TV 247 logo
      HOME > Brasil Sustentável

      Brasil lidera em energia solar e eólica e precisa enfrentar gargalos na descarbonização, defende especialista

      Ricardo Baitelo atribui parte do sucesso do setor de geração de energia limpa ao papel de instituições de fomento, como BNDES e BNB

      Ricardo Baitelo, gerente de projetos do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) (Foto: Reprodução/ABDI | Divulgação )

      247 - O Brasil desponta como líder na transição energética global, com destaque para o crescimento de fontes renováveis como solar e eólica, afirmou Ricardo Baitelo, gerente de projetos do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), em entrevista à TV 247, o setor elétrico brasileiro é altamente avaliado por investidores, graças ao amplo histórico de dados e informações confiáveis que facilitam a tomada de decisão. Além disso, as fontes como solar e eólica têm se destacado pela inovação nos modelos de negócio. "No caso da solar, com a energia distribuída, temos uma presença democrática: todos os estados brasileiros possuem instalações, e há uma competição saudável entre polos do Sul e Sudeste", afirma Baitelo. Ele também destacou o papel do mercado livre, que permite negociações diretas entre compradores e vendedores, e a solar por assinatura, onde consumidores podem adquirir energia de usinas remotamente.

      Ricardo Baitelo atribui parte do sucesso do setor de geração de energia limpa ao papel de instituições de fomento, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco do Nordeste (BNB), que ofereceram condições de financiamento especiais para projetos eólicos e solares, reduzindo custos e promovendo competitividade. O apoio dos bancos públicos impulsionou o modelo brasileiro de expansão das energias renováveis, que hoje é visto como referência na América Latina, onde países parceiros buscam replicar a experiência para acelerar suas próprias transições energéticas. "Criamos um ambiente propício e um modelo de sucesso que é compartilhado com nossos vizinhos, ajudando a impulsionar a descarbonização na região", afirma. 

      Segundo ele, o país se diferencia por combinar uma matriz energética majoritariamente renovável com políticas públicas bem estruturadas e atração de investimentos. “Das grandes economias, não há ninguém como o Brasil com essa participação de renováveis, tanto na matriz elétrica quanto na energética”, destacou.

      Baitelo apontou que o Brasil está alinhado com metas internacionais, como a da COP28, de triplicar a geração de energias renováveis. Em 2023, o Brasil foi o terceiro maior país em crescimento solar, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. O especialista atribuiu o desempenho a fatores como o histórico de investimentos em biocombustíveis e o potencial para hidrogênio verde, além de políticas públicas consistentes. Ele destacou o papel do BNDES e do Banco do Nordeste na expansão das fontes eólica e solar. 

      Energia limpa com inclusão social e econômica

      A expansão da geração de energia limpa levanta preocupações com a integração das comunidades locais para garantir que os benefícios econômicos sejam amplamente distribuídos e promovam o desenvolvimento sustentável da região. Um estudo dos pesquisadores ​Ricardo Martini, Daniel Grimaldi e Marília Jordão, publicado em 2024 pela editora do BNDES, sobre os impactos das usinas eólicas nos municípios brasileiros mostrou que os principais efeitos econômicos estão associados à mobilização de recursos durante a construção dos parques, com aumento do PIB per capita entre 3,3% e 10,1% nos primeiros anos. Contudo, esse crescimento tende a ser temporário e depende de altos investimentos, o que evidencia a necessidade de estratégias adicionais para prolongar os benefícios às populações locais. A inclusão das comunidades, por meio de arrendamentos justos de terras e capacitação profissional, pode transformar os moradores em participantes ativos da cadeia de valor.

      Ricardo Bitelo defende que a transição energética deve ser “justa”, beneficiando trabalhadores e comunidades impactadas pelos projetos. Ele citou a integração de energia solar e eólica com atividades agrícolas, como exemplos de uso eficiente do solo. “É possível conciliar geração de energia com cultivo, como já ocorre no Parque Eólico de Osório, onde há plantação de arroz e criação de ovelhas.” Ainda assim, Baitelo reconheceu desafios, como a inclusão de pequenos produtores na cadeia econômica da energia limpa e o fortalecimento do diálogo com comunidades locais. 

      Desafios no transporte e no petróleo

      No setor de transportes, o Brasil ainda depende fortemente do diesel, apesar do avanço no uso de biocombustíveis. Para Baitelo, a eletrificação dos veículos é um caminho promissor, mas exige investimentos robustos em infraestrutura e redução do custo de tecnologias. “A eletrificação já é uma realidade em países como os Estados Unidos, mas no Brasil precisamos vencer barreiras econômicas e tecnológicas.” Ele também frisou a importância de um planejamento estratégico para reduzir a dependência do petróleo sem causar impactos sociais negativos, como o aumento de tarifas. “A transição precisa ser coordenada para evitar efeitos colaterais graves.”

      Financiamento e cooperação internacional

      Ricardo Baitelo acompanhou as negociações da COP29, realizada em Baku, Azerbaijão, que encerrou-se no dia 24 com a aprovação de um acordo que estabelece a Nova Meta Quantificada Coletiva (NCQG) de financiamento climático. O texto determina que os países desenvolvidos forneçam, no mínimo, US$ 300 bilhões anuais até 2035 para apoiar nações em desenvolvimento na mitigação de emissões e adaptação climática. O objetivo é alcançar US$ 1,3 trilhão por ano até o mesmo prazo, utilizando recursos de fontes públicas e privadas. No entanto, o valor acordado foi criticado como insuficiente por países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, que defendem a necessidade de um financiamento anual de US$ 1,3 trilhão como ponto de partida.

      Para Baitelo, a definição de quem arcará com os custos da transição energética é crucial para cumprir os compromissos de descarbonização do Acordo de Paris. "Não é um valor de bilhões, é um valor de trilhões, e o que está se buscando é esse número, que precisa vir em condições favoráveis, como doações e não empréstimos", afirmou. Baitelo também enfatizou o papel histórico do Brasil como mediador em diálogos multilaterais e a importância de limpar a pauta para evitar sobrecarga na próxima COP, que será realizada em Belém. Segundo ele, o Brasil tem condições de liderar a agenda climática internacional, especialmente com a COP30 prevista para ocorrer no país. “Temos um modelo de sucesso que pode ser compartilhado com outras nações, mas precisamos continuar avançando com planejamento e inclusão.”

      Assista à entrevista na íntegra: 

      ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

      ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

      iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

      Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: