“Manguezal é barreira natural contra extremos climáticos”, aponta pesquisadora

Beatriz Bevilaqua, 247 - Os manguezais são ecossistemas costeiros essenciais para a biodiversidade e a estabilidade climática. Presentes em quase toda a costa brasileira, de Santa Catarina ao Amapá, esses ambientes lodosos e ricos em vida desempenham papel crucial na pesca, na gastronomia e no turismo.

No programa "Brasil Sustentável" desta semana, na TV 247, a entrevistada foi Mayris Nascimento, CEO e fundadora do Nosso Mangue, iniciativa voltada à recuperação e conservação desses ecossistemas por meio da educação ambiental e do turismo regenerativo. Nascida em uma comunidade ribeirinha e filha de pescadores da Laguna Mundaú, em Alagoas, Mayris também atua como pesquisadora na Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

Segundo a especialista, os manguezais são aliados na redução dos impactos das enchentes, que têm se tornado mais frequentes e intensas. "As comunidades ribeirinhas são duramente afetadas por chuvas intensas. Nos últimos três anos, esses eventos climáticos extremos aumentaram. No entanto, a vegetação do manguezal atua como uma barreira natural, minimizando os efeitos das cheias", explica.

Pesquisas indicam que uma faixa de 100 metros de manguezal pode reduzir em até 60% o impacto das enchentes. "Durante o inverno, vemos notícias frequentes sobre chuvas intensas. O Brasil está registrando mais eventos extremos, e os manguezais são essenciais para mitigar esses impactos", afirma Mayris.

Além da proteção contra enchentes, os manguezais são fundamentais para a reprodução de espécies marinhas. "A cada hectare preservado, a população de camarões, crustáceos e peixes pode crescer de 8 a 15 quilos, fortalecendo a pesca artesanal", destaca a pesquisadora.

Desafios e soluções para a conservação

Historicamente vistos como “patinho feio” dos ecossistemas, os manguezais hoje ganham destaque nas discussões ambientais. "Eles são altamente eficientes na absorção de carbono, capturando cerca de 4% a mais do que outros biomas. Esse carbono armazenado, chamado de 'carbono azul', é vital na regulação climática", explica Mayris.

Porém, o desmatamento impulsionado por construções clandestinas e alterações irregulares no solo ameaça a existência desses ecossistemas. "O maior desafio é conter a exploração desenfreada, que prejudica a biodiversidade e as comunidades que dependem dos manguezais", alerta.

Foi com esse propósito que nasceu o Nosso Mangue. "Começamos com apenas R$ 50, contrariando a ideia de que é preciso muito capital para empreender. Criamos um modelo sustentável, unindo impacto social e viabilidade econômica", conta Mayris. O projeto atua em três frentes: recuperação, preservação e educação ambiental.

Outra iniciativa do Nosso Mangue é o turismo regenerativo, que promove experiências imersivas nos manguezais de Alagoas. "Os visitantes chegam interessados em artesanato, mas saem levando histórias e um novo olhar sobre a cultura local", ressalta Mayris.

Compensação de carbono e justiça climática

Com a proximidade da COP30, iniciativas voltadas à compensação de emissões de carbono ganham relevância. "Trabalhamos para reduzir a pegada de carbono por meio do plantio de espécies nativas do mangue, como o mangue-vermelho. Esse processo captura gases da atmosfera e melhora a qualidade do ar", explica a pesquisadora.

Mayris reforça a importância da justiça climática. "As comunidades locais são as que mais sofrem com as mudanças climáticas, apesar de serem as que menos contribuem para o problema. Nosso trabalho busca dar voz a essas populações, promovendo soluções sustentáveis."

Assista à entrevista na íntegra: