Startup leva sistema de tratamento de água à ilha de Combú com recursos da bioeconomia

247 - A ilha de Combú, situada a apenas 15 minutos de barco de Belém (PA), é conhecida por sua natureza exuberante, pela gastronomia local e, mais recentemente, pela produção de chocolates orgânicos. Agora, a comunidade também se destaca como a primeira a receber um sistema de tratamento de água financiado pela startup Ver-O-Fruto. O projeto utiliza parte da receita da comercialização de sabonetes sustentáveis, fabricados com resíduos de açaí, para viabilizar a instalação da estrutura, que foi desenvolvida pela própria empresa. Segundo informações da Agência Sebrae de Notícias, a iniciativa beneficiará cerca de 300 pessoas até abril.

“A ideia de destinar recursos para o tratamento da água surgiu da necessidade de garantir o acesso das famílias ribeirinhas a esse direito básico”, explica Ingrid Teles, engenheira de produção, pesquisadora e fundadora da Ver-O-Fruto. Segundo ela, a startup nasceu de um propósito e, ao se tornar um negócio, conseguiu engajar clientes nessa missão. “Podemos chamar a atenção das pessoas para viver esse propósito conosco.” A experiência em Combú não é isolada: um sistema semelhante já foi levado para um quilombo no Amapá por meio de uma associação local.

A Ver-O-Fruto busca atuar na base da bioeconomia, apoiando comunidades que dependem dos recursos naturais da floresta. “A gente pensa nas pessoas que fazem a bioeconomia acontecer, desde o momento em que utilizamos matéria-prima sem valor agregado até a garantia de água de qualidade para essas populações”, afirma Ingrid.

A empresa integrou o Programa Inova Amazônia, iniciativa do Sebrae voltada para o desenvolvimento de startups e negócios inovadores alinhados à bioeconomia. O apoio foi essencial para a evolução do projeto, destaca a fundadora da startup. “O Sebrae foi um dos nossos maiores parceiros. Com o Inova Amazônia, fizemos conexões estratégicas e conseguimos apresentar tanto nossos sabonetes quanto nossa solução para tratamento de água.”

Philippe Figueiredo, analista de inovação do Sebrae, reforça a importância de fomentar projetos sustentáveis e de impacto socioambiental. “O Sebrae contribui para gerar negócios que oferecem soluções tecnológicas voltadas ao uso sustentável dos nossos biomas”, ressalta. “Ao apoiar empresas como a Ver-O-Fruto, ajudamos a desenvolver alternativas que preservam e melhor aproveitam os recursos naturais, incluindo a recuperação da água.”

Expansão e próximos passos

O portfólio da startup inclui o sabonete líquido esfoliante facial Amazon Seed, feito a partir do caroço do açaí, além de um xampu em barra com óleo de Patauá e manteiga de Murumuru. A fabricação ocorre em Benevides, na região metropolitana de Belém, por meio de parcerias com fornecedores locais. “Nosso sabonete atua como um detox, reduzindo a oleosidade sem ressecar a pele. E tudo isso sem o uso de matérias-primas sintéticas”, explica Ingrid.

A startup também desenvolveu um sistema de tratamento de água que utiliza sementes de açaí como filtro – tecnologia inicialmente testada com resíduos de manga. O investimento médio por unidade é de R$ 15 mil, com capacidade para tratar de mil a dois mil litros de água por dia, atendendo até cem famílias.

Os planos para 2024 incluem ampliar a cobertura para outras comunidades das ilhas de Combú e das Onças, além de levar a solução para escolas no Amazonas. “Estamos buscando diálogo com secretarias para apresentar nossos resultados e expandir o impacto da iniciativa”, conclui Ingrid.