"Bolsonaro fortaleceu o machismo e amplificou as vozes da violência contra a mulher", diz cantora Márcia Lisboa
Em participação no programa Um Tom de resistência, na TV 247, cantora e escritora carioca cantou sucessos da MPB e do seu repertório autoral e falou sobre o atual momento social e político do país. “O bolsonarismo veio para dar voz aos machistas que estavam calados e escondidos”. Assista
247 - Música, arte e ativismo social estiveram em pauta no programa “Um Tom de resistência” da última semana na TV 247. O apresentador Ricardo Nêggo Tom recebeu o compositor e ativista Edinho Batista e a cantora, compositora, escritora e educadora Márcia Lisboa. Morador da Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, Edinho falou sobre como surgiu a ideia de ensinar música para as crianças da comunidade.
“O projeto ‘Morro de Amor’ surgiu a partir das rodas de viola que rolavam no quintal de casa com os amigos. E um tio da minha esposa sugeriu, em tom de brincadeira, criar o Tabajara Music, que era uma piada por conta do Casseta e Planeta. E ele me apresentou um instrumento que eu não conhecia, que é o ukelele. E conhecendo o instrumento, percebi que ele seria ideal para iniciar uma criança nas cordas, em função de sua tensão ser mais baixa e não machucar as mãos ao executá-lo. E eu o coloquei como o instrumento base do projeto”, relata o compositor.
O projeto conta com aulas de diversos instrumentos e já recebeu apoio de alguns músicos famosos como Roberto Frejat e Mart'nália. “Temos aulas de violão, guitarra, percuteria, teclado, escaleta, entre outros. O projeto ainda não tem patrocinadores, mas temos alguns apoiadores. 95% dos instrumentos que temos foram doados pela Paula Leal, que é a madrinha oficial do projeto e que já ajudava a Orquestra da Maré. Foi a primeira porta que eu bati em busca de apoio. Além dela, o Roberto Frejat nos doou três cavaquinhos em nome da Giannini e a Mart'nália também nos doou um violão.” Sobre a experiência de trabalhar com crianças, Edinho considera que é uma troca. “Eu aprendo mais do que ensino. Isso me ajuda na minha reciclagem musical, porque eu preciso aplicar uma didática diferente nas aulas, por estar apresentando a elas um universo novo. É um prazer muito grande poder estar fazendo esse trabalho.”
Bolsonarismo, racismo e violência contra a mulher
Na segunda parte do programa, Márcia Lisboa soltou a sua bela voz para cantar, falar de música, arte e política. Acompanhada pelo compositor, violonista e companheiro Marcelo Pfeil, ela apresentou músicas do seu repertório e sucessos da MPB que influenciaram a sua carreira. “É sempre muito difícil falar de referências e influências. Durante a minha infância, meu falecido pai me apresentou a MPB. Eu cresci ouvindo Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil. E na adolescência eu me apaixonei pela Bossa-Nova e comecei a gostar do João Gilberto, Vinícius, Toquinho, Tom Jobim e a Nara Leão, uma cantora muito importante da época. Eu gosto muito dessa mistura da Bossa com elementos do Samba e com influências do Jazz”. Marcelo Pfeil lembrou que “Tom Jobim foi influenciado pelo Johnny Alf. Ele ia nos pubs de Copacabana para vê-lo tocar. Foi uma grande referência para ele.”
Perguntada se o elemento racial havia subestimado a importância do cantor e compositor Johnny Alf, um dos precursores da Bossa-Nova, Márcia respondeu: “Com certeza, tem o elemento étnico e racial envolvido nessa questão. A cor da pele.” Ela se declara uma preta de pele clara. “Eu sou filha de uma mulher preta com um homem branco. O meu avô era português e a minha avó materna era preta. Eu tenho metade da família branca e a outra metade misturada. E as pessoas que têm esse colorismo, porque eu me declaro uma preta de pele clara, criam uma certa polêmica. Muitos me olham e não me identificam dessa forma. Alguns dizem que eu sou quase branca. É como se me faltasse algo. Passei a infância e a adolescência ouvindo isso.” Falando de política, a cantora criticou a visão neoliberal e avaliou que ‘um Estado fraco, pensando apenas em conceitos mercadológicos, não funciona.”
A cantora também falou sobre feminismo, feminicídio e a respeito da influência do bolsonarismo no aumento da violência contra a mulher no Brasil. “O aumento do feminicídio e o bolsonarismo são coisas que não dá para separar. Mas é preciso fazer algumas análises a respeito. Nós temos uma nova geração de feministas, além das outras militantes que já vêm há tempos nessa luta. Muitas conquistas caíram no colo da minha geração, mas eu também tive que lutar por algumas. Hoje, temos muitas adolescentes feministas e elas ainda terão que lutar muito, porque o machismo é muito forte no País e o bolsonarismo veio para dar voz aos machistas que estavam calados e escondidos. Bolsonaro fortaleceu o machismo e amplificou essas vozes. Ele amplificou as vozes da violência contra a mulher. Ele disse assim: ‘Está tudo bem bater em mulher.’ Mulher para ele é uma fraquejada. Porque depois de ter tido quatro filhos homens, veio uma menina. E ele acha que isso é brincadeira. Eu, como mulher, não aceito esse tipo de brincadeira.”
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