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Mídia produzida por indígenas se torna ferramenta de conscientização

Alunos de escolas públicas participaram de cine-debate no Rio

Exibição de filme produzido por indígenas (Foto: Tânia Rego/Agência Brasil)

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Por Bruno de Freitas Moura, repórter da Agência Brasil - A tarde desta sexta-feira (9) foi um dia letivo diferente para cerca de 150 estudantes de escolas públicas de Nova Iguaçu, cidade da região metropolitana do Rio de Janeiro. Para marcar o Dia Internacional dos Povos Indígenas, celebrado nesta sexta-feira, eles deixaram as salas de aula e percorreram aproximadamente 50 quilômetros até o campus Praia Vermelha, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na capital fluminense.

Os alunos dos Centros Integrados de Educação Pública (Ciep) São Vicente de Paula e Y Juca Pirama tiveram uma tarde de encontro com cineastas indígenas fundadores do coletivo Mídia Indígena, que produz e divulga conteúdo de interesse voltado à preservação e valorização de povos originários.

Além de conversas, eles assistiram ao filme Somos Guardiões, produzido pelo próprio coletivo Mídia Indígena e que mostra a luta para defender o território e a Amazônia.

O documentário, que tem produção também do ator Leonardo DiCaprio, investiga interesses econômicos que incentivam o desmatamento na Amazônia e as consequências ambientais e humanas. A produção acompanha o líder e ativista indígena Puyr Tembé e o guardião florestal Marçal Guajajara na luta para proteger territórios indígenas.

A iniciativa que uniu os estudantes e os produtores indígenas é uma parceria entre o projeto de extensão Metaversidade da UFRJ e o Consulado da Suécia no Rio de Janeiro.

Um dos fundadores do Mídia Indígena é o jornalista Erisvan Guajajara, do território Arariboia, da Aldeia Lagoa Quieta, no Maranhão, cerca de 600 quilômetros a sudoeste da capital, São Luís. O primo dele, Edivan Guajajara, é um dos diretores do filme.

O jornalista explicou à Agência Brasil que o coletivo visita universidades e escolas para expor o protagonismo dos povos indígenas em defesa de territórios.

“A gente usa essa ferramenta para mostrar o nosso protagonismo, contar a nossa história como realmente deve ser contada e mostrar a versão dos povos indígenas com o olhar indígena”, disse Erisvan,

Ocupar espaços

Ele acrescenta que a comunicação é uma ferramenta de luta e pode ajudar a derrubar preconceitos.

“Estamos ocupando as redes, demarcando as telas, que significa trazer para a visibilidade a realidade dos povos indígenas, desconstruindo estereótipos que muitos ainda alimentam”.

Entre as ideias preconcebidas equivocadas, ele cita a de que “indígena é preguiçoso, não trabalha e só vive no mato”.

“A gente traz esse debate para as universidades para que os alunos cresçam e aprendam que hoje nós temos indígenas jornalistas, advogados, prefeitos, vereadores, ministra e deputados federais”, listou.

À frente do Ministério dos Povos Indígenas desde janeiro de 2023, Sônia Guajajara é a primeira indígena na história do Brasil a comandar um ministério. 

A estudante Grace Kelly, de 16 anos, foi uma das estudantes que assistiram ao filme. A aluna do 2º ano do ensino médio destacou a importância de conhecer outras culturas.

“Aprender mais sobre a realidade deles, o que eles estão passando é importante para que as pessoas que têm uma visão negativa sobre eles possam ter uma visão de mais igualdade”.

Juan Santos, de 17 anos, do 1º ano do ensino médio, admite que não conhecia muito sobre povos indígenas e que a atividade deste Dia Internacional dos Povos Indígenas é importante para “conhecer realidades e entender a importância de preservar as tradições”.  

A diretora do Ciep São Vicente de Paula, Natália Menezes, considera que o contato dos estudantes com a mídia produzida por indígenas pode ser trabalhado com um duplo viés. De um lado, a educação ambiental: “visão da natureza não só como recurso, mas como algo a ser preservado”. O outro é levar para eles a realidade dos povos indígenas.

“A gente fica muito preso ao que é dito só nas mídias, e eles não escutam esse lado dos indígenas. Então é dar voz de fala a esses povos indígenas e que os estudantes possam conhecer essa realidade para também lutar a favor dela”, salienta.

Novos horizontes

Para a diretora, outros benefícios da atividade são a mudança de rotina e o contato com a universidade.

“Eles estão encantados, primeiro por sair da realidade de Nova Iguaçu, conhecer outras realidades em termos de espaço”, observa.

“É ideal que a gente possa, já no ensino médio, começar a estreitar esses laços que eles podem ter com a universidade, porque, para muitos, é algo que não é palpável, é algo muito distante. Então é bom estreitar esses laços com a universidade para que eles possam compreender que eles podem ocupar também esses espaços”, diz a professora à Agência Brasil.

Os dois colégios que participaram do encontro fazem parte do projeto Escolas Interculturais Brasil-Suécia, da Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro, que propõe intercâmbio de conhecimento entre os países.

Antes da exibição do filme produzido pelos indígenas, os alunos acompanharam uma apresentação promovida pelo Consulado-Geral da Suécia no Rio de Janeiro. Os estudantes puderam aprender sobre os Sami, povo originário da parte mais ao norte dos países nórdicos, também conhecida como Lapônia.

Atualmente o grupo étnico é formado por cerca de 20 mil pessoas na Suécia, 50 mil na Noruega, 8 mil na Finlândia e 2 mil na Rússia. Na Suécia, eles são reconhecidos oficialmente pelo governo, têm língua, bandeira e até um Parlamento para tratar de questões pertinentes ao próprio território. Eles desenvolveram técnicas para lidar com o frio, que ultrapassa -20º Celsius perto do Polo Ártico.

“Não sabia que existiam. Vinte graus negativos, surreal”, se surpreende Grace.

"É importante os jovens aprenderem que o mundo é grande, entender outros países, culturas, histórias", disse o cônsul-geral honorário da Suécia no Rio de Janeiro, Jan Lomholdt.

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