Perícia incompleta revela nova falha em investigação sobre assassinato de Marielle
A perícia incompleta não permitria concluir se não houve, de fato, nenhuma forma de contato do porteiro com Bolsonaro ou com alguém na casa dele. Entretanto, as promotoras do caso afirmaram, que o porteiro mentiu quando afirmou que o ex-policial Élcio Queiroz, preso acusado de envolvimento no crime, tinha solicitado autorização na portaria para visitar a casa de Bolsonaro no dia do assassinato de Marielle, em 14 de março de 2018, antes de de se dirigir à casa de Ronnie Lessa
247 - Reportagem do El País evidenciou nesta quinta-feira (31) mais uma falha nos trabalhos de investigação sobre o assassinato de Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes.
A Promotoria não examinou a possibilidade de que os arquivos de áudio que tratam da entrada de visitantes no condomínio de Jair Bolsonaro e do ex-policial Ronnie Lessa, acusado de ser o atirador que matou a vereadora, tenham sido alterados antes de enviados às autoridades.
Foi com base nessas gravações que as promotoras do caso afirmaram, na quarta-feira, que um dos porteiros do condomínio de luxo mentiu em depoimento, quando afirmou que o ex-policial Élcio Queiroz, preso acusado de envolvimento no crime, tinha solicitado autorização na portaria para visitar a casa de Bolsonaro no dia do assassinato de Marielle, em 14 de março de 2018, antes de de se dirigir à casa de Ronnie Lessa.
O porteiro disse ter conversado com "seu Jair" a respeito do desvio de destino de Queiroz. As declarações do funcionário do condomínio coincidem com o que ele mesmo anotou em uma planilha manuscrita de controle de visitantes do local, mas não com os áudios da guarita de segurança em posse dos investigadores. Na data, Jair Bolsonaro estava em Brasília.
Na conversa com os jornalistas sobre o assunto, a promotora Simone Síbilio, disse que o porteiro mentiu e que sua versão não condizia com a prova técnica do caso. A promotora detalhou que nos áudios entregues pelo síndico do condomínio foi possível identificar que Lessa atendeu o interfone, e não "seu Jair" como disse o porteiro, e que, portanto, foi o ex-policial quem autorizou a entrada do seu parceiro Élcio para, então, seguirem para o local do assassinato da vereadora.
Depois de ser questionada na entrevista sobre como foram periciados e examinados esses áudios, a promotora disse apenas que não foi identificada "nenhum fraude" pelos técnicos da promotoria nos quesitos investigados. No entanto, o laudo obtido pelo El País e por outros veículos jornalísticos nesta quinta-feira mostra que entre os quesitos investigados não estavam a possibilidade de exclusão de arquivos de áudio no dia do assassinato.
O laudo também mostra que os peritos da promotoria não tiveram acesso ao equipamento do condomínio, portanto não teriam como verificar se houve inserção de arquivos com data e hora forjada ou se houve exclusão de arquivos.
Na próprioa quarta-feira, a Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF) já havia criticado a falta de um trabalho abrangente nos áudios para "sanar todas as dúvidas e impedir que, no futuro, prosperem teorias fantasiosas a respeito do episódio e da suposta menção ao nome do presidente da República".
Questionado sobre essa questão na quinta-feira, o Ministério Público do Rio afirmou apenas que "na mídia enviada pela Delegacia de Homicídios não há indícios de adulteração no dia 14/03 ou em qualquer outro dia entre os meses de janeiro e março".
Na planilha manuscrita de visitantes do condomínio, exibida no Jornal Nacional e a qual o El País também teve acesso, o porteiro anotou que Élcio seguiu para a casa 58, de Bolsonaro, e não para a casa 65, de Lessa. A planilha revela 19 entradas de visitantes entre 15h e 18h42 no condomínio, mas o laudo do Ministério Público não expressa se cada acesso corresponde exatamente ao respectivo áudio do horário aproximado disponibilizado pelo condomínio.
A planilha, aliás, ilustra outra falha na investigação. Os investigadores só souberam da existência dela em outubro, depois que receberam os dados extraídos do celular de Ronnie Lessa em uma perícia feita pela empresa israelense Cellebrite, solicitada pela Promotoria. Questionada se a planilha poderia ter sido apreendida antes, quando Lessa foi preso, a promotora Letícia Emile admitiu: "Foi um erro de análise".
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