Galípolo diz buscar equilíbrio entre diálogo com governo e autogestão do BC após política de isolamento total de Campos Neto
O chefe da autoridade monetária sinalizou que, por ter ocupado um cargo na Fazenda, terá boas condições para articular interesses do governo e do mercado
247 - O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, afirmou nesta quarta-feira (12), em evento no Rio de Janeiro, que tem “espaço e voz” para interagir com representantes do governo Lula.
O chefe da autoridade monetária sinalizou que, por ter ocupado um cargo como secretário-executivo do Ministério da Fazenda, terá boas condições para articular os interesses do governo e do mercado. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou o economista para a Diretoria de Política Monetária do Banco Central e, em seguida, para a presidência da autarquia.
“Tenho tido espaço e voz para poder falar sobre o que eu imagino que vá acontecer com o mercado, tentar traduzir e explicar por que isso está acontecendo. Faz parte do desafio não cruzar uma linha e não transcender o quadrado da autoridade monetária”, afirmou Galípolo, que participou de um seminário promovido pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), em parceria com o Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças (IEPE/CdG).
Ex-secretário-executivo da Fazenda, o presidente do BC tem boas articulações com o ministro Fernando Haddad, que deu sinais de avanço da agenda econômica pautada pelo governo federal entre senadores.
Em Brasília (DF), Haddad teve um encontro com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), nesta terça-feira (11). As duas lideranças defenderam a importância da parceria. Alguns projetos discutidos integram a lista de prioridades ainda não enviadas ao Congresso. A lista contém 25 iniciativas consideradas prioritárias pelo governo para 2025 e 2026 na área econômica. Algumas estão no Congresso, e outras ainda estão sendo elaboradas pelo Executivo.
Além das articulações com a Fazenda, Galípolo foi aprovado com ampla margem de votos no Senado antes de seguir para a presidência do Banco Central. Foram 66 votos favoráveis e 5 contrários na votação realizada em outubro de 2024.
Um dos desafios de Galípolo será o controle da taxa de juros. Em janeiro, o Comitê de Política Monetária (Copom), ligado ao Banco Central, aumentou a Selic em 1 ponto percentual, para 13,25% ao ano. A tendência da decisão foi comunicada ainda na gestão anterior do BC, quando a instituição era comandada por Roberto Campos Neto. As próximas reuniões do Copom estão previstas para os dias 18 e 19 de março.
Quando esteve no Banco Central, Campos Neto argumentava que era necessário aumentar os juros para controlar a inflação, pois, quando a Selic fica mais alta, o crédito se torna mais caro, reduzindo o poder de compra da população. Ele foi criticado por estar supostamente superestimando os riscos inflacionários no Brasil e por falta de interlocução com o governo federal.
O que também se questiona é se realmente há efeito da política de elevação dos juros para conter preços que já são parcialmente administrados pelo governo, como energia e combustíveis - uma medida conhecida no campo da economia, contestada sobre a sua eficácia e que é implementada independentemente de governo.
Pelos dados inflacionários gerais, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que, em janeiro, o grupo de energia recuou 14,21%, e de alimentos continua pressionando o índice para cima, com alta de 0,96%. A inflação (0,16%) registrou o menor resultado para um mês de janeiro desde 1994, antes do Plano Real, iniciado em julho daquele ano.
As estatísticas mostraram que, em dezembro de 2024, o IPCA foi de 0,52%. A desaceleração não significa queda dos preços, mas sim que, na média, eles aumentaram em menor velocidade.
No acumulado de 12 meses, o IPCA foi de 4,56%, acima da meta do governo. Em dezembro, o acumulado era de 4,83%. O Conselho Monetário Nacional (CMN) definiu 3% como meta inflacionária, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos, ou seja, um intervalo de 1,5% a 4,5%.
Enquanto o governo, o mercado e a sociedade aguardam as próximas definições da taxa de juros, o Executivo federal defendeu a formação de estoques reguladores de arroz, milho e trigo, para conter a alta nos preços dos alimentos.
O governo também ajudará produtores com financiamentos e possíveis ajustes nas tarifas de importação. Chefiado pelo ministro Paulo Teixeira, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) planeja investir aproximadamente R$ 1 bilhão na compra desses grãos.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: