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    Movimentos pedem liberdade de Assange no Dia Internacional dos Direitos Humanos

    Em carta entregue a órgãos diplomáticos do Reino Unido, movimentos sociais exigem a não extradição do fundador do Wikileaks

    (Foto: Fabricio Di Carvalho)
    Aquiles Lins avatar
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    Brasil de Fato - No marco do Dia Internacional dos Direitos Humanos, celebrado nesta quinta-feira (10), movimentos populares de todo o mundo pedem a liberdade do jornalista australiano Julian Assange, preso em Londres desde abril de 2019.

    Na ação organizada pela Jornada Internacional de Lutas Anti-imperialistas, uma carta aberta foi enviada a 100 órgãos diplomáticos do Reino Unido nos cinco continentes, pedindo a não extradição e o respeito à liberdade de imprensa no julgamento de Assange.

    “Julian Assange arriscou sua vida e sua liberdade por não permanecer em silêncio, por não aceitar que esses crimes permanecessem ocultos e impunes. Nestes tempos obscuros para a humanidade, precisamos de todas aquelas vozes que denunciam os crimes contra ela”, diz a carta.

    Entre os movimentos brasileiros que assinam o documento estão o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) e a Marcha Mundial das Mulheres (MMM).

    A petição, que conta com mais de 240 assinaturas, afirma que “há mais de dez anos, Julian Assange enfrenta uma perseguição implacável porque se negou a ficar em silêncio. Seu trabalho jornalístico revelou os terríveis abusos de regimes políticos que impõem o terror, o genocídio e a destruição para satisfazer seus interesses”.

    Assinam o documento juristas, jornalistas e ativistas que denunciam as irregularidades no caso Assange, no qual o jornalista é acusado por espionagem e conspiração nos EUA por ter tornado públicos diversos crimes de guerra cometidos pelo Exército norte-americano nas invasões ao Iraque e ao Afeganistão, podendo receber uma pena de 175 anos de prisão.

    Os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff também assinam a carta enviada às autoridades do Reino Unido.

    Em um artigo publicado no The Guardian em setembro deste ano, Lula afirmou que o Brasil tem uma dívida com Assange, devido ao seu trabalho no Wikileaks que, em 2016, tornou público os encontros ocorridos entre o governo interino de Michel Temer e funcionários do Departamento de Estado dos EUA para tratar de questões relativas à privatização do pré-sal brasileiro.

    Leia a declaração na íntegra:

    Liberdade para Julian Assange – Carta Aberta

    A pandemia de covid-19 está colocando em perigo toda a humanidade. A possibilidade de uma saída autoritária à crise se manifesta em muitos países do mundo. Frente às necessidades urgentes dos povos – saúde, comida, moradia, segurança –, os governos autoritários impoẽm repressão, perseguição e silêncio.

    Nestes momentos críticos para a humanidade, não podemos ficar em silêncio.

    Há mais de dez anos, Julian Assange enfrenta uma perseguição implacável porque se negou a ficar em silêncio. Seu trabalho jornalístico revelou os terríveis abusos de regimes políticos que impõem o terror, o genocídio e a destruição para satisfazer seus interesses.

    Enquanto esses crimes contra a humanidade continuam impunes, Julian Assange sofre uma punição terrível por se atrever a denunciá-los. O processo legal contra ele é um exemplo da utilização política das instituições do Estado contra o interesse geral. 

     Julian Assange não vê a luz do sol há mais de oito anos, sendo  submetido a tortura e isolamento. Como no caso de outros presos políticos, este tratamento busca acabar com a sua disposição e infligir uma punição exemplar para que outras vozes também se calem. Mas ele resiste, apesar das graves consequências para sua saúde mental e psicológica. Ele suporta a arbitrariedade e a injustiça com dignidade e rebeldia.

     Julian Assange disse ao tribunal que decide sobre sua possível extradição para os Estados Unidos: “Não aceitarei que censurem o testemunho de uma vítima perante este tribunal”. Somos milhões e não aceitaremos que silenciem sua voz, tampouco silenciaremos as nossas. Não estamos dispostos a abrir mão de ver o grave abuso ao qual está submetido.

     Nós, que apoiamos esta declaração, também nos solidarizamos com ele e com a sua família: com sua companheira, seus filhos e seus pais.

    Unimos nossas vozes às vozes de jornalistas de todo o mundo, que sabem que sua profissão será ainda mais perigosa se Julian Assange for extraditado, e que a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa serão objetos de uma perseguição ainda mais implacável.

    Unimos nossas vozes às vozes da população britânica, que assiste com indignação à submissão das instituições nacionais aos interesses de uma potência estrangeira, em uma aplicação grosseira da extraterritorialidade e desrespeito ao Estado de direito.

    Unimos nossas vozes às vozes das e dos ativistas e defensoras/es dos direitos humanos, que sabem que poderiam ser os próximos em sofrer a arbitrariedade, a perseguição e a tortura de Estados poderosos que buscam a vingança e não a justiça.

    Unimos nossas vozes aos juristas do mundo todo que têm alertado sobre as graves irregularidades do processo judicial contra Julian Assange e que temem que o Estado de direito seja ferido de morte caso Assange seja extraditado.

    Mas, acima de tudo, unimos nossas vozes às vozes das milhares de vítimas nos países que foram invadidos e atacados pelas forças militares de Estados poderosos, a todas as vozes silenciadas pela brutalidade da guerra, a todas as vítimas dos crimes cujos autores permanecem impunes até hoje. 

    Julian Assange arriscou sua vida e sua liberdade por não permanecer em silêncio, por não aceitar que esses crimes permanecessem ocultos e impunes. Nestes tempos obscuros para a humanidade, precisamos de todas aquelas vozes que denunciam os crimes contra a humanidade.

    Julian Assange não deve ser extraditado, Julian Assange deve ficar livre!

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