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    Tarcísio emerge como vencedor das eleições e buscará construir frente contra Lula, diz Singer

    Cientista político avalia que o governador paulista entende a necessidade de uma coligação ampla para desafiar Lula em 2026

    André Singer (Foto: Foto: Marcos Santos/USP Imagens)

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    247 – Em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo, o cientista político André Singer, professor titular do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP) compartilhou suas impressões sobre o cenário político desenhado pelas eleições municipais de 2024. Singer destaca que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), emerge como o grande vencedor no campo bolsonarista, mas com uma compreensão diferente da tradicional abordagem ideológica. “Tarcísio se apresenta como um líder bolsonarista, mas enfatiza que sem unidade não é possível vencer”, afirmou o professor. No entanto, Singer pondera: “Agora, se ele conseguirá alcançar essa unidade, não sei”.

    Em vez de se ater estritamente ao bolsonarismo clássico, Tarcísio demonstra, segundo Singer, uma inclinação para unir diversas vertentes da direita. Essa postura se manifestou no apoio ao prefeito reeleito Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo, que contou com uma ampla coligação do centro à direita. “Ele se projeta como um líder bolsonarista para a corrida ao Planalto, mas, ao contrário do bolsonarismo tradicional, Tarcísio entende que precisará criar uma unidade em torno de seu nome para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026”, avalia o cientista político.

    Desempenho da esquerda e os desafios de Lula

    A análise de Singer também incluiu o desempenho do campo da esquerda, que, segundo ele, não teve bons resultados nas principais capitais do país, como Porto Alegre, Belo Horizonte e São Paulo. Para o professor, a avaliação apenas regular do governo federal até o momento reflete uma aceitação moderada entre os eleitores e levanta a necessidade de uma estratégia mais sólida para a esquerda. “Para Lula, a eleição de 2026 exigirá uma melhora na avaliação do governo para garantir a reeleição. O desempenho de agora não foi suficiente para gerar uma onda positiva como em 2012”, explica Singer, lembrando que o cenário político e econômico atual impõe desafios diferentes dos enfrentados anteriormente.

    Mudanças na base popular e os desafios do discurso da esquerda

    Singer sugere que pode estar em curso uma transformação entre setores populares, que, embora ainda sejam base de apoio do lulismo, apresentam novas demandas que vão além da tradicional política de assistência social. Segundo ele, o fenômeno observado tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos aponta que, apesar de bons indicadores econômicos, há um distanciamento entre governo e eleitores, especialmente entre as camadas de renda intermediária. “Esse fenômeno estranho, em que emprego e bons índices econômicos não se traduzem em apoio eleitoral, aponta para uma possível mudança estrutural”, diz Singer.

    Quando questionado sobre a adaptação do discurso da esquerda a esse novo contexto, Singer adverte que adotar a “ideologia do empreendedorismo”, que ele considera fundamentalmente anti-esquerda, seria um erro. No entanto, ele propõe que a esquerda explore maneiras de adaptar suas políticas para incluir trabalhadores informais e de plataformas digitais, por exemplo, criando centros de apoio voltados a esses setores. “A esquerda não deve abandonar o Estado como um agente de apoio, mas pode pensar em novas formas de atender as demandas de uma classe trabalhadora que está em uma nova condição”, sugere.

    A divisão da direita e a ascensão de novas lideranças

    Outro ponto relevante observado por Singer é a divisão do campo da direita, especialmente com o surgimento de lideranças da extrema direita que questionam a figura de Jair Bolsonaro. A candidatura de Pablo Marçal (PRTB) em São Paulo foi um exemplo dessa fragmentação. Segundo Singer, esse cenário indica o fortalecimento de uma nova geração de lideranças de extrema direita, que pode representar um desafio tanto para a esquerda quanto para a direita moderada. “O bolsonarismo, que parecia ser um fenômeno limitado à figura de Bolsonaro, agora se estende a novas lideranças que defendem o que eu chamaria de ‘bolsonarismo sem Bolsonaro’”, afirma Singer.

    Para o cientista político, essa renovação da direita representa um fenômeno geracional que se manifesta como uma reação ao longo ciclo de governos de centro e de esquerda no Brasil desde a redemocratização. A extrema direita emergente, segundo ele, encontra ressonância nas camadas mais jovens, o que pode ter reflexos duradouros no cenário político.

    Perspectivas para 2026

    Singer conclui que, para o presidente Lula, a estratégia de coalizão ampla, mantida desde 2022, é fundamental para enfrentar a nova realidade política, mas não garante um cenário confortável para 2026. “A escolha de Lula de apoiar alianças amplas é coerente com sua visão de 2026, mas ele precisará trabalhar para melhorar a avaliação de seu governo nos próximos dois anos se quiser garantir a reeleição”, pondera. Enquanto isso, Tarcísio de Freitas se destaca como uma figura de unidade no campo da direita, embora enfrente o desafio de consolidar uma aliança coesa que vá além do bolsonarismo tradicional.

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