a entrevista na íntegra:
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