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      Dinarco Reis: o militar que ingressou nas fileiras comunistas

      Socialista radical, comunista Dinarco Reis entendia como ninguém das teorias de Karl Marx e de F. Engels e foi o responsável pela expulsão dos quadros do partidos dos veteranos João Amazonas, Diógenes Arruda e Pedro Pomar, que fundaram em 1962 o Partido Comunista do Brasil, PC do B, uma dissidência do Partido Comunista Brasileiro; reportagem de Renato Dias

      Socialista radical, comunista Dinarco Reis entendia como ninguém das teorias de Karl Marx e de F. Engels e foi o responsável pela expulsão dos quadros do partidos dos veteranos João Amazonas, Diógenes Arruda e Pedro Pomar, que fundaram em 1962 o Partido Comunista do Brasil, PC do B, uma dissidência do Partido Comunista Brasileiro; reportagem de Renato Dias (Foto: Roberta Namour)
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      Por Renato Dias, do Diário da Manhã

      Ele ingressou no Partido Comunista do Brasil [PCB], em 1932, dez anos após a sua fundação [Março de 1922] e dois anos antes do Cavaleiro da Esperança, o gaúcho Luís Carlos Prestes, que acabou bancado por Dimitri Manuilski, em 1934. De origem militar, era membro do Exército e participou da insurreição abençoada pela IIIª Internacional Comunista, Komintern, que fracassou em novembro de 1935 no Brasil patropi. É Dinarco Reis, morto em 1988. Quem conta com exclusividade ao Diário da Manhã a sua complexa história é seu rebento Dinarco Reis Filho, nascido em 1932, que preside, hoje, a Fundação Dinarco Reis e participa, neste sábado, em Goiânia e Aparecida de Goiânia, da abertura do Cursinho Popular, Dirce Machado, às 8h. Até 12h. Um ritual de i­ni­­ciação à liturgia de Karl Marx, F. Engels e Vladimir Ulianov Lênin.

      Preso após o putsh militar comunista, ele enfrentou as cadeias de Getúlio Vargas, o presidente da República nacional-estatista que virou ditador com o Estado Novo, e o cuiabano Filinto Muller, chefe da polícia política da União, que nutria um ódio particular a Prestes, por ter sido expulso da coluna Miguel Costa – Prestes, que percorreu o Brasil de 1924 a 1927, acusado de corrupção. O movimento possuía um ideário liberal. Depois de amargar os dissabores da cadeia, ele voltou à clandestinidade para auxiliar na reconstrução do Partido, devastado pela feroz repressão política e militar. Revolucionário, participou, com Apolônio de Carvalho e Davi Capistrano da última guerra utópica e romântica do século XX, a guerra civil espanhola, que opôs os republicanos aos golpistas liderados pelo general Francisco Franco [1936-1939].

      Dinarco Reis acabou detido, depois da derrota dos republicanos na Espanha, em campos de concentração. O homem acabou fugindo para a França, onde encontrou-se em Marseille, com Apolônio de Carvalho, que organiza a resistência contra os nazistas, que haviam ocupado a França. O seu filho conta ao Diário da Manhã que o ex-segundo tenente da Aviação do Exército Brasileiro, integrou a heroica Front Populaire. Antes do término da segunda guerra mundial, que uniu a URSS [União das Repúblicas Socialistas Soviéticas], pátria-mãe do socialismo mundial à época, Estados Unidos das Américas e Inglaterra, contra Alemanha, de Adolf Hitler, Itália, de Benito Mussolini, e o Japão, ele embarcou para Portugal, seguiu ainda para a Venezuela e retornou ao Brasil. Ele organizou a Conferência da Mantiqueira, sendo responsável por sua segurança,  frisa.

      - Ainda criança, viajei muito, acompanhando meu pai em missões clandestinas!

      Responsável pelo Setor Camponês do chamado Partidão, Dinarco Reis executava também missões especiais, relata. Uma delas ocorreu no norte do Estado de Goiás, registra o líder do novo PCB. O movimento ficou conhecido com a “Revolta de Trombas e Formoso”. O seu principal dirigente era o líder camponês José Porfírio de Sousa, de linhagem comunista e que, preso em 1973, em Goiânia, durante a ditadura civil e militar, desapareceu e nunca mais foi visto. Os seus restos mortais nunca foram entregues à sua família. Ele integra lista oficial dos desaparecidos políticos elaborada pelo Projeto Brasil Nunca Mais e compõe a relação dos contemplados pela Lei 9.140, de 10 de dezembro de 1995, assinada pelo então presidente da República, o sociólogo de linhagem tucana Fernando Henrique Cardoso [SP].

