Carroças elétricas dão visibilidade a catadores de recicláveis no Brasil
O projeto “Carroça do Futuro” reduz o esforço físico, aumenta a segurança e dá visibilidade à categoria dos catadores de recicláveis
Beatriz Bevilaqua, 247 - Os catadores de materiais recicláveis desempenham um papel fundamental na gestão de resíduos no Brasil, sendo responsáveis por mais de 90% de toda reciclagem realizada no país. Apesar de essenciais para a sustentabilidade urbana, muitos ainda enfrentam condições precárias de trabalho e falta de reconhecimento.
No episódio desta semana no programa “Brasil Sustentável”, da TV 247, entrevistamos Nanci Darcolléte, líder do movimento Pimp My Carroça, iniciativa que busca dar visibilidade e garantir remuneração justa aos catadores de materiais recicláveis. Entre as inovações tecnológicas do projeto, destacam-se as Carroças do Futuro, veículos elétricos que melhoram a saúde, a renda e a relação dos catadores com a comunidade.
As carroças elétricas utilizadas no projeto possuem motor de 6 km/h, marcha ré, freio, buzina, setas, rastreadores via GPS e faróis dianteiros e traseiros alimentados por energia solar. Com capacidade para suportar até 400 kg, suas baterias testadas garantem uma autonomia entre 12 e 16 horas, podendo ser recarregadas em uma tomada comum.
Nanci Darcolléte, 48 anos, compartilha sua trajetória como catadora por mais de 30 anos: “Comecei quando minhas filhas ainda eram pequenas, pois não conseguia conciliar o trabalho formal com os cuidados delas. Já atuei como autônoma, em associações, cooperativas e até em lixões em Francisco Morato. Conheci o Movimento Nacional de Catadores e, em 2018, entrei no projeto Carroças do Futuro, passando a atuar com um dos protótipos na Zona Leste de São Paulo”, disse.
A tecnologia aplicada no projeto busca melhorar as condições de trabalho dos catadores, especialmente daqueles que não possuem habilitação para conduzir veículos maiores. “A carroça elétrica traz mais dignidade, reduz o esforço físico e aumenta a segurança. Além disso, a visibilidade do projeto faz com que as pessoas passem a enxergar o catador. Muitas já me abordaram para perguntar como poderiam contribuir”, conta Nanci.
Apesar dos avanços, o setor ainda enfrenta desafios. Há mais de 3 mil lixões a céu aberto no Brasil, onde muitos catadores vivem em condições extremas. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada há mais de 10 anos, ainda não foi plenamente implementada. “A política nacional muitas vezes não chega efetivamente. Os municípios têm suas próprias políticas de gestão de resíduos, contratam PPBs e concessionárias para o tratamento dos resíduos, mas não discutem a transição justa nem o futuro dos trabalhadores que atuam há décadas no setor”, critica.
O movimento Pimp My Carroça, criado em 2012, começou com eventos de reforma e pintura de carroças, além de atividades culturais e de saúde. Desde então, foram desenvolvidos projetos como o Pimpex, que permite a pessoas físicas financiarem carroças para catadores, e o Pimp Nossa Cooperativa, que transforma cooperativas em espaços de arte urbana.
Atualmente, o Pimp My Carroça também atua em áreas como Assistência Social, Mobilização e Voluntariado, sempre pautado pelos pilares do artivismo, tecnologia e participação coletiva. “Nós não queremos apenas dar visibilidade, mas garantir que os catadores sejam reconhecidos como profissionais essenciais para a sustentabilidade das cidades”, conclui Nanci.
Assista a entrevista na íntegra aqui:
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