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    Stedile: MST vai aproveitar CPI para mostrar crimes dos ruralistas e se manterá ao lado do governo Lula, apesar das críticas

    “Vamos utilizar aquele palco para denunciar os crimes do latifúndio, invasões das terras indígenas, o trabalho escravo, as invasões de terras quilombolas", disse o dirigente do MST

    João Pedro Stedile (Foto: Reprodução/MST)
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    247 - Integrante da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem terra (MST), João Pedro Stedile diz que a CPI do MST instalada pela Câmara dos Deputados para investigar o movimento campesino tem como objetivo esconder os crimes ambientais do agronegócio. O movimento, segundo ele, irá “tentar fazer do limão uma limonada”.

    "Vamos utilizar aquele palco para denunciar as invasões das terras indígenas, o trabalho escravo, as invasões de terras quilombolas, o uso abusivo dos agrotóxicos”, afirmou Stedile em entrevista à coluna da jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo.

    Questionado sobre as críticas às recentes ocupações de terras feitas pelo MST, que foram reprovadas até por integrantes do primeiro escalão do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Stedile afirmou que “certos agentes públicos se encagaçaram com a luta social". Ainda segundo ele, o governo federal está "lento" e o MST, mesmo defendendo a gestão do presidente Lula (PT), aumentará a "pressão social".

    Para ele, a CPI do MST - a quinta direcionada contra o movimento social - “de consequência real ela não terá nada, porque nós não cometemos crime nenhum, não há fato [para ser investigado]”.

    “Ao focar no MST, que é pública e notoriamente um movimento de esquerda que apoia o Lula e que, sem falsa modéstia, é atuante, os deputados ruralistas tentam jogar os holofotes contra nós para proteger os crimes ambientais que estão cometendo. Quem promove os desmatamentos? Querem esconder o lado sujo deles. Querem esconder as invasões que fazem nas áreas indígenas. E nos chamam [de invasores]. Até manipulam esse conceito jurídico, pois as nossas ocupações não têm nada a ver com invasão”, ressaltou Stedile. 

    “Vamos utilizar aquele palco para denunciar os crimes do latifúndio, as invasões das terras indígenas, o trabalho escravo, as invasões de terras quilombolas, o uso abusivo dos agrotóxicos que causam câncer e têm matado silenciosamente milhares de brasileiros. Nós vamos tentar, como dizia o nosso deputado Adão Preto [fundador do MST e morto em 2009], transformar o limão numa limonada”, disse mais à frente. 

    Na entrevista, Stedile também criticou o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e afirmou que o político “também está entre os ruralistas, e [tem os mesmos] interesses deles de peitar o governo, de fazer com que libere mais verbas, emendas. Esse é o jogo que ele faz. Nós somos só uma peça aí que ele usa, de acordo com os interesses dele”. 

    Para o dirigente, “a CPI está [inserida] muito mais num cenário de luta ideológica da extrema direita, que quer nos acuar com essa luta permanente para tentar inibir as ações do nosso movimento. Agora, as nossas ações não têm nada a ver com o Legislativo ou com a direção nacional do MST. Elas são decididas pela nossa base, diante das necessidades”.

    “São 80 mil famílias acampadas que agora veem uma possibilidade de resolver os seus problemas, já que o próprio Lula se comprometeu durante a campanha [a fazer a reforma agrária]”, observou. 

    Apesar disso, Stedile também disse que “o governo está muito lento. Já perdeu muito tempo. Em cem dias, já deveria ter adotado um programa de emergência de combate à fome, com a compra de alimentos. E apenas agora estão anunciando recursos para isso. Um volume maior de alimentos demora cinco, seis meses para ser disponibilizado para quem precisa”.

    Apesar das críticas, Stédile disse que o MST seguirá apoiando o governo Lula. “O que a determina a luta é se os problemas sociais estão ou não resolvidos. Nós vamos pressionar. Mas vamos defender o governo Lula. Não porque somos puxa-sacos, mas porque precisamos defendê-lo de seus verdadeiros inimigos, que são os inimigos da classe trabalhadora: o capital financeiro que não quer baixar os juros, o latifúndio atrasado, a extrema direita. Ao mesmo tempo, o MST vai manter a sua autonomia, de governos, de igrejas e de partidos —por mais que legendas de esquerda torçam o nariz”.

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