      - Ele atuou em Trombas e Formoso e na rebelião de Porecatu. Os camponeses foram vitoriosos.

      Mandachuvas do Jornal Terra Livre, um veículo de comunicação para dialogar com os trabalhadores rurais sem-terras e mobilizá-los em defesa da reforma agrária e contra a concentração fundiária promovida pelo latifúndio, ele lutou ao lado do advogado polêmico Francisco Julião, o líder das Ligas Camponesas, forte sobretudo na Região Nordeste do Brasil. Os dois possuíam divergências táticas e estratégicas, admite. Julião sofria influência dos ares da Revolução Cubana, liderada por Fidel Castro, Ernesto Guevara de La Serna, o Che, Camilo Cinfuegos e Raúl Castro, e que derrubou a ditadura do sargento mulato alinhado aos EUA, Fulgencio Batista, o mesmo que havia concedido anistia ao revoltoso advogado Fidel Castro, no turbulento ano de 1955, na pequena ilha do Caribe, hoje com 11,2 milhões de habitantes.

      Com o golpe de Estado de 31 de março de 1964 e a deposição do presidente constitucional, João Belchior Goulart, o Jango, um nacional-estatista de linhagem trabalhista, ele cai na clandestinidade, organiza a resistência mas rejeita a estratégia de luta armada para derrubar o novo bloco histórico no poder. Integrante do Comitê Central do PCB, ele ruma para o exílio, informa Dinarco Reis Filho, que preferiu ficar no Brasil. França, Tchecoslováquia, sob o manto comunista, e Itália, com forte influência do Partido Comunista Italiano, à beira da celebração do compromisso histórico entre o PCI e a Democracia Cristã. Ele nunca quis morar na União Soviética, ao contrário de Prestes. Com a abertura lenta, segura e gradual, a promulgação da Lei de Anistia, em 28 de agosto de 1979, a volta dos exilados, Dinarco Reis volta ao País.

      - Na luta interna no PCB, Dinarco Reis se alinha a Giocondo Dias e Salomão Malina e se contrapõe a Prestes, Anita Prestes, Marly Vianna e José Salles.

      Em 1980, o PCB rachou. Prestes saiu da legenda atirando. O velho Cavaleiro da Esperança deu uma guinada de ultraesquerda. Dinarco Reis acabou preso no Congresso Nacional do Partidão em 1982. Nada grave. Mortos na caçada brutal após os organismos de segurança do regime civil e militar desmantelarem as organizações de luta armada, Elson Costa era considerado por Dinarco Reis Filho, o seu segundo pai. Já o comunista Jaime Miranda lhe emocionava. “Davi Capistrano - supostamente esquartejado na Casa de Petrópolis, Rio de Janeiro, centro clandestino de torturas – morou na minha casa”, recorda-se. Orlando Bonfim era muito amigo do meu pai, sublinha o presidente da Fundação Nacional Dinarco Reis do PCB, em 2015. A ditadura civil e militar é responsável pelo desaparecimento de 10 membros do Comitê Central do PCB.

      - Outro amigo do meu pai era Marco Antônio Tavares Coelho.

      O comunista Dinarco Reis, em uma das ironias da História, nasceu no Rio de Janeiro, Praça Barão Drummond, Vila Isabel, ao lado do Convento das Carmelitas, Igreja Católica. Depois de longas jornadas de lutas e desafios, ele morreu, no ano de 1988, aos 84 anos de idade, afogado no banheiro após levar um tombo sozinho. Socialista radical, ele entendia como ninguém das teorias de Karl Marx e de F. Engels e foi o responsável pela expulsão dos quadros do partidos dos veteranos João Amazonas, Diógenes Arruda e Pedro Pomar, que fundaram em 1962 o Partido Comunista do Brasil, PC do B, uma dissidência do Partido Comunista Brasileiro. Eles deflagraram de 1972 a 1975 a guerrilha do Araguaia, no norte de Goiás, atual Estado do Tocantins, sul do Pará e Maranhão, que deixou um saldo trágico de mais de 70 mortos.   

      - O PCB é o verdadeiro herdeiro da legenda criada em 1922. Nunca abandonamos o marxismo-leninismo. 

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