General preso pela PF tentou convencer comandante do Exército nomeado por Lula a participar de trama golpista
Em reação, general Júlio César de Arruda, que viria a ser nomeado por Lula para comandar o Exército, teria expulsado Mario Fernandes do gabinete
247 - As investigações conduzidas pela Polícia Federal e pela Justiça revelaram detalhes sobre a tentativa de golpe de Estado em dezembro de 2022, orquestrada por um grupo de militares ligados ao governo de Jair Bolsonaro (PL). Segundo a coluna do jornalista Marcelo Godoy, do jornal O Estado de S. Paulo, o general de brigada Mário Fernandes, ex-comandante de Operações Especiais do Exército, teria pressionado o general Júlio César de Arruda, então chefe do Departamento de Engenharia e Construção (DEC) do Exército e futuro comandante da instituição, para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O episódio, ocorrido em 28 de dezembro, no Quartel-General do Exército, em Brasília, foi marcado pela tentativa de Mário de convencer Arruda a embarcar em um plano golpista, que incluía barrar a posse de Lula e, conforme apontado pela Polícia Federal, até mesmo a execução de Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
Segundo a reportagem, Mário, acompanhado por dois coronéis da reserva, exigiu ação imediata de Arruda, que assumiria o comando do Exército dois dias depois. Arruda, contudo, rechaçou a proposta, expulsou o trio de seu gabinete e ordenou que não retornassem enquanto ele estivesse no comando.
A investigação também revelou uma carta enviada por Mário Fernandes ao então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, na qual instigava ação imediata contra a posse de Lula. O texto fazia apelos dramáticos, afirmando: "É agora ou nunca mais, COMANDANTE, temos que agir!"
Além das mensagens, a Polícia Federal descobriu um documento no computador de Mário, intitulado "Fox_2017.docx". O arquivo detalhava um planejamento operacional com características terroristas, batizado de "Punhal Verde e Amarelo", que incluía equipamentos como metralhadoras, lança-granadas e fuzis para ações clandestinas.
Os militares envolvidos no esquema são acusados de desviar viaturas e fundos públicos, falsificar identidades e criar um grupo organizado com o objetivo de executar o plano golpista. No entanto, as investigações apontam que, no último momento, o plano foi abortado devido a insegurança entre os envolvidos e à ausência de ordens concretas de Jair Bolsonaro, que evitou declarar apoio direto à ação.
As mensagens obtidas pelos investigadores sugerem que, após a falha em impedir a posse de Lula, o grupo golpista voltou seus esforços para mobilizar a população, apostando em atos violentos como os que ocorreram em 8 de janeiro de 2023, com a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes.
Os golpistas almejavam replicar o cenário de 1964, quando o clamor popular foi usado como justificativa para a ditadura militar. A estratégia era pressionar oficiais e driblar o Alto-Comando do Exército (ACE), que se mostrou majoritariamente contrário à aventura golpista.
Boa parte dos militares investigados pertencem ao seleto grupo de Forças Especiais do Exército, conhecidos como "kids pretos", formados em cursos de operações especiais. Durante o governo Bolsonaro, muitos desses militares ocuparam cargos estratégicos, como o general Eduardo Pazuello e o próprio Mário Fernandes.
Apesar da resistência de alguns membros do Alto-Comando, como o general Freire Gomes, que se opôs à minuta do golpe apresentada por Bolsonaro, as ações do grupo golpista trouxeram temor às Forças Armadas, que agora tentam se desvencilhar da imagem de cumplicidade com extremistas.
O caso colocou em xeque a disciplina militar e expôs um racha dentro das Forças Armadas. Generais como Júlio César de Arruda e Marco Antônio Freire Gomes, que se opuseram ao golpe, mantiveram silêncio após os episódios, enquanto outros, como o general Dutra de Menezes, foram criticados por não terem desmontado acampamentos de bolsonaristas em frente ao Quartel-General.
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