“As periferias precisam estar na pauta sobre mudanças climáticas”, diz ONG
Amanda Costa, do Instituto Perifa Sustentável, diz que a sustentabilidade já faz parte do cotidiano, mas precisa ser fortalecida nas periferias
Beatriz Bevilaqua, 247 - Os impactos das mudanças climáticas afetam de forma desproporcional as populações mais vulneráveis, como as comunidades em situação de pobreza, povos indígenas e países do Sul Global, que, historicamente, contribuíram menos para as emissões de gases de efeito estufa. Enquanto os 10% mais ricos do mundo são responsáveis por quase metade das emissões globais de CO₂, as regiões mais afetadas por desastres climáticos, como secas e enchentes, são as menos responsáveis pelo agravamento deste cenário.
Amanda Costa, ativista climática e fundadora do Instituto Perifa Sustentável, é uma das vozes que tem se empenhado para democratizar o debate climático nas periferias do Brasil. "Acredito que a sustentabilidade já faz parte do nosso cotidiano, mas precisa ser reconhecida e fortalecida nas periferias", afirma. Com uma formação sólida em Relações Internacionais e uma grande paixão pela causa ambiental, Amanda tem se empenhado, ao lado de sua equipe, em criar um futuro mais inclusivo para as periferias brasileiras.
“Eu sou da Brasilândia e sempre estive conectada ao meu território e à minha comunidade. E essa conexão com o lugar onde cresci sempre foi uma motivação para devolver ao meu bairro tudo que aprendi e contribuir com transformações sociais”, compartilhou Amanda. A paixão pela justiça ambiental de Amanda não é algo recente. Ela lembra com carinho de sua infância: “Desde pequena, sempre fui uma amante da natureza. Quando ia para a praia com meus pais, sempre pedia uma sacolinha e ia pegando os resíduos, porque tinha uma relação muito forte com o planeta e com a vontade de cuidar dele.”
Porém, foi em 2017, enquanto cursava a universidade, que seu despertar para as questões climáticas aconteceu de fato. Durante um projeto de iniciação científica sobre multilateralismo nas agendas ambientais, Amanda teve a chance de participar da COP23, na Alemanha. Essa experiência foi fundamental para sua jornada como ativista. “Foi um choque cultural, tanto de empolgação quanto de desconforto. Eu vi um cenário de uma conferência que, até então, parecia distante e inacessível para pessoas como eu, da periferia”, conta Amanda.
Esse desconforto inicial fez com que Amanda refletisse sobre as desigualdades estruturais. Ela se viu representando uma parte da sociedade que, muitas vezes, não têm voz nos grandes fóruns internacionais. “Eu me incomodei ao ver que a maior parte das pessoas representando países do Sul Global eram brancas, de classe média ou alta. Eu, como mulher periférica, não me via representada ali. Mas também vi a oportunidade de fazer a diferença, de levar a voz das periferias para dentro desses espaços”, completou.
Fundação do Instituto Perifa Sustentável
Após essa experiência, Amanda fundou o Instituto Perifa Sustentável, junto com suas parceiras Mahryan Sampaio e Gabriela Santos. O instituto nasceu com o propósito de democratizar a pauta climática e levar a mobilização ambiental para as comunidades periféricas e favelas.
O Perifa Sustentável atua nas frentes de incidência política, ações territoriais e comunicação. “Nós buscamos influenciar os tomadores de decisão, mostrar que as periferias também precisam estar na conversa sobre políticas públicas e mudanças climáticas. Também promovemos ações locais e territoriais, incentivando a sustentabilidade dentro das próprias comunidades. E, claro, investimos na comunicação e educação ambiental, para que as pessoas possam entender e engajar-se no movimento de forma concreta”, explica Amanda.
Em 2024, o Instituto Perifa Sustentável realizou um projeto que envolveu 11 jovens da periferia, com o objetivo de capacitá-los para influenciar as decisões políticas locais. Os jovens participaram de workshops sobre mudanças climáticas, racismo ambiental e como trabalhar com os tomadores de decisão para implementar políticas verdes. “Eles aprenderam a construir campanhas para influenciar os candidatos durante as eleições e, ao final, tiveram a oportunidade de se encontrar com figuras políticas, como os deputados Sâmia Bomfim e Guilherme Boulos, para discutir o futuro verde de São Paulo”, disse Amanda.
Reflexões sobre a justiça climática e ambiental
O projeto de Amanda não se limita apenas a ações práticas, mas também envolve reflexões sobre a história social e ambiental do Brasil. Em sua fala, ela ressalta que a justiça climática não pode ser separada das questões históricas de colonização e escravização que ainda impactam a sociedade brasileira. “A gente precisa revisitar nossa história, entender os processos de colonização e como o Brasil foi enriquecido por meio da exploração do povo negro e indígena. A pobreza e a falta de infraestrutura das periferias são reflexos desse processo histórico”, afirma.
Ela também destaca a importância de reconhecer o saber ancestral das populações periféricas. “Muito do conhecimento ambiental de hoje já está nas comunidades, especialmente entre as mulheres negras periféricas, que sempre viveram de maneira sustentável. Mas, por muito tempo, essa narrativa foi apagada e transformada em uma visão elitizada da sustentabilidade”, comenta.
Para Amanda, é essencial que as soluções para os problemas climáticos passem a olhar para as periferias com mais empatia e entendimento. “Muitas vezes, o poder público não se preocupa com as realidades da periferia, e as soluções verdes parecem distantes da nossa realidade. Mas a verdade é que é na periferia que se podem encontrar grandes soluções. Os saberes ancestrais e tradicionais têm muito a ensinar”.
Ao longo de sua jornada, Amanda tem enfrentado os desafios da construção de um movimento sustentável no Brasil, mas também tem sido movida por um grande sonho: transformar as periferias em lugares não apenas de sobrevivência, mas de prosperidade verde. “É sobre isso que é o Perifa Sustentável. O sonho de criar um futuro verde e justo para todos, sem excluir quem mais precisa”, finaliza.
Amanda Costa e o Instituto Perifa Sustentável são exemplos de como a mobilização da juventude das periferias pode impactar positivamente a luta pela justiça climática. Por meio da educação, ativismo e um olhar crítico sobre o passado e o presente, é possível transformar realidades e construir um futuro mais sustentável para todos.
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