Clima e insegurança alimentar desafiam a agricultura global, diz diretor da FAO
Kaveh Zahedi essaltou que os eventos climáticos extremos têm contribuído para o aumento da fome no mundo, afetando mais de 700 milhões de pessoas
247 - O impacto das mudanças climáticas sobre a segurança alimentar e a produção agrícola global foi destacado por Kaveh Zahedi, diretor do Escritório de Mudanças Climáticas, Biodiversidade e Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), durante a Coalizão do Ar e do Clima, em Brasília. Em declaração dada neste mês de março, ele ressaltou que os eventos climáticos extremos têm contribuído significativamente para o aumento da fome no mundo, afetando mais de 700 milhões de pessoas.
"A mudança do clima e os conflitos são duas das principais razões que provocam a insegurança alimentar", afirmou Zahedi. "Inundações e secas reduzem os rendimentos e a capacidade de produção. A crise climática aumenta eventos extremos e também eleva a incidência de pestes e doenças, diminuindo os ganhos e afetando a produtividade." Segundo um relatório da FAO, as perdas globais nas produções agrícola e pecuária, devido a desastres climáticos, somaram US$ 3,8 trilhões nos últimos 30 anos, o equivalente a 5% do PIB agrícola anual.
Zahedi defendeu que a solução passa por aliar resiliência e adaptação à redução de emissões de gases de efeito estufa. "Temos abordagens e tecnologias que podem ajudar a construir resiliência climática, promover a adaptação e reduzir as emissões. Isso inclui pecuária, aquicultura e agroflorestas mais sustentáveis, bem como a restauração de terras degradadas. Essas ações beneficiam o clima e contribuem para a segurança alimentar", explicou.
Financiamento e diversidade como soluções
O diretor da FAO destacou a necessidade de US$ 1,3 trilhão anuais para transformar a agricultura e os sistemas alimentares em sustentáveis e resilientes. "Nem todo esse valor virá do financiamento climático, mas ele é um verdadeiro estímulo para mudar como investimos na agricultura", disse. Apesar dos compromissos de aumentar o financiamento climático para US$ 1,3 trilhão, apenas 5% desse total atualmente se destina à agricultura e aos sistemas alimentares.
Outro ponto levantado por Zahedi é a importância da diversidade genética e dos sistemas tradicionais de produção de alimentos. "Estamos vendo uma verdadeira redução na diversidade genética dos alimentos, o que aumenta os riscos diante da mudança do clima. As comunidades locais são as guardiãs dessa diversidade e, por meio do programa Sistemas Importantes do Patrimônio Agrícola Mundial (SIPAM), celebramos essa agricultura tradicional que constrói resiliência há centenas de anos", destacou.
Tecnologia na promoção de segurança alimentar
Zahedi também enfatizou o papel das tecnologias na mitigação e adaptação à mudança do clima. "Nem tudo precisa ser alta tecnologia. Sistemas de alerta precoce podem ajudar agricultores a antecipar eventos climáticos extremos, enquanto práticas simples, como alternar o alagamento e a secagem na rizicultura, podem reduzir as emissões de metano", exemplificou.
Na pecuária, a mudança na alimentação do rebanho também é uma solução para diminuir as emissões. "Temos uma mistura de alta e baixa tecnologia que pode nos ajudar a construir resiliência, reduzir emissões e promover segurança alimentar", afirmou.
Conexão entre fome e crise climática
A Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, lançada no G20 Brasil, foi apontada por Zahedi como um mecanismo vital para enfrentar a insegurança alimentar. "Como podemos viver em um mundo onde 730 milhões de pessoas ainda passam fome? A Aliança lida com um dos problemas centrais do desenvolvimento e coloca pacotes de políticas públicas na mesa para promover mudanças, seja ajudando agricultores com sistemas de seguro ou com outras políticas", explicou.
A importância de conectar a segurança alimentar à crise climática também foi reforçada. "Segurança alimentar e fome zero estão no centro do mandato da FAO. Quanto mais diversidade tivermos, maior será a segurança alimentar", concluiu Zahedi.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: