'É preciso mobilizar todos que se opõem a Bolsonaro e defendem a democracia e seu impeachment', diz José Dirceu
"A questão-chave é como unificar todas as forças políticas e sociais em defesa da democracia, tarefa difícil mas não impossível", escreve o ex-ministro José Dirceu
247 - O ex-ministro José Dirceu observa, em artigo publicado no site Poder 360, que as manifestações bolsonaristas do 7 de setembro mostraram que Jair Bolsonaro possui uma base social conservadora e de extrema-direita “que estará com ele em qualquer situação”. "Não devemos ter dúvidas. Bolsonaro almeja e quer dar um golpe e/ou impedir o calendário eleitoral e a posse do eleito. É contra as liberdades e direitos políticos e civis da Constituição de 1988 e não consegue conviver com eles. É preciso detê-lo antes que seja tarde e destrua nossa democracia que tanto nos custou conquistar. Temos que ampliar nossas forças e mobilizar todas e todos que se opõem a Bolsonaro e defendem a democracia e seu impeachment”, destaca.
Leia a íntegra do artigo.
Bolsonaro tomou a iniciativa e mobilizou seu exército –é verdade que parte literalmente paga, como comprovam os diferentes vídeos de entrega de R$ 100 e camisetas. Mas não vamos nos iludir. Uma enorme base social conservadora e de extrema-direita se mobilizou para apoiar o presidente e suas palavras de ordem, uma base que professa sua mesma visão de mundo e do Brasil, que estará com ele em qualquer situação ainda que não haja, no momento, uma definição do que fazer: impedir seu impeachment ou cassação pela Justiça Eleitoral, dar um golpe militar ou mesmo inviabilizar as eleições de 22.
Apesar do pouco público em Brasília –e mesmo em São Paulo– diante do volume de recursos envolvidos pela extrema-direita na mobilização, foi uma vitória de Bolsonaro e seus apoiadores. Não devemos subestimar sua capacidade de reagir às acusações e investigações e mobilizar suas bases e muito menos esquecer que conviveremos com o bolsonarismo por décadas.
Da defesa, Bolsonaro pretende partir para o ataque convocando o Conselho de Estado, iniciativa que pode nascer natimorta pela oposição da maioria de seus integrantes, mas que expressa um plano para inviabilizar as eleições. Se conseguir evitar o impeachment e a cassação, Bolsonaro quer chegar as eleições e disputar o 2º turno sem abrir mão de alternativas golpistas, que continua a perseguir tentando conquistar parcela importante das Forças Armadas, o que parece cada dia mais improvável até pelo seu isolamento político, social e institucional, e o crescente desgaste dos militares.
As declarações do PSDB, MDB, Solidariedade e mesmo PSD indicam que a possibilidade do impeachment passou a ser real. Mesmo nos partidos que compõem o chamado Centrão há indícios de divisões, o que se explica não apenas pela ofensiva golpista de Bolsonaro, mas pelo aumento da rejeição ao governo no empresariado que cresceu nas últimas semanas com manifestações públicas.
Os partidos que compõem a 3ª via e ainda não a viabilizaram podem estar tentados a encurtar o caminho para o 2º turno com a cassação de Bolsonaro, o que não significa que não haja base legal e constitucional para a medida extrema.
Superar as desconfianças
Ficou mais do que provada a correção das oposições de esquerda e populares de convocarem os atos de 7 de setembro até porque o Grito dos Excluídos é uma tradição de 27 anos. Importante o fato de o bolsonarismo não ter optado pela violência até porque não tinha condições objetivas para fazê-lo a não ser que quisesse dar o pretexto para sua remoção do cargo de presidente.
Os panelaços durante as manifestações bolsonaristas e após seu término, à noite, mostram que existem uma ampla maioria hoje que se coloca contra o governo. A questão-chave é como unificar todas as forças políticas e sociais em defesa da democracia, tarefa difícil mas não impossível.
Há divisões e visões diferenciadas de como enfrentar o golpismo tanto na direita como na esquerda e mesmo entre as diferentes classes sociais. Alguns querem atos sem Lula e o PT; outros sem os partidos que apoiaram o golpe contra Dilma; e outros, sem os que apoiaram Bolsonaro nas eleições de 2018 e em algum outro momento. Há uma desconfiança legítima nas esquerdas do risco de um acordão por cima para garantir a vitória de um candidato da direita liberal que hoje não tem chances de vitória.
É preciso ver como reagirão realmente os partidos de direita, os presidentes da Câmara e do Senado (Pacheco começou mal cancelando as sessões desta semana), o STF e a PGR frente à decisão de Bolsonaro de convocar o Conselho da República e, mais grave, frente às suas ameaças diretas e claras às instituições e à democracia.
E as Forças Armadas? Se manterão dentro da Constituição, o que significa não se envolver em hipótese alguma na solução da crise que o próprio presidente criou, ou atuarão de novo como ator político?
O que assistimos nas últimas semanas foi um ensaio de guerra psicológica promovida pelo bolsonarismo que nos faz lembrar o grito de guerra haka da seleção neozelandesa de rugby. Ele não intimidou ninguém apesar de alguns desavisados terem chegado a propor deixar as ruas só para o bolsonarismo para evitar confrontos, o que teria sido um gravíssimo erro.
Não devemos ter dúvidas. Bolsonaro almeja e quer dar um golpe e/ou impedir o calendário eleitoral e a posse do eleito. É contra as liberdades e direitos políticos e civis da Constituição de 1988 e não consegue conviver com eles. É preciso detê-lo antes que seja tarde e destrua nossa democracia que tanto nos custou conquistar. Temos que ampliar nossas forças e mobilizar todas e todos que se opõem a Bolsonaro e defendem a democracia e seu impeachment.
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