"Não quero estar do outro lado como vítima; por isso trabalho por soluções para a justiça climática", diz fundadora do DuClima
Naira Wayand é uma deslocada climática do evento extremo de Petrópolis e fundou o Instituto DuClima, que trabalha no enfrentamento ao racismo ambiental
Por Beatriz Bevilaqua, 247 - A crise climática não é apenas um desafio ambiental, mas uma questão fundamental de justiça social e direitos humanos. À medida que os extremos climáticos se intensificam, são as comunidades vulneráveis que enfrentam os impactos mais severos, como as secas extremas no Nordeste, as queimadas no Pantanal ou as inundações devastadoras como as que vimos no Rio Grande do Sul.
Neste episódio discutimos justiça climática com Naira Wayand, fundadora do Instituto DuClima, organização da sociedade civil que trabalha no enfrentamento efetivo do racismo ambiental com foco nos direitos humanos dos grupos mais vulnerabilizados pela crise climática como a comunidade negra, mulheres, indígenas, crianças, quilombolas e as pessoas em vulnerabilidade social. Por meio da educação, produção de dados, articulação intersetorial, ações territoriais, litigância climática e incidência política com formulação de políticas públicas.
Além disso, Naira é uma deslocada climática do evento extremo de Petrópolis (de 2022), onde morreram mais de 230 pessoas, além de quatro mil desabrigados e algumas centenas de deslocados climáticos. Ela também é redatora do Projeto de Lei 1594/2024 com foco em Deslocamento Climático.
“Quando você vivencia algo assim, isso acende um alerta de urgência em relação à temática que estamos enfrentando. Após passar por essa experiência com a minha família e ser forçada a migrar, sinto uma necessidade profunda de entender realmente essa questão. Não quero estar do outro lado como vítima; por isso tenho trabalhado na criação de soluções para que outras pessoas não enfrentem a mesma situação que eu vivi. Esse trauma e o desencadeamento desse sentimento me impulsionam a agir”, explicou.
Ela alerta para a “síndrome do céu azul”, que reflete a falta de conscientização sobre riscos e problemas iminentes que estão ocorrendo no Brasil e no mundo. “Quando acontece algo extremo, num primeiro momento há toda atenção midiática, mas pouco tempo depois as pessoas são invisibilizadas. Tenho trabalhado intensamente para desenvolver uma agenda efetiva que dê visibilidade a essas vozes. São centenas de milhares de deslocados climáticos no país e um exemplo recente é o Rio Grande do Sul, onde muitas pessoas ainda estão em abrigos ou cidades temporárias e completamente desamparadas de direitos humanos”, avaliou.
Ela mencionou a frase de um ativista brasileiro que diz: “Prefira mil vezes ouvir quem foi pra guerra, do que quem fala sobre a guerra e nunca esteve lá”. Para Naira, precisamos legitimar as vozes dos deslocados climáticos, para que as pessoas mais afetadas estejam não somente no centro do debate, mas também dialogando com os diferentes atores que compõem essa agenda e que é de todos nós. "A crise do clima não reconhece fronteiras e nem escolhe territórios, precisamos deste diálogo multissetorial”, enfatiza.
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