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    'Golpe acabou com a Petrobrás', diz Guilherme Estrella

    'Pai do pré-sal' crítica política para o petróleo pós-2016 e propõe a reconstrução da companhia

    Guilherme Estrella, ex-diretor de exploração e produção da Petrobrás (Foto: Tomaz Silva - Agência Brasil)

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    Opera Mundi - No programa 20 MINUTOS ENTREVISTAS desta quarta-feira (23/06), o jornalista Breno Altman entrevistou Guilherme Estrella, geólogo e ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobrás, conhecido como “O pai do pré-sal”, por ter comandado a descoberta e exploração da principal reserva brasileira de petróleo.

    Para ele, “o golpe de 2016 acabou com a Petrobrás”, pois ela perdeu as características de empresa estatal.

    “A Petrobáas não é só o pré-sal e as refinarias. Carrega em si o movimento do povo brasileiro nas ruas, exigindo que o petróleo fosse nosso. Expandiu-se por todo o território nacional, abarcou toda a cadeia produtiva do petróleo, a indústria petroquímica, estava junto à população, impulsionando a cultura, o esporte, gerando empregos. Tudo isso acabou. A Petrobrás já não participa do crescimento integral do Brasil”, lamentou Estrella.

    Segundo ele, os fatores que levaram a esse desmonte foram: o fim do sistema de partilha, a remoção da empresa como operadora única - proposta do senador José Serra (PSDB-SP) -, e o "decreto do trilhão", que isentou as empresas operadoras de impostos de importação.

    “O fim do marco regulatório, que colocava a Petrobrás como operadora única, rompeu com um dos pilares do que é uma empresa estatal. E ao isentar as empresas operadoras de impostos de importação, mataram o conteúdo nacional, a nossa política de desenvolvimento industrial. Deixou de ser uma empresa petrolífera no governo [Michel] Temer e este governo a transformou num fundo de investimento”, argumentou o ex-diretor.

    Ele disse, entretanto, que não acredita que a Petrobrás seja irrecuperável. Para Estrella, desde 2016, o Brasil vive governos ilegítimos, de modo que não se pode considerar “os atos cometidos contra a Petrobrás como constitucionais”

    “Estamos sob um governo de ocupação civil instalado para servir aos interesses e objetivos de um país estrangeiro. Isso precisa ser revertido por meio de plebiscitos revogatórios”, defendeu.

    Reestruturando a Petrobrás

    Além de um plebiscito revogatório, Estrella detalhou quais as medidas a serem revogadas e refletiu sobre quais outras devem ser adotadas para reestruturar a estatal.

    “Energia é soberania nacional. A venda de ativos estratégicos da Petrobrás atenta contra a soberania nacional. A venda da distribuidora BR, que é a nossa presença no mercado interno, não atende à Constituição de 1988. As duas coisas precisam ser revertidas”, citou.

    Ele também argumentou a favor da retomada do esquema de partilha e da Petrobrás como operadora única, “apostando em conteúdo nacional, com intenção social”, dominando toda a cadeia produtiva.

    Nesse sentido, ele celebrou as políticas adotadas pelos governos petistas, que devem servir de referência para a reconstrução da Petrobrás, como empresa “protagonista do setor de petróleo e gás natural no Brasil”. Por isso, ele se mostrou favorável ao fechamento de capital da estatal.

    “A abertura de capital na bolsa de Nova Iorque, por Fernando Henrique Cardoso, nos prendeu a regras da bolsa e à legislação dos Estados Unidos. Precisamos sair dessa dependência que nos tira soberania de gestão da maior empresa brasileira em matéria estratégica para o desenvolvimento nacional”, reforçou.

    Impacto da Operação Lava-Jato

    Estrella também comentou sobre os casos de corrupção na Petrobrás e o impacto que teve a Operação Lava-Jato na reputação da empresa.

    “Para nós, não havia nenhum motivo para desconfiar do que estava acontecendo. Mas aconteceu. Aí veio a Lava-Jato e trouxe isso a público, tendo um impacto muito negativo na companhia”, confessou.

    Ele lamentou que, em vez de punir os culpados e preservar a empresa, a Lava-Jato foi utilizada para destruir a Petrobrás “e a própria soberania brasileira”. Para o ex-diretor, “um dos objetivos da operação era a destruição das grandes empresas de engenharia brasileira”.

    A partir daí começou o desmonte, segundo ele. Acabou o esquema da Petrobrás como operadora única e abriram-se as portas de exploração para empresas estrangeiras, quebrando "um dos pilares da reindustrialização brasileira”.

    Transição energética: ocaso do petróleo?

    “O petróleo não vai acabar, muito menos por falta de petróleo. A transição energética nasce com o argumento de preservação ambiental, de que o uso de combustíveis fósseis provoca aquecimento global. Mas muita coisa vem da expansão urbana, do desmatamento”, ponderou Estrella.

    Ele enfatizou que o Brasil possui uma matriz energética equilibrada, podendo permitir-se investir em petróleo: “Não podemos deixar que a bandeira da transição energética nos impeça de fazer o desenvolvimento a que temos direito. Os países que advogam pela transição se construíram com petróleo. São eles, então, que devem fazê-la, não o Brasil”.

    Por isso, o ex-diretor da Petrobrás estima que o consumo de petróleo não vai cair. Pelo contrário, tende a aumentar para suprir a demanda dos países pobres e emergentes que começarão a investir no desenvolvimento industrial. 

    “Eu sou favorável à transição, mas feita pelos países desenvolvidos, EUA, China, e que seja feita alinhada ao combate ao desmatamento, urbanização excessiva e desperdício”, reforçou.

    Estrella, portanto, voltou a ressaltar a importância de restituir a Petrobrás como impulsionador da economia e do desenvolvimento brasileiro: “Todas as potências industriais mundiais construíram seu poderio industrial e tecnológico com base em energia. É um pilar para a industrialização, com gestão nacional, protegendo o mercado nacional e o consumidor brasileiro”.

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