Como o mercado está olhando para a inclusão de pessoas trans e travestis
Apenas 4% das pessoas trans e travestis estão no mercado de trabalho formal no Brasil
247 - É essencial refletir sobre os desafios enfrentados pela população trans e travesti no Brasil, país que lidera o ranking mundial de violência contra essas pessoas. A inclusão dessa população no mercado de trabalho não apenas promove justiça social, mas também fortalece as empresas, que se beneficiam de equipes mais diversas, inovadoras e alinhadas à pluralidade da sociedade, já que hoje apenas 4% das pessoas trans e travestis no Brasil estão no mercado formal.
Uma das primeiras transformações importantes é fazer com que a visibilidade trans abra espaço para histórias de sucesso, felicidade e realização pessoal e profissional. Noah Scheffel, CEO do EducaTRANSforma, destaca que em diversos momentos, a representatividade trans é moldada por olhares cisgêneros, reforçando estereótipos de sofrimento e exclusão. “Muitas vezes, somos retratados em narrativas de marginalidade ou fetichização, o que cria uma falsa sensação de inclusão. Para mudar isso, precisamos ocupar espaços por trás das câmeras, como roteiristas, diretores e líderes de empresas, que possam contar histórias autênticas, com toda a nossa diversidade. Não queremos apenas ser vistos, queremos ser compreendidos”, afirma.
A visão de Noah é compartilhada por Gabriela Augusto, fundadora da Transcendemos Consultoria, que reforça a necessidade de romper com as barreiras estruturais dentro das empresas. “Quando comecei minha transição de gênero, eu procurava exemplos de pessoas como eu nas empresas onde queria trabalhar. Como não encontrei, percebi que poderia ser uma dessas referências. Hoje, compartilho minha experiência para inspirar outras pessoas trans e engajar aliados na busca por igualdade”. Para ela, muitas empresas ainda adotam medidas superficiais, sem enfrentar preconceitos nos processos seletivos ou preparar o ambiente para a inclusão.
“Diversidade não pode ser uma questão de metas simbólicas. É preciso um compromisso genuíno com educação e transformação cultural, para que a inclusão seja real e estruturada”, destaca.
Tecnologia e diversidade: aliadas contra vieses inconscientes - Transformar o mercado em um espaço mais inclusivo exige mudanças profundas, desde os processos seletivos até a cultura organizacional. Apenas 4% das pessoas trans e travestis estão no mercado formal brasileiro, e eliminar vieses inconscientes é essencial, destaca Jhennyfer Coutinho, líder da experiência da pessoa candidata na Gupy. “Os processos de gestão de pessoas devem garantir igualdade de oportunidades para pessoas trans, travestis e não binárias, desde a candidatura até a construção de uma carreira sólida”.
A Gupy usa tecnologia para combater essas barreiras: seu sistema de ordenação de currículos prioriza competências e experiências, sem considerar dados pessoais como gênero ou orientação sexual, assegurando processos mais justos.
Noah Scheffel reforça que a inclusão vai além da contratação: “não basta contratar uma pessoa trans. Precisamos criar ambientes acolhedores e celebrar conquistas. O problema não é ser trans, mas o preconceito”. Para isso, é essencial que as empresas tenham mecanismos de escuta e valorização da experiência dos colaboradores, promovendo engajamento e garantindo que políticas inclusivas sejam efetivas na prática. Além disso, um sistema justo de avaliação de desempenho é fundamental para evitar vieses, assim como programas de treinamento e desenvolvimento focados em equidade, ampliando o acesso à educação e ao crescimento profissional para grupos historicamente desfavorecidos.
Gabriela Augusto acrescenta que muitas iniciativas ainda são simbólicas: “sem consultorias, políticas estruturadas e treinamentos, não há inclusão real. É preciso planejamento estratégico e responsabilidade coletiva”.
Ações de impacto - Empresas que adotam práticas consistentes de diversidade e inclusão têm colhido resultados positivos. A Alpargatas é um exemplo de organização que busca promover a inclusão de grupos sub-representados de forma estruturada. Com mais de 10 mil funcionários, a companhia tem 72% de pessoas negras, 29% de mulheres, 6% de pessoas LGBTI+ e 5% de pessoas com deficiência em sua força de trabalho.
Partindo da mentalidade de desenvolver uma estratégia de diversidade com indicadores claros, desafios de negócio e uma governança com papéis e responsabilidades transparentes, a empresa desenvolveu o programa Alpa TRANSforma, em parceria com a Alicerce Educação, com o objetivo de contribuir para a empregabilidade de um grupo que hoje é tão sub-representado nas organizações, por meio por meio da educação. Iniciativas como esta já tem atuado para dar acesso ao emprego formal para pessoas trans.
Segundo Djenane Von Ancken, gerente de Carreira e Desenvolvimento da Alpargatas, o sucesso da empresa está na integração de ações concretas. “Aplicamos censos demográficos, incluímos marcadores sociais em pesquisas de clima e desenvolvemos trilhas de capacitação em inclusão e equidade. Além disso, criamos políticas claras de respeito à diversidade. Tudo isso nos ajuda a avançar em metas ambiciosas, como alcançar 50% de mulheres em alta liderança e 25% de grupos sub-representados em posições de gestão até 2030”, explica.
“Exemplos como o da Alpargatas e iniciativas como a Gupy Imersão mostram que inclusão é mais do que um dever ético: é uma estratégia que beneficia a sociedade e fortalece as empresas. Ao investir em diversidade, tecnologia e educação, o mercado de trabalho pode se tornar um espaço onde todas as pessoas tenham oportunidades iguais de construir histórias de sucesso e realização”, conclui Jhenyffer Coutinho, líder da experiência da pessoa candidata.
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