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    Em defesa de Bolsonaro e da cloroquina, procurador abre inquérito contra Sociedade Brasileira de Infectologia

    Procurador federal Ailton Benedito de Souza é o mesmo que, em maio, assinou recomendação para o governo de Goiás e 119 prefeitos adotarem o tratamento precoce com cloroquina, contraindicado por sociedade científica

    Eduardo Pazuello e Jair Bolsonaro segurando caixa de cloroquina (Foto: Reprodução)
    Juca Simonard avatar
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    Rede Brasil Atual - Defensor da “política” adotada pelo presidente Jair Bolsonaro no enfrentamento da pandemia de Covid-19, que já matou mais de 179 mil pessoas no Brasil, o procurador Ailton Benedito de Souza decidiu investigar a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). A entidade científica, que reúne especialistas na disciplina médica que se dedica ao estudo e ao tratamento de doenças causadas por vírus, bactérias, protozoários etc., divulgou nesta quarta-feira (9) um documento oficial com atualizações e recomendações que contraindica o tratamento farmacológico precoce para a doença, em que se destaca o uso da cloroquina.

    No documento, os infectologistas recomendam que os médicos não prescrevam o uso de cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina, nitazoxanida. Essa abordagem terapêutica, defendida de maneira ferrenha por Jair Bolsonaro e seus seguidores, não trazem benefícios ao tratamento das pessoas com Covid-19. A lista inclui ainda tratamentos a base de corticoides, zinco, vitaminas, anticoagulante, ozônio por via retal e dióxido de cloro.

    “Os estudos clínicos randomizados com grupo controle existentes até o momento não mostraram benefício e, além disso, alguns destes medicamentos podem causar efeitos colaterais. Ou seja, não existe comprovação científica de que esses medicamentos sejam eficazes contra a Covid-19”, diz trecho das recomendações.

    Protocolo da cloroquina

    No âmbito do Inquérito Civil nº 1.18.000.000947/2020-82, aberto no mesmo dia da publicação do documento da SBI, o procurador pede cópia de documentos que atestem a prerrogativa da entidade de emitir posicionamentos, bem como de estudos que respaldem a recomendação de antitérmicos e analgésicos. Além disso, questiona a entidade científica quanto ao conhecimento da Nota Técnica 17 do Ministério da Saúde, de agosto passado, que institui protocolo para uso da cloroquina. E se os estudos mencionados na nota não são considerados pelos infectologistas.

    Souza pede ainda declaração de ausência de conflito de interesse do presidente e diretoria da entidade com empresas que estão desenvolvendo, produzindo ou comercializando medicamentos, vacinas, insumos e equipamentos destinados ao enfrentamento da pandemia.

    Procurada pela reportagem, a Sociedade Brasileira de Infectologia não se manifestou. Por meio de sua assessoria de imprensa, informou que está tomando todas as medidas jurídicas cabíveis.

    Endossado por Bolsonaro

    Ailton Benedito de Souza é o mesmo procurador que em maio assinou recomendação do MPF aos governos do Estado de Goiás e de 119 municípios goianos para a adoção do chamado tratamento precoce da Covid-19.

    Em agosto, ele foi rejeitado pelo Conselho Superior do Ministério Público para uma cadeira na Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. Seu nome havia sido indicado pela ministra Damares Alves, chefe da pasta da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, e endossado por Bolsonaro. No entanto, foi rejeitado por Deborah Duprat, então na Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC).

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