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Comunicado do Copom sinaliza novas altas de juros antes da saída de Campos Neto

BC elevou a taxa Selic para 10,75% e cobrou corte de gastos públicos em sua nota posterior à decisão duramente criticada pelo setor produtivo

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, durante evento ReutersNEXT Newsmaker, em Nova York 09/11/2023 REUTERS/Brendan McDermid (Foto: REUTERS/Brendan McDermid)

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247 – O Banco Central (BC) elevou o tom em sua decisão de política monetária desta quarta-feira (18), ao anunciar a elevação da taxa Selic para 10,75% ao ano. A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) foi acompanhada de um comunicado mais rígido, descrito por economistas como "hawkish", termo que sinaliza uma postura mais firme em relação ao controle da inflação. O aumento de 0,25 ponto percentual na Selic é o primeiro desde agosto de 2022, quando a taxa chegou ao pico de 13,75%. A medida, supostamente, reflete a preocupação do BC com a persistência da inflação no país, mas os indicadores mostram preços controlados, a despeito do crescimento econômico. O BC também sinalizou possíveis novos aumentos até o fim do ano, quando o atual presidente, Roberto Campos Neto, deixará o cargo.

A elevação da taxa Selic não foi bem recebida por diversos setores da sociedade. Para a presidenta do Partido dos Trabalhadores (PT), deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), a decisão do Copom é "injustificada" e prejudica a economia. Em uma publicação na rede social Bluesky, Gleisi criticou a medida, comparando-a ao movimento contrário feito pelos Estados Unidos no mesmo dia. “No dia em que os Estados Unidos cortam 0,5 ponto nos juros, tendência mundial, o BC [Banco Central] do Brasil sobe taxa para 10,75% [ao ano]. Além de prejudicar a economia, vai custar mais R$ 15 bilhões na dívida pública. Dinheiro que sai de educação, saúde, meio ambiente para os cofres da Faria Lima. Não temos inflação que justifique isso!”, escreveu a parlamentar.

Além de políticos, o setor produtivo também expressou preocupação. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) classificou o aumento como excessivo. Em comunicado, o presidente da CNI, Ricardo Alban, destacou que a medida impõe restrições adicionais à atividade econômica, principalmente no momento em que as principais economias globais começam a reduzir suas taxas de juros. "Os cenários econômicos, atual e prospectivo, principalmente de inflação, mostram que um aumento da Selic seria equivocado e um excesso de conservadorismo da autoridade monetária, com consequências negativas e desnecessárias para a atividade econômica. O Brasil está na contramão do que o mundo está fazendo nesse momento, que é a redução das taxas de juros”, afirmou Alban.

A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) também criticou a decisão, considerando-a precipitada. Segundo a entidade, o risco inflacionário não é claro na conjuntura atual, e a elevação dos juros compromete a recuperação industrial. "O elevado patamar de juros vem comprometendo setores estratégicos, em especial a indústria, e minando qualquer possibilidade de aumento da taxa de investimento do país. O setor industrial, embora tenha esboçado uma tímida recuperação nos últimos meses, ainda opera 15% abaixo de sua máxima histórica", ressaltou a Firjan em nota.

Efeitos sobre o consumo e os investimentos

A Associação Paulista de Supermercados (Apas) também alertou sobre os efeitos negativos dos juros altos no consumo e nos investimentos. Felipe Queiroz, economista-chefe da entidade, afirmou que “o Brasil já possui uma das maiores taxas reais de juros do mundo, o que agrava ainda mais os desafios ao crescimento econômico do país. Com uma taxa de juros tão elevada, é difícil fomentar o nível de investimento necessário para um crescimento sólido e consistente no médio e longo prazo da economia do país.”

Críticas das centrais sindicais

As centrais sindicais também reagiram fortemente ao aumento dos juros. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Força Sindical alertaram que a alta dos juros prejudica o desenvolvimento econômico e pesa sobre os trabalhadores. Para Juvandia Moreira, presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e vice-presidenta da CUT, “o Banco Central, por meio do Copom, segue praticando uma política monetária proibitiva para o desenvolvimento do país”. A CUT citou um estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), segundo o qual o aumento da Selic vai custar à União R$ 13 bilhões a mais em juros sobre os títulos públicos.

A Força Sindical, por sua vez, considerou a decisão um "prêmio aos especuladores". Miguel Torres, presidente da entidade, criticou duramente a medida, afirmando que ela afeta negativamente o consumo e os salários. “Essa estratégia de gradualismo, subindo a taxa aos poucos, penaliza de forma nefasta os menos favorecidos economicamente e trará mais incertezas. O aumento dos juros tende a desestimular o investimento e o consumo no país, prejudicando a retomada econômica", declarou Torres.

A decisão do Copom, portanto, gerou um forte debate sobre os rumos da política monetária e fiscal no Brasil, com críticas amplas de políticos, setores produtivos e sindicatos, que veem a medida como um entrave ao crescimento e à geração de empregos (com informações da Agência Brasil).

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