Gás de Vaca Muerta pode transformar as economias do Brasil e da Argentina
Acordo entre os países, assinado pelo ministro Alexandre Silveira, promete reduzir custos energéticos e destravar antigas iniciativas de cooperação
247 – Na segunda-feira (18), Brasil e Argentina formalizaram um acordo histórico para a importação de gás da reserva de Vaca Muerta, localizada na região da Patagônia. A iniciativa sinaliza um raro alinhamento entre os governos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do recém-eleito Javier Milei. Além de representar uma economia significativa para o Brasil, o acordo promete aliviar a crônica crise econômica argentina, colocando a reserva no centro de um ambicioso projeto de cooperação energética regional.O gás natural de Vaca Muerta, segundo maior depósito de gás não convencional do mundo, pode ser exportado ao Brasil por cerca de US$ 2 por milhão de BTUs, valor muito inferior aos US$ 14 praticados no mercado interno brasileiro, antes da aplicação de impostos. O projeto prevê o transporte de até 30 milhões de metros cúbicos de gás por dia até 2030, com possibilidades logísticas que incluem o uso do Gasbol, gasoduto Brasil-Bolívia, segundo aponta reportagem da Folha de S. Paulo.
Vaca Muerta: uma promessa energética com desafios locais
Descoberta em 1931 pelo geólogo norte-americano Charles Edwin Weaver, Vaca Muerta é explorada por meio do fraturamento hidráulico, ou fracking, uma técnica controversa que exige grandes volumes de água misturados a areia e produtos químicos para quebrar o xisto no subsolo e liberar o gás. O processo é alvo de críticas de ambientalistas e comunidades indígenas, que denunciam poluição hídrica e outros impactos ambientais.O líder mapuche Fernando Barraza, em entrevista à Folha de S. Paulo, criticou a promessa de progresso associada ao fracking. “Disseram que [o ‘fracking’] traria empregos e progresso e que não tinha impacto ambiental. Mas o que aconteceu foi exatamente o oposto”, afirmou. A região de Neuquén, onde está localizada a reserva, abriga mais de 60 comunidades mapuches que frequentemente entram em conflito com empresas de exploração devido à demora no reconhecimento de terras e ao acesso limitado a recursos básicos, como água.
Transformações econômicas e sociais
A exploração de Vaca Muerta tem modificado profundamente a economia local. Em Añelo, considerada o coração da reserva, o desemprego caiu abaixo da média nacional com a chegada de empresas como a argentina YPF e a norte-americana Chevron. No entanto, os benefícios econômicos não se traduziram em melhorias sociais amplas. A cidade enfrenta falta de infraestrutura básica, como água e energia elétrica, além de problemas como aumento da criminalidade.
Na Argentina, os recursos de Vaca Muerta têm sido vistos como uma oportunidade para fortalecer a soberania energética e atrair dólares para um país que luta contra inflação e baixas reservas de moeda estrangeira. Internamente, o gás substitui a necessidade de importações, enquanto a exportação para o Brasil pode gerar uma receita significativa.
O impacto no Brasil
Para o Brasil, o acordo representa um passo importante na busca por soluções energéticas mais econômicas e diversificadas. Segundo o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, estão sendo discutidas cinco alternativas para viabilizar o transporte do gás argentino. A mais imediata seria a inversão do fluxo do Gasbol, que atualmente transporta gás boliviano. Com a produção da Bolívia em queda, essa solução parece viável e estratégica.
O gás mais barato pode beneficiar o setor industrial brasileiro e reduzir custos para consumidores, além de reforçar a integração energética entre os países sul-americanos. A parceria também fortalece o papel do Brasil como líder regional na construção de soluções sustentáveis e integradas para a economia do continente.
Conflitos e oportunidades
Apesar das promessas, o projeto enfrenta desafios complexos. As críticas de ambientalistas e as tensões com comunidades indígenas evidenciam a necessidade de uma abordagem mais sustentável e inclusiva. Por outro lado, o potencial de Vaca Muerta como catalisador de desenvolvimento econômico e energético é inegável.
O acordo entre Brasil e Argentina marca o início de uma nova etapa nas relações bilaterais e sinaliza que a cooperação regional pode ser a chave para enfrentar os desafios globais de energia, sustentabilidade e desenvolvimento.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: