"Não basta retórica. Queremos medidas que solucionem problemas reais", diz Stedile sobre política agrária do governo Lula
Apesar da “boa vontade de Lula”, as ações não têm chegado a quem mais precisa, diz Stedile
247 - Principal liderança do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stedile voltou a criticar duramente o governo Lula (PT) pela falta de avanços na reforma agrária. Em entrevista à Folha de S. Paulo, Stedile afirmou que o MST está cansado de promessas repetidas e retórica oficial. “Não bastam mais propaganda, retórica, eventos e atos no Palácio. Nós queremos medidas concretas que solucionem problemas reais”, desabafou.
Stedile demonstrou ceticismo quanto ao pacote de medidas prometido pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira (PT), previsto para o fim deste ano. O plano inclui desapropriações, compras e transferências de terras de grandes devedores da União, além de recursos para assistência técnica a assentados. “Faz dois anos que eles falam em ‘pacotes’. Anunciaram a tal ‘prateleira de terras’ e tantas outras promessas embaladas como presente de Natal”, criticou.
Sem projeto de país e políticas públicas insuficientes - Na avaliação de Stedile, a falta de um projeto integrado de governo prejudica a execução de políticas públicas voltadas para a população mais pobre, incluindo trabalhadores rurais. Ele destacou que, apesar da “boa vontade de Lula”, as ações não têm chegado a quem mais precisa. “As políticas públicas não estão chegando nos mais pobres, das periferias e do campo”, disse.
Stedile alertou para a ausência de políticas estruturantes que enfrentem a pobreza rural e garantam emprego e renda. Ele mencionou os 4 milhões de camponeses mais pobres, que ainda não receberam apoio concreto. “Precisamos coordenar medidas que alcancem, de fato, os 70 milhões de trabalhadores na informalidade, criando programas de emprego e renda com base na reindustrialização do país".
Gestão falha e falta de recursos - As críticas mais contundentes foram direcionadas ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Para Stedile, a gestão dessas entidades é “no mínimo, vergonhosa”, devido à ausência de desapropriações e à paralisação de projetos essenciais, como o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) e a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater).
Segundo o líder do MST, 72 mil famílias seguem acampadas há anos, aguardando terras prometidas. “Temos 70 turmas de curso superior do Pronera que custam R$ 100 milhões e o governo não consegue atender”, exemplificou. Ele também lamentou a falta de recursos para habitação e a execução do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), considerado insuficiente.
Promessas não cumpridas e falta de diálogo direto - Stedile insinuou que ministros do governo Lula não estão sendo transparentes com o presidente sobre a realidade no campo. Ele mencionou uma reunião marcada com Lula para revisar os acordos estabelecidos em agosto, quando esperavam soluções mais concretas. “A impressão que temos é que, em geral, os ministros não falam a verdade para o presidente".
Mesmo diante das promessas do ministro Paulo Teixeira, Stedile vê pouco motivo para esperança. Ele citou como exemplo o anúncio de um curso de Administração Rural pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), feito há seis meses, mas que até agora não recebeu nenhum recurso para ser iniciado.
O MST, que desempenhou papel importante na eleição de Lula ao liderar mobilizações para derrotar a extrema-direita, agora cobra resultados. Para o movimento, a reforma agrária não pode ser postergada nem se limitar a anúncios simbólicos. “Os problemas, quando não resolvidos, só se agravam".
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