Áudios mostram que maioria do alto comando militar não aderiu ao golpe
Conversas interceptadas pela PF expõem discordâncias internas e indicam tentativa de manipulação no Ministério da Defesa para viabilizar um golpe
247 - Áudios obtidos pela Polícia Federal (PF) revelaram a resistência da alta cúpula do Exército a aderir às articulações golpistas promovidas por integrantes do governo de Jair Bolsonaro no final de 2022, após a derrota eleitoral do então presidente. A apuração foi divulgada pelo jornal O Globo, destacando as conversas que evidenciam a falta de apoio entre os 16 generais que formam o Alto Comando da Força.
Em uma mensagem interceptada, o coronel reformado Reginaldo Vieira de Abreu, que atuava como assessor no Palácio do Planalto no governo Bolsonaro, lamenta a postura do Exército. “Cinco não querem, três querem muito e os outros zona de conforto. Infelizmente. A lição que a gente deu para a esquerda é que o Alto Comando tem que acabar”, disse Vieira de Abreu, que à época era chefe de gabinete do general Mario Fernandes, então secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência.
Mario Fernandes é um dos 37 investigados pela PF no inquérito que apurou a tentativa de golpe. De acordo com a polícia, ele foi responsável pela elaboração do plano “Punhal verde e amarelo”, que incluía o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin, e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Plano para trocar o Ministério da Defesa
Em outra mensagem interceptada, Fernandes sugeriu ao então presidente Bolsonaro a troca no comando do Ministério da Defesa para superar a resistência do Exército. A ideia era recolocar o general Walter Braga Netto, ex-ministro e candidato a vice na chapa de reeleição de Bolsonaro, no lugar de Paulo Sérgio Nogueira. “Bota de novo o general Braga Netto lá. O general Braga Netto tá indignado, porra, ele vai ter um apoio mais efetivo”, declarou Fernandes em áudio enviado a Marcelo Câmara, assessor especial de Bolsonaro, em 10 de novembro de 2022.
As investigações da PF indicam que os comandantes do Exército e da Aeronáutica no governo passado rejeitaram apoiar iniciativas golpistas em reuniões com Bolsonaro. Apenas o então chefe da Marinha, almirante Almir Garnier, teria demonstrado apoio a um eventual golpe.
Resistência nas Forças Armadas
Desde que surgiram denúncias de envolvimento de militares em ameaças à democracia, o Ministério da Defesa tem defendido a individualização das condutas. “Os indícios são sobre CPFs, e não sobre CNPJs. Nesse tempo, o que ficou provado em relação às Forças Armadas foi a capacidade de ajudar a resolver os problemas do país”, afirmou o ministro da Defesa, José Mucio, ao O Globo.
O ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes relatou à PF que, durante uma reunião no Palácio da Alvorada, Bolsonaro apresentou a ele duas versões de uma minuta do golpe, enfatizando que o plano deveria ser implementado. Freire Gomes afirmou que ameaçou prender o ex-presidente caso insistisse na execução do golpe.
Já o então comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, disse em depoimento que a recusa do Exército foi crucial para impedir que os planos golpistas avançassem. “Se o Exército tivesse apoiado, o golpe provavelmente teria ocorrido”, declarou Baptista Júnior.
As revelações reforçam a divisão dentro das Forças Armadas e apontam que a resistência de setores importantes foi determinante para frustrar as articulações golpistas, ainda que o episódio tenha deixado marcas profundas no cenário político brasileiro.
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