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Sistema político se mostra incapaz de lidar com os crescentes desafios que afetam o mundo, diz Ailton Krenak

Em entrevista à TV 247, líder indígena, filósofo e integrante da ABL falou sobre sociedade e o futuro da humanidade em meio ao avanço do extremismo

Ailton Krenak (Foto: Divulgação )

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Beatriz Bevilaqua, 247 - No episódio desta semana do “Brasil Sustentável”, na TV 247, entrevistamos Ailton Krenak, um dos mais influentes líderes indígenas do Brasil. Reconhecido como ambientalista, filósofo e poeta, Krenak é o primeiro indígena a ser eleito para a Academia Brasileira de Letras e autor de obras impactantes como “Ideias para Adiar o Fim do Mundo”, “O Amanhã Não Está à Venda”, “Futuro Ancestral” e “A Vida Não É Útil”.

Durante o programa, Krenak abordou questões essenciais como política, sociedade e o futuro da humanidade, propondo reflexões sobre nosso papel no mundo e as urgências de um amanhã sustentável. Ele questionou como é possível que tantas pessoas sejam vítimas de um sistema de segurança brutal e violento, que não oferece explicações e gera uma série de tragédias, como “balas perdidas”, sequestros e assassinatos. Além disso, prefeitos que desconsideram a adaptação climática continuam sendo reeleitos, como vimos nas últimas eleições. Somado a isso a volta do governo Donald Trump no início de 2025, como um dos maiores líderes negacionistas das questões ambientais no planeta Terra.

Para Krenak, esse quadro faz parte de um sistema político contaminado, incapaz de lidar com os crescentes desafios que afetam o cotidiano de tantos. O mais chocante, segundo o entrevistado, é que as pessoas parecem não associar essa realidade aos políticos que elas mesmas elegem, aqueles que se tornam vereadores, deputados, governadores, presidentes, perpetuando um ciclo de indiferença e negligência. “Eu fico observando isso há muito tempo, desde a década de 90. Talvez seja por isso que eu não acredito mais em nenhum partido político. E sei que isso pode soar como uma declaração de alguém que rejeita a política, mas não é isso. Eu não acredito nos partidos, nem nas suas estruturas. Costumo dizer aos meus amigos que prefiro fazer micropolítica. Micropolítica não é política partidária”, disse. 

“A política partidária se transformou em um jogo perigoso, onde as pessoas são chamadas a votar a cada quatro anos para autorizar alguém a governar em nome delas, mas fazem isso de maneira completamente alienada, como se fossem robôs cumprindo uma convocatória sem noção. Eu acho triste. É uma vergonha o que está acontecendo nas nossas cidades e no mundo inteiro”, lamenta.

O líder indígena também criticou os encontros internacionais, os quais ele não aceita participa há muitos anos. A última COP que ele foi aconteceu no Brasil, em 2014, em Curitiba, no Paraná. Desde então não viu mais propósito em participar de congressos e conferências internacionais que aconteceram em diversos outros locais ao redor do mundo. “Eu acho que o próprio painel do clima e toda essa maquinaria que a ONU e outros organismos internacionais movimentam para essas conferências vivem do movimento de si mesmos. Eles não têm o objetivo de ir a lugar nenhum a não ser reproduzir isso infinitamente. Encontros.”

Krenak acredita que essas conferências estão substituindo os antigos "Fóruns Mundiais”, que discutiam na teoria questões de como mudar as condições que vivemos no planeta. Ele sente que, agora, esse mesmo discurso está sendo rodado nas COPs, assim como a próxima que acontecerá no Brasil, na Amazônia. “Eu não sei nem se na COP 30, que vai acontecer aqui no Brasil, eu me moveria com o propósito de fazer algum tipo de comunicação. Eu acho que esse tipo de pregação no deserto já deu pra mim. Eu não vou mais”, disse.

O líder indígena, também nos lembra, que durante a pandemia o comportamento das massas podia ter mudado, mas não mudou para todos. Para alguns de nós, sim, a mudança ocorreu, principalmente depois de sofrer, de perder familiares e pessoas queridas. Esse sofrimento transformou a maneira como vemos o mundo. No entanto, nem todos passaram por essa transformação. “Muitos outros perderam entes queridos, mas estavam mais preocupados em abrir as portas e sair multiplicando cifrões”, disse.

“Essa fúria do capitalismo, que faz com que a vida só tenha valor quando é considerada útil, é um tema que abordo no livro A Vida Não É Útil. Nele, discuto como os seres humanos continuam a reproduzir o capitalismo e o mundo das mercadorias, sem perceberem as origens e as consequências desse processo. Durante a pandemia, paramos de nos deslocar, então vimos o marreco passear por uma lagoa límpida, a paisagem se reconstituir com os passarinhos nativos e o urso teve alguma chance de sobrevivência. Logo após a pandemia tudo voltou como era antes. Está claro que quando avançamos, a vida se recolhe”, comentou. “Se não somos capazes de fazer a mínima escolha e elegemos criminosos para governar o mundo é melhor que ele acabe amanhã cedo”, finalizou.

Assista à entrevista na íntegra: 

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