‘Tarifaço’ ameaça cooperação climática, mas BRICS pode liderar transição ecológica, afirma Marina Silva

247 – A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, alertou nesta quinta-feira (3) que políticas protecionistas e tarifações unilaterais podem prejudicar os esforços globais de combate à crise climática. A declaração foi feita durante coletiva de imprensa após a 11ª reunião dos ministros de Meio Ambiente do BRICS, realizada em Brasília. A reportagem é da Sputnik Brasil, que acompanhou o evento.

Sem citar diretamente o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump — que iniciou seu segundo mandato em 2025 e anunciou no dia anterior uma série de tarifas sobre produtos importados — Marina destacou os riscos de uma "guerra tarifária". Segundo a ministra, esse tipo de medida gera instabilidade internacional, desloca recursos originalmente destinados à proteção ambiental e pode minar a confiança entre as nações.

 “O país que mais está defendendo este tipo de protecionismo foi um dos que [no passado] mais estimularam que a gente [o mundo] deveria ter uma livre iniciativa, a liberdade de ação no mercado [...] Esse rompimento com o multilateralismo, essas visões unilaterais, são muito negativas e prejudicam muito a cooperação e a ação climática conjunta. Isso esgarça as relações, afasta a cooperação, mina as relações de confiança entre os povos. Nosso papel é o de reforçar a solidariedade, o apoio, a cooperação e a livre iniciativa no mercado”, afirmou Marina.

Apesar do cenário desafiador, a ministra sinalizou que os BRICS — atualmente compostos por Brasil, Rússia, China, Índia, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã — têm potencial para liderar a transição ecológica mundial.

 “Representamos cerca da metade da população mundial e 39% do PIB global. Mais do que nunca, os [países do] BRICS são espaços cada vez mais férteis de inovação, ricos em diversidade cultural, com recursos estratégicos e imensa quantidade e qualidade de capital natural”, declarou.

Agenda climática do BRICS

A cooperação ambiental entre os países do BRICS tem como eixos principais a luta contra a desertificação, a degradação da terra e a seca; a proteção dos serviços ecossistêmicos; o combate à poluição plástica e o incentivo à liderança climática coletiva.

Até o momento, apenas o Brasil e os Emirados Árabes Unidos apresentaram metas concretas de redução das emissões de gases de efeito estufa. Marina lembrou que o Brasil submeteu recentemente sua nova meta à Convenção sobre Mudança do Clima.

 “Este é um passo fundamental para assegurarmos a implementação dos compromissos que assumimos até aqui. O Brasil fez sua lição de casa e apresentou em Baku a meta de diminuir até 2035 entre 59% e 67% as emissões de gases de efeito estufa, em comparação com o ano de 2005”, disse.

Presidência brasileira do BRICS

Sob a presidência do Brasil em 2025, o bloco opera com o lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”. A prioridade está na ampliação das parcerias voltadas ao desenvolvimento social, econômico e ambiental, especialmente entre os países do Sul Global.

O BRICS, além de fórum diplomático, busca fortalecer a influência de seus membros na governança internacional e democratizar instâncias como a ONU, o FMI, o Banco Mundial e a OMC. As ações incluem também a promoção da inclusão social e do desenvolvimento sustentável como pilares de uma nova ordem internacional mais equitativa.