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    Aliados de Lula minimizam reação do mercado a fala de Lula e negam mudança de rumo

    Após Lula afirmar que gastos públicos têm que ser considerados investimentos, o dólar disparou mais de 4% no fechamento do dia, enquanto o Ibovespa caiu 3,61%

    Alckmin, Gleisi Hoffmann, Lula, Mercadante e Randolfe Rodrigues (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)

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    BRASÍLIA (Reuters) - Aliados do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva minimizaram a reação negativa do mercado financeiro a declarações do petista sobre prioridades sociais do país e críticas a regras fiscais, argumentando que não houve mudança no rumo do discurso do presidente e que o governo eleito será fiscalmente responsável.

    Após Lula afirmar nesta quinta-feira que gastos públicos têm que ser considerados investimentos e voltar a criticar a regra do teto de gastos, o dólar disparou mais de 4% no fechamento do dia, enquanto o Ibovespa caiu 3,61%.

    Novo membro do gabinete de transição, o deputado Enio Verri (PT-PR) afirmou que os comentários do presidente eleito não mudam em nada o rumo das conversas e que Lula cumprirá seus compromissos de responsabilidade com as contas públicas.

    “O presidente já conversou com todo mundo, ele já mostrou sua responsabilidade fiscal não só quando ele foi presidente, mas é só você ver o perfil de quem está ao lado dele”, afirmou. “Não há motivo nenhum para o mercado estar fazendo estardalhaço.”

    Verri ressaltou que a PEC em negociação pelo novo governo deve pedir uma excepcionalização do Auxílio Brasil como um todo do teto de gastos por quatro anos. Segundo ele, a medida vai deixar 175 bilhões de reais do programa social fora do teto em 2023 e criará uma sobra orçamentária de 105 bilhões de reais no ano que será preenchida com “demandas urgentes”.

    Edinho Silva, que coordenou a comunicação da campanha de Lula, afirmou que a nova gestão vai gerir um rombo fiscal produzido pelo atual governo e que será necessário ampliar esse déficit para não interromper programas.

    "O que a transição está dizendo é que vamos ampliar o déficit porque é necessário. Isso é transparência, é oferecer previsibilidade, inclusive para o mercado", disse, acrescentando que posteriormente esse déficit "será trazido para dentro do Orçamento".

    A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, afirmou em redes sociais que Lula não contrapôs em sua fala a questão social e a estabilidade fiscal.

    “Estão dizendo q o mercado reagiu mal ao discurso de Lula porque enfatizou investimentos na área social em detrimento do equilíbrio fiscal. Não foi o que ele disse. Mas onde estavam quando Bolsonaro fez a gastança pré-campanha eleitoral? Comparem a gestão Lula com o desastre de Bolsonaro”, disse.

    No fim do dia, o próprio Lula disse que “o mercado fica nervoso à toa”, argumentando não ter visto essa sensibilidade dos agentes econômicos a ações do governo Jair Bolsonaro.

    Ao longo da campanha, Lula fez uma série de críticas ao teto de gastos, norma fiscal que ele pretende revogar, mas vinha ressaltando que seu governo seguiria um caminho de zelo com as contas públicas.

    A proposta para o novo arcabouço fiscal de Lula, porém, deve ser apresentada em um segundo momento, apenas depois da solução emergencial para gastos extras em 2023. No momento, também permanece a incerteza sobre quem comandará a equipe econômica do governo Lula.

    Indicado nesta quinta-feira a compor o núcleo de planejamento da transição de governo, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega negou que tenha havido uma guinada no discurso de Lula.

    “Ele apenas reafirmou o que vem dizendo o tempo todo”, disse.

    Para o professor de economia da Unicamp Pedro Rossi, que colaborou com a campanha do petista, o mercado coloca o equilíbrio fiscal como finalidade da política econômica e deixa a questão social como uma variável para ajustes. Para ele, Lula inverte essa lógica.

    “O mercado vai se adaptar ao Lula, não o contrário. A finalidade da política fiscal é garantir o bem-estar da população; o equilíbrio fiscal é uma peça importante, mas não a finalidade do processo”, afirmou, pontuando não ver uma mudança no tom do presidente.

    Também indicado para compor a transição, o deputado Marcelo Ramos (PSD-AM), afirmou que Lula sabe que se não tiver responsabilidade fiscal não haverá recursos para a área social.

    “Lula não é bobo de ir para uma aventura fiscal e saber que não vai ter dinheiro para cumprir os compromissos de campanha”, disse.

    Para o deputado federal José Guimarães (PT-CE), "todo mundo sabe que Lula tem responsabilidade fiscal."

    "O problema é que quando ele fala que é para resolver os problemas do povo, aí o mercado desaba, não pode ser assim", disse. "Ele falou até sobre superávit primário... ele tem muita responsabilidade fiscal."

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