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    Brasil perde o mestre Ziraldo, símbolo maior da cultura brasileira

    Autor da “Turma do Pererê” o do “Menino Maluquinho”, de permanente inquietação criativa, ele era um gênio com muitas facetas

    Ziraldo (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

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    Por Regina Zappa, 247 - Pintor, chargista, caricaturista, cartazista, jornalista, teatrólogo e escritor, Ziraldo Alves Pinto, que acaba de nos deixar, aos 91 anos, era muitos em um só. Irrequieto e obcecado pelo trabalho, costumava dizer que não existe gênio ou talento sem obsessão. Certa vez, de madrugada, foi acometido por uma terrível dor de dente. Procurou um atendimento odontológico de emergência e rumou para lá. Apesar da dor e desconforto, no trajeto de sua casa até o dentista, um percurso que não durou mais de 15 minutos, Ziraldo bolou três páginas da Supermãe, quadrinhos que inventou para adultos, depois de criar inúmeras histórias infantis como “Turma do Pererê”, “Flicts” e “O Menino maluquinho”.

    Símbolo maior da literatura infanto-juvenil, inventor de histórias e quadrinhos que povoam desde sempre o imaginário de várias gerações de brasileiros, um dos nossos maiores chargistas e um dos grandes sucessos editoriais do país, Ziraldo era dono de um carisma extraordinário. Sempre que participava de bienais do livro era a atração que provocava as maiores filas de admiradores em busca de um autógrafo. Onde havia um tumulto, já se sabia que Ziraldo estava por ali, autografando livros e tirando fotos com os fãs.

     Não há quem não reconheça o traço dele em centenas de camisetas, cartazes, cartilhas e campanhas publicitárias pelo Brasil afora. Ziraldo chegou ao Rio nos anos 50 e começou sua carreira em jornais e revistas de expressão, como Jornal do Brasil, O Cruzeiro, Folha de Minas. Sua inquietação criativa fez com que deixasse, em 1949, sua Caratinga natal, onde nasceu em 1932. Desde cedo, revelou sua paixão pelo desenho e pela leitura, sobretudo de revistas em quadrinhos.

    Ziraldo era uma máquina, uma fábrica com uma linha de produção em constante e frenético funcionamento. Publicou centenas de títulos, entre livros e revistas. Nos anos 1960, revolucionou o mercado editorial do país quando lançou a primeira revista em quadrinhos brasileira feita por um só autor: a “Turma do Pererê”, um marco que ele próprio admitia ser uma das suas mais importantes criações, na qual os brasileiros se reconheciam brasileiros. 

    Em 1969, publicou seu primeiro livro infantil, “Flicts”, a história de uma cor que não encontrava seu lugar no mundo. O astronauta e primeiro homem a pisar na lua, Neil Armstrong, recebeu de presente seu livro e escreveu a Ziraldo: “A lua é Flicts”.

    Em plena ditadura, em 1969, junto com o colega Jaguar e os jornalistas Tarso de Castro e Sérgio Cabral fundou “O Pasquim”, semanário de humor da contracultura que virou um fenômeno editorial brasileiro, um verdadeiro celeiro de humoristas que desafiava o regime militar. Foi preso e perseguido pela ditadura. Mas continuou a publicar suas charges e cartuns políticos, tornando-se uma das grandes vozes em defesa da democracia. Foi filiado ao Partido Comunista Brasileiro, depois ao PSOL, sempre declarou apoio a Lula e Dilma e, depois, Fernando Haddad.

    Em 1980, lançou o grande sucesso, ganhador do prêmio Jabuti, “O Menino maluquinho”, o menino com uma panela na cabeça, que se tornou um dos maiores fenômenos editoriais da literatura infantil, com mais de 4 milhões de exemplares vendidos até hoje e adaptações para o teatro, cinema, série de TV e até ópera. Seus trabalhos foram traduzidos mundo afora em inglês, espanhol, alemão, francês, italiano e basco. “Supermãe”, “Jeremias, o bom”, “Mineirinho - o Comequieto”, quem não se lembra? 

    Ziraldo morreu em seu apartamento na zona sul do Rio de Janeiro, de causas naturais. Ele era único, um gênio do humor, do traço e da escrita. Como disse o presidente Lula, o Brasil perdeu um de seus maiores expoentes da cultura. Viva Ziraldo!

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