Salles deveria ser exonerado "imediatamente", defende Ricardo Galvão
O ex-diretor do Inpe, Ricardo Galvão diz "não vai ter como governo resistir à pressão nacional e internacional" e que o governo do Bolsonaro "tem uma ideologia, uma agenda oculta, vamos dizer assim, de ser contra o controle do desmatamento"
247 - "Apesar do governo Bolsonaro, tem muitos grupos atuando na defesa do nosso meio ambiente, da Amazônia. Eu acredito que essa pressão nacional e internacional vai ter efeito, não vai ter como o governo resistir a isso. Vai chegar um momento que ele não vai poder ficar mais só nas palavras. Eu espero que ele mude. E tem uma coisa que eu acho que o governo Bolsonaro não vai fazer, mas deveria, que é exonerar o Ricardo Salles imediatamente. E escolher um ministro que pudesse fazer um trabalho muito melhor para o país", defende o físico e engenheiro Ricardo Galvão, em entrevista ao Ecoa. Galvão foi diretor do Inpe entre 2016 e 2019 e foi exonerado do cargo ao defender a credibilidade do monitoramento realizado pelo Instituto — que trouxe a informação do aumento em 88% no desmatamento da Amazônia.
O Inpe se transformou na pedra no sapato para o governo Jair Bolsonaro. O órgão é responsável por monitorar e produzir dados sobre as queimadas em biomas brasileiros.
"Temos visto diversos embates com governos por causa desses dados. O INPE está provendo dados sólidos, científicos que desagradam as autoridades. Que vai contra o que eles dizem. E essa é a parte difícil", enfatiza.
Galvão lembra que no governo Lula, em 2004, com a Marina Silva como ministra do Meio Ambiente, foi criado o Deter, que dá alertas diários de desmatamento.
"O embate de 2008 com esse governo foi causado pelo governador Blairo Maggi, do Mato Grosso, mas que foi rapidamente resolvido quando a ministra Marina organizou uma reunião em Brasília com ele, o presidente Lula, o diretor do Inpe e um representante do Ibama. Nessa reunião, ela fez uma proposta irrecusável. 'Olha, então se o senhor governador está duvidando dos dados do Inpe, nós vamos fazer um sobrevoo nas áreas que o Instituto diz estarem sendo desmatadas'. O governador disse que não. Bastou fazer isso e o problema foi resolvido", lembrou.
E segue: "A diferença agora é que todos esses governos receberam esses dados que os desagradaram, mas reagiram para fazer algo a respeito e melhorar a situação. Esse governo [atual] não, esse governo do Bolsonaro tem uma ideologia, uma agenda oculta, vamos dizer assim, de ser contra o controle do desmatamento. De ser contra o controle ambiental".
Para Ricardo Galvão, não se pode acusar Bolsonaro de mentir na campanha. "Pelo contrário, era exatamente isso que ele propôs fazer. A culpa é nossa, do povo brasileiro, por ter votado em alguém que dizia que agiria contra a proteção do meio ambiente, que criticava os fiscais do Ibama, que disse que não daria mais nenhum centímetro de terra para os indígenas, e assim por diante".
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