Coomflona alia extração de madeira e preservação ambiental na Floresta do Tapajós

247 - A combinação entre a extração de madeira e a preservação ambiental pode parecer um paradoxo, mas na Floresta Nacional do Tapajós, em Belterra (PA), essa união se tornou realidade. Como destaca reportagem da Agência Sebrae de Notícias, a Cooperativa Mista da Flona do Tapajós (Coomflona) tem mostrado que é possível explorar os recursos naturais de forma planejada e sustentável, garantindo tanto a sobrevivência das comunidades ribeirinhas quanto a conservação do meio ambiente.

Criada em 2005, a Coomflona é formada por moradores das 21 comunidades da Reserva de Proteção Ambiental Floresta do Tapajós e possui o selo FSC, uma certificação internacional que atesta o manejo florestal responsável. Os cooperados trabalham com produtos como copaíba, andiroba, apicultura e artesanato comunitário, mas a maior parte da renda vem da venda de toras de madeira. Uma parte significativa da madeira extraída abastece a movelaria Anambé, que produz móveis sustentáveis como mesas, cadeiras e armários.

“Aqui tudo é planejado, tudo é feito dentro de um projeto maior. Até a forma como as árvores são abatidas tem que ter um jeito, porque é de impacto reduzido, sem o uso de maquinários pesados, tratores”, explica Arimar Rodrigues, coordenador da movelaria Anambé.

Manejo planejado garante a regeneração natural

O processo de extração segue um planejamento rigoroso, com etapas que incluem delimitação e inventário antes do corte das árvores. Diferentemente do que se imagina, a reposição não se dá por mudas, mas pela regeneração natural da floresta.

“Imagine cultivarmos uma muda dentro de um viveiro e colocá-la dentro do mato. Seria a mesma coisa que sair daqui da Flona e ir lá para os Estados Unidos, onde eu não sei falar inglês. Eu ficaria perdido”, compara Arimar, destacando a importância do ciclo natural para a recuperação das áreas exploradas.

Daniel Rocha, vice-presidente da Coomflona, ressalta o potencial dos resíduos florestais. “Hoje, vemos móveis em grandes hotéis, móveis rústicos que custam uma fortuna em dólar. A Austrália, que também tem florestas muito protegidas, tem a base da movelaria feita com o que é recolhido do chão”, observa Rocha, indicando um caminho para melhor aproveitamento dos recursos.

Apoio do Sebrae amplia perspectivas

O trabalho realizado pela Coomflona chamou a atenção do Sebrae, que tem apoiado a cooperativa com capacitações em gestão e questões técnicas. Agora, o foco é ampliar a atuação com conexões corporativas e acesso a mercados. Durante uma visita à cooperativa, o diretor técnico do Sebrae, Bruno Quick, destacou o valor do projeto.

“O que esses cooperados fazem aqui é de um potencial riquíssimo. É a prova de que é possível associar desenvolvimento econômico com sustentabilidade. Nós do Sebrae vamos atuar junto com a cooperativa para qualificar e potencializar o trabalho desenvolvido aqui”, afirmou Quick.

A iniciativa busca, ainda, criar uma linha autoral de produtos com marca própria, voltada ao mercado de design. Segundo Walter Rodrigues, designer da Assintecal e consultor do Sebrae, as oficinas de design previstas para abril visam não ensinar o ofício, mas ajudar na apresentação comercial dos produtos.

“A ideia é que, a partir de abril, possamos iniciar oficinas de design com eles. Não para ensinar a fazer os produtos, pois isso eles já sabem fazer com excelência, mas para orientar sobre como se apresentar ao mercado e se posicionar comercialmente”, explicou Rodrigues.

Com mais de mil famílias beneficiadas pelos 316 cooperados, a Coomflona se consolida como um exemplo de que é possível aliar desenvolvimento econômico, sustentabilidade e inovação na Amazônia.