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    Ação da J&F no Supremo coloca em evidência Josmar Verillo, o elo entre a Lava Jato, a extrema direita e o capital estrangeiro

    O executivo da Paper Excellence trouxe ao Brasil a Transparência Internacional, que, assim como ele, se beneficiaria das ações truculentas da Lava Jato e da operação Greenfield

    Eldorado, o militante bolsonarista Josmar Verillo, Hamilton Mourão e Eduardo Bolsonaro com o presidente da Paper, Jackson Widjaja (Foto: Divulgação e reprodução da rede social)

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    Por Joaquim de Carvalho, 247 - A nota da Paper Excellence a respeito do recurso da J&F ao STF coloca novamente em destaque o executivo Josmar Verillo, que nos últimos anos se notabilizou pela militância bolsonarista nas redes, com ataques aos ministros da corte e ao Supremo de uma maneira geral.

    A J&F recorreu ao STF para obter os mesmos benefícios concedidos a outras empresas que foram vítimas da ação truculenta por parte da Lava Jato.

    Na ação que propôs ao STF, a J&F relata o modus operandi da Lava Jato por meio do procurador Anselmo Lopes, da operação Greenfield.

    Por isso, pede para ter acesso aos arquivos encontrados no computador do hacker Walter Delgatti Neto durante a Operação Spoofing. Pelo menos uma mensagem já divulgada mostra que existe um elo de Anselmo Lopes com a Lava Jato e, ao mesmo tempo, com a Transparência Internacional (TI), ONG trazida ao Brasil por Josmar Verillo.

    Nessa mensagem, que passou por perícia, o procurador de nome Paulo – possivelmente Paulo Roberto Galvão de Carvalho –, compartilha mensagem em que Anselmo Lopes revela a estratégia para sufocar a J&F.A mensagem é de 30 de outubro de 2017. Anselmo diz: "Acabei não narrando a vocês uma reunião que a FT Greenfield teve com o Presidente do TCU na semana passada, para tratar do acordo de leniência da J&F."

    Em essência, Adriano informa que levou ao presidente do TCU a ideia de contar com a aprovação pelo Tribunal de Contas do acordo de leniência nos termos – e isso é importante – propostos pela TI, na época sob influência de Verillo e sua família.

    "Chegando nossa vez de falar, fizemos uma narração geral de todo o histórico do acordo de leniência e de suas principais cláusulas, bem como explicamos a ideia dos projetos sociais como reparação social, ideia compartilhada pela Transparência Internacional", afirmou.

    Na mesma conversa, o procurador Paulo envia o link da reportagem do Conjur que trata de uma decisão do TCU contrária aos interesses da JBS, controladora da J&F.

    O procurador pergunta a Deltan se "chegou a minutar algo para o TCU". Não está claro sobre o que se trata, mas o contexto é o da conversa sobre a J&F. "Estou minutando, mas cada hora uma coisa passa na frente, como sempre", responde Deltan, que na época era o coordenador da Lava Jato.

    Por que o interesse dos procuradores de Curitiba a respeito da J&F? Não está claro, mas a ligação de Deltan com Verillo foi demonstrada, em outra mensagem, um ano e meio depois, quando o coordenador da Lava Jato organiza com a Transparência Internacional a constituição de uma fundação privada com R$ 2,5 bilhões recebidos da Petrobras, em acordo celebrado nos Estados Unidos, sem a participação da União.

    Deltan orienta um assessor a enviar ofícios para personalidades e entidades que poderiam compor o conselho da fundação e, entre estas, a associação que Verillo criou para alegadamente combater a corrupção em prefeituras, a Amarribo.

    “Temos agora que começar os passos pra constituir a fundação. Precisamos expedir ofícios. Acho que um próximo passo é obter indicação de pessoas com reputação ilibada e tal… Faz um despacho para expedirmos ofícios: -para convidar AGU e CGU para indicarem pessoa para participarem da constituição da fundação… um ofício dizendo que dadas as importantes funções e expertise etc, seria muito profícuo etc… e pede pra indicar alguém - para as entidades … Olha o acordo e veja o que mais precisamos. Quanto às entidades, tem que selecionar tb. De cabeça, penso em TI e Observatório Social. Tem tb a Contas Abertas, a Amarribo, o Instituto Ethos…. tem que ver quais mais. Vou perguntar”, escreveu Dallagnol.

    A Amarribo acabaria acusada de tentar extorquir políticos, segundo o jornalista Luís Nassif. Foi através da Amarribo que Josmar trouxe a Transparência Internacional ao Brasil.

    Além do acesso às mensagens, a J&F pede ao Supremo Tribunal Federal a suspensão do pagamento previsto no acordo de leniência do grupo — e a sua reavaliação —, enquanto seus termos forem revistos; e a suspensão de outras obrigações previstas em acordos com o Ministério Público.

    A revogação das obrigações impostas ao grupo empresarial se estende à venda da Eldorado Celulose ao grupo indonésio Paper Excellence.

    A negociação para a venda, como relata a J&F, foi realizada no contexto em que o procurador da república Anselmo Lopes tenta asfixiar financeiramente o grupo, de forma que não resta a este alternativa senão se desfazer de ativos.

    A J&F diz ter havido um conluio entre o executivo da Paper e o procurador Anselmo Lopes, descrito como “protagonista algoz dos abusos perpetrados” contra o grupo J&F, para que a venda fosse feita — e que ela foi apresentada como condição para a celebração do acordo de leniência.

    Em nota, a Paper diz que a J&F faz uma “narrativa fantasiosa” e “sem compromisso com a verdade”. “À época da assinatura do acordo de leniência em 2017, Josmar Verillo não prestava serviços para a multinacional e nem sequer conhecia seu acionista. A contratação de Verillo como consultor aconteceu em 2018, somente depois do descumprimento do contrato de venda da Eldorado pela J&F”, diz.

    A ligação de Verillo e da Transparência Internacional com a Lava Jato é bem anterior a 2018 e, sem esta e o procurador lavajatista da Greenfield, o acordo de leniência, se houvesse, teria outros termos.

    Em outras palavras, é o que relata a J&F ao STF e também à própria Procuradoria Geral da República, onde o acordo de leniência está em análise para revisão.

    Na ação, o grupo empresarial resgata decisões dos ministros do STF que anularam acordos obtidos na base de “tortura” (“pau-de-arara”, decorrente de prisões prolongas, em condições degradantes, e ameaças de prisão de familiares, por exemplo), como definiram os ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli.

    Toffoli, aliás, é o relator da ação proposta pela J&F. Ele foi um dos alvos de Verillo na militância deste em favor de Sergio Moro e de Jair Bolsonaro. "Nojo do STF" diz um card publicado por ele.

    Verillo chamou ministros de facínoras e disse que a corte "age contra a sociedade brasileira" e que ministros são "aliados da criminalidade", entre outras agressões.

    Depois que Lula derrotou Bolsonaro, em 2022, o consultor da Paper atacou a primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, o senador Randolfe Rodrigues e Flávio Dino, que, como ministro da Justiça, defendeu investigação pela Polícia Federal das pessoas que ameaçavam ministros do STF.

    “Vai pra casa, comunista!”, disse. Alguns dias depois, o STF foi invadido. Caso o Supremo autorize a J&F a ter acesso a todo conteúdo da Spoofing, Verillo pode aparecer como o elo da Lava Jato, o movimento de desnacionalização das empresas brasileiras e a militância violenta da extrema direita.

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