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    Denúncias de assédio eleitoral crescem 160% em uma semana

    Foram registradas mais de 440 denúncias desse tipo levadas à justiça nestas eleições , segundo o Ministério Público do Trabalho

    Justiça Eleitoral - urnas eletrônicas - eleição (Foto: REUTERS/Diego Vara)
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    Raquel Miura, RFI - Numa eleição tão apertada e tão polarizada, onde mais de 93% dos eleitores se dizem convictos de suas escolhas, quebrar resistência e demover rejeição pode levar para a urna aquele voto que fará diferença. E é esse o foco das equipes de Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. 

     Depois de muita delonga interna, o PT apresenta nesta quarta-feira uma carta aos evangélicos onde diz que não partirá de um eventual governo petista iniciativa para legalizar o aborto, e assegura que nenhuma igreja de qualquer matriz será fechada.

     No jogo sujo das fake news, a vendedora Cláudia de Nazaré, de 39 anos, que ainda não decidiu o voto, chegou a temer medidas extremas: “Logo que terminou o primeiro turno começaram a mandar mensagens de que Lula iria fechar as igrejas. Vários pastores fizeram postagens nesse sentido, falando em perseguição religiosa. E isso é que pesa para o evangélico, esse é nosso temor”. 

    Não à toa que em entrevista nesta terça-feira (18), ao canal Flow no Youtube, Lula fez questão de entrar numa pauta cara aos cristãos. “Dizem aí que o Lula é a favor do aborto. Eu sou contra o aborto! Sou contra porque o aborto é ruim para todo mundo, inclusive para o pai e para a mãe. Essa é minha posição particular. E quem tem que decidir isso é a lei e não o presidente da República. Está na hora de pararem de inventar coisas”, afirmou. 

     Pedido de desculpas

    No lado bolsonarista, num esforço de contenção de danos, Bolsonaro tem se voltado muito aos nordestinos e a eleitores de classes mais baixas, repetindo a toda hora os reajustes aplicados a programas sociais na pandemia e nesse ano de eleição. Ele também divulgou um vídeo pedindo desculpa pelas declarações que fez sobre meninas venezuelanas que vivem na periferia de Brasília. O presidente disse que na época a então ministra Damares Alves foi até o local e constatou que não se tratava de exploração sexual de menores, mas sim de um abrigo social. 

     “Elas estão reconstruindo suas vidas no Brasil e inclusive auxiliam outras venezuelanas a arrumarem emprego e recomeçar aqui. Então, se as minhas palavras foram retiradas de contexto por má-fé e causaram danos às jovens, eu peço desculpas, pois nosso objetivo é ajudar todo aquele que foge de governos autoritários pelo mundo”, disse o presidente na mensagem. 

    Esse caso, que tem rendido a Bolsonaro muitos ataques, é polêmico sob vários aspectos, a começar pela expressão ‘pintou um clima’, dita pelo presidente sobre as meninas. Na internet muitos eleitores questionam porque o chefe do Executivo não fez nada para proteger as meninas, ou então, se sabia que se tratava de um abrigo social e não de prostituição, por que ainda hoje usa termos sugerindo que as meninas fariam programas sexuais? A avaliação é de que elas, no mínimo, foram vítimas do machismo estrutural, já que foram taxadas de prostitutas porque estavam se arrumando e se maquiando, na descrição do próprio presidente. 

    Estrategistas da campanha de Bolsonaro trabalham para que esse olhar dele sobre as mulheres não custe caro demais em termos políticos. O pequeno comerciante Rafik Barakshuna, 25 anos, citou justamente esse aspecto para justificar sua escolha. “Já ouvi Bolsonaro falar muitas coisas sobre as mulheres e não há como ele ter meu voto. Fui criado por uma mulher, minha mãe, porque meu pai morreu muito cedo. E sou pai de uma menina. Além disso, acho que essa questão dos homossexuais já deveria ter sido acolhida em todo mundo e o presidente sempre mostrou resistência a isso”, justificou.

     Bolsonaro se ancora hoje em bispos e pastores, na distribuição gorda de emendas a aliados que o apoiam, em doações de empresários que têm superado bastante a arrecadação petista e no seu novo aliado, o ex-ministro e ex-juiz Sérgio Moro, eleito senador pelo Paraná, que tem o papel de trazer de volta o eleitor que se decepcionou com o presidente. 

    Lula, por sua vez, espera contar com nomes como Simone Tebet para quebrar resistência em alguns setores e nas camadas de renda mais alta, além desse movimento mais enfático aos evangélicos. É tentar furar a rejeição, disse à RFI o analista político Ricardo Ismael, da PUC Rio. “Se reduz a rejeição, o candidato pode capturar indecisos e mesmo virar votos. Lula tenta crescer entre os evangélicos, onde Bolsonaro domina. E Bolsonaro tenta crescer entre os mais pobres, especialmente entre famílias de até dois salários mínimos, faixa dominada por Lula”. Para o analista, “Lula saiu em vantagem, mas numa diferença pequena com duas semanas pela frente. Eleição portanto ainda indefinida”. 

    Assédio Eleitoral

    Nos últimos dias, a justiça eleitoral tem atuado de forma mais rígida e determinada a retirada do ar de muitos programas de ambos os candidatos, sob alegação de deturparem fatos e extrapolarem a lei. Além disso, cresceu muito o número de denúncias de assédio eleitoral, quando trabalhadores são pressionados e coagidos por seus patrões para que votem em determinado candidato. 

    Foram mais de 440 denúncias desse tipo levadas à justiça nestas eleições até aqui, segundo o Ministério Público do Trabalho. Só na última semana, houve um aumento de 160% nesses registros de uma semana para outra. Há casos que vão de fazendeiro que fez ameaças a seus empregados até lojistas que falam em demitir quem não seguir a orientação do empregador. 

    "Temos que banir esse absurdo do assédio eleitoral. O eleitor tem que ter a liberdade, no momento do voto, para que possa, com sua consciência, escolher o melhor candidato. Reitero aqui que o assédio moral é crime, e como crime será combatido. Aqueles que cometerem responderão civilmente e penalmente", disse o presidente do Tribunal Superior Eleitoral Alexandre de Moraes.

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