Golpes com criptomoedas causam perda de R$ 40 bilhões a 4 milhões de brasileiros em 5 anos
As pirâmides (de cripto e outros ativos) foram os tipos de delitos que tiveram o maior número de registros. Em 2021, foram 215 e, em 2020, o pior ano da série, o total foi de 32
Lucas Gabriel Marins, Infomoney - Virou rotina. Quase toda semana, golpes financeiros ganham espaço no noticiário brasileiro. O último caso envolveu os jogadores brasileiros Gustavo Scarpa, Mayke Rocha Oliveira e Willian Gomes de Siqueira. Juntos, os atletas alegam ter perdido quase R$ 30 milhões em um suposto esquema fraudulento que usava criptomoedas como isca. O valor parece alto, mas é discreto perto das perdas registradas na história recente do País.
Não há estimativas oficiais, mas um levantamento feito pelo InfoMoney mostra que, nos últimos cinco anos, pelo menos 25 empresas acusadas de serem pirâmides financeiras envolvendo o suposto investimento em criptoativos deixaram um rastro de prejuízo de cerca de R$ 40 bilhões no Brasil. O número estimado de vítimas é de quase 4 milhões.
Só entre janeiro e setembro de 2022, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) enviou 112 comunicações de indícios de crimes financeiros aos ministérios públicos estaduais e federais, segundo o último Relatório de Atividade Sancionadora, divulgado em dezembro. As pirâmides (de cripto e outros ativos) foram os tipos de delitos que mais apareceram. Em 2021, foram 215 e, em 2020, o pior ano da série, o total foi de 325.
Além das comunicações, o órgão regulador do mercado de capitais também emitiu 12 stop orders para empresas nos primeiros três trimestres de 2022. Essas ordens são medidas cautelares que visam prevenir ou corrigir possíveis ofertas públicas irregulares.
“O que a gente vê em análise histórica é que esses tipos de crimes financeiros envolvendo oferecimento de vantagens insustentáveis são antigos e, em comum, trabalham com algo que não é materialmente tangível, como os criptoativos”, disse o Procurador da República Thiago Bueno, integrante do Grupo de Crimes Cibernéticos do Ministério Público Federal (MPF).
Na década de 1920, por exemplo, o italiano Charles Ponzi (precursor dos esquemas ponzi) prometia pagar juros de 50% em 45 dias ou de 100% em 90 dias em um negócio de cupons de selos postais. Na década de 1980, no Brasil, as Fazendas Reunidas Boi Gordo se valeram de promessas de ganhos financeiros em cima da criação e engorda de bois para atrair vítimas.
As criptos são a bola da vez, segundo Bueno, por causa de algumas características desses ativos digitais, como imaterialidade, falta de conjunto de normas e práticas para negociação (como as do mercado financeiro), o fato de serem novas e ainda pouco compreendidas por parte da população, e o poder de suas valorizações estratosféricas. “Quando o valor do criptoativo está subindo, é o momento adequado para quem quer aplicar golpe poder ganhar fôlego”.
Entre 2019 e 2023, período em que o Bitcoin (BTC) disparou e chamou atenção de investidores institucionais, o Brasil e o mundo foram inundados de fraudes associadas a ativos digitais. Um dos casos a ganhar destaque nacional foi a Unick Forex, uma fraude com criptomoedas que prometia de 1,5% a 3% ao dia – é isso mesmo que você leu, ao dia.
O esquema, criado no Vale dos Sinos (RS) por Leidimar Bernardo Lopes, colapsou em 2019. De acordo com a Polícia Federal, o golpe deixou um rastro de perdas de R$ 12 bilhões para milhares de pessoas.
Outro caso que repercutiu no Brasil todo foi o Grupo Bitcoin Banco, uma fraude orquestrada em Curitiba (PR) por Claudio Oliveira, conhecido no Brasil como “Rei do Bitcoin”. Condenado por estelionato e crimes contra o sistema financeiro, Oliveira construiu um falso império cripto na capital paranaense, localizado em um dos prédios comerciais mais badalados da cidade.
Assim como na Unick Forex, também havia promessa de ganho fixo no esquema. Pessoas chegaram a vender apartamentos para entrar no negócio. A estimativa é de que 7 mil indivíduos tenham sido prejudicados, em um rombo de R$ 1,5 bilhão, segundo a PF.
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