Caminhões e ônibus elétricos avançam lentamente no Brasil. Sistema de fomento é chave para destravar ampliação
Aliados do meio ambiente, ônibus e caminhões elétricos representam apenas 0,6% do total da frota licenciada em 2024
Por Guilherme Levorato, 247 - Enquanto veículos leves e comerciais com motores elétricos já têm sido vistos com mais frequência nas ruas do país, ônibus e caminhões elétricos ainda avançam timidamente, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Se os veículos leves e comerciais elétricos, híbridos e híbridos plugin já representam 7,2% do total de veículos licenciados da categoria em 2024, ônibus e caminhões ainda são apenas 0,6%. No entanto, a tendência é de alta.
Em 2021, a participação de ônibus e caminhões elétricos no licenciamento total de veículos deste tipo era de apenas 0,2%. Em 2022, avançou para 0,5%, recuou para 0,4% em 2023 e, até julho de 2024, representa 0,6%.
Eletrificação e meio ambiente
Os veículos elétricos (VEs) desempenham um papel crucial na preservação do meio ambiente e sua adoção crescente é vista como um passo importante para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e reduzir a poluição do ar.
Veículos elétricos, ao contrário dos movidos a combustíveis fósseis (como gasolina e diesel), não emitem dióxido de carbono (CO₂) - um dos principais gases responsáveis pelo aquecimento global - diretamente durante o uso. Veículos a combustão também emitem poluentes como óxidos de nitrogênio (NOₓ), monóxido de carbono (CO), partículas (PM₁₀, PM₂.₅) e hidrocarbonetos, que contribuem para problemas respiratórios e cardiovasculares, além de formarem smog - forma de poluição do ar que combina fumaça ("smoke") e neblina ("fog"). Já veículos elétricos, por não terem escapamento, não emitem esses poluentes, melhorando a qualidade do ar, especialmente em áreas urbanas densamente povoadas.
Mesmo quando a eletricidade usada para carregar os veículos elétricos é gerada a partir de fontes não renováveis, as emissões totais ainda tendem a ser menores do que as de veículos a combustão.
Motores elétricos ainda são muito mais eficientes que motores a combustão. Enquanto a eficiência de um motor de combustão interna é geralmente em torno de 20-30%, motores elétricos podem ter eficiência superior a 90%. Isso significa que uma maior proporção da energia utilizada para alimentar o veículo é convertida em movimento, resultando em menor desperdício de energia.
A transição para veículos elétricos promove a diversificação da matriz energética, reduzindo a dependência de petróleo e outros combustíveis fósseis, cuja extração e uso têm impactos ambientais significativos. A diminuição da dependência de combustíveis fósseis também pode ajudar a estabilizar a economia, reduzindo a exposição a flutuações nos preços globais do petróleo e contribuindo para a segurança energética.
Embora a fabricação de veículos elétricos, especialmente das baterias, tenha um impacto ambiental significativo devido à extração de materiais como lítio e cobalto, o ciclo de vida completo de um veículo elétrico (desde a produção até o descarte) tende a ser menos prejudicial ao meio ambiente do que o de veículos a combustão, especialmente à medida que a tecnologia de reciclagem de baterias avança.
Incentivo à eletrificação
No Brasil, o transporte rodoviário é responsável pelo deslocamento de 65% das cargas e de 95% dos passageiros, segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT). Em linha com o esforço global de combate às mudanças climáticas e diante da importância da malha rodoviária no Brasil, bancos de fomento do Brasil têm ofertado incentivos à adesão aos veículos elétricos.
O Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), por exemplo, oferece desde junho uma nova linha de crédito para financiar a aquisição de máquinas e equipamentos relacionados à redução de emissões de gases de efeito estufa e à adaptação às mudanças do clima. Empresas de médio e grande porte de Minas Gerais têm acesso a crédito com taxas anuais que variam entre 9,78% e 12,24%, com prazo de até 12 anos para pagamento. Os recursos da nova linha de crédito, denominada Finame Fundo Clima, são provenientes de recursos junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O apoio do BNDES à eletrificação é mais amplo e está inserido no Novo PAC, Programa de Aceleração do Crescimento do governo Lula (PT). Em maio deste ano, o BNDES anunciou que financiaria a renovação da frota de ônibus em municípios brasileiros, investindo R$ 10,5 bilhões para a aquisição de 2.529 ônibus elétricos.
“O Novo PAC Seleções é fundamental para a indústria brasileira porque cria uma demanda importante para a instalação e a ampliação de fábricas de elétricos no país, gerando empregos qualificados e renda. Além disso, é fundamental o investimento em transporte público sustentável para que o país avance na transição energética”, disse o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, à época.
A transição para uma mobilidade mais sustentável envolve desafios significativos, como altos custos iniciais, falta de infraestrutura adequada e a necessidade de inovação tecnológica. Nesse contexto, os bancos de fomento se tornam atores importantes para superar esses obstáculos, porque, primeiro, têm a capacidade de oferecer linhas de crédito com condições mais favoráveis do que as oferecidas pelo mercado tradicional. Isso é particularmente importante para a aquisição de veículos elétricos, que, apesar de proporcionarem economia a longo prazo em termos de manutenção e combustíveis, ainda possuem um custo inicial elevado em comparação com os veículos a combustão.
Além disso, os bancos de fomento podem atuar como catalisadores para a criação e expansão da infraestrutura necessária para a operação de veículos elétricos, como estações de recarga.
Os bancos de fomento também têm um papel importante na mitigação de riscos associados a novas tecnologias. Ao financiar projetos-piloto e programas de pesquisa e desenvolvimento, eles ajudam a reduzir a incerteza que pode frear o investimento privado.
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