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    Livro de Pochmann aborda abandono de projetos de país e ‘cancelamento do futuro’

    Professor e economista reflete sobre transformações truncada do país e sua reprodução de um “passado trágico”

    Marcio Pochmann (Foto: Felipe L. Gonçalves/Brasil247)
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    Da Rede Brasil Atual – Com O Neocolonialismo à espreita – Mudanças estruturais na sociedade brasileira, lançado pelo selo Sesc, o professor e economista Marcio Pochmann pretende oferecer, como diz, um “diagnóstico de época, afastando-se das urgências do nosso tempo presente”. Concentra-se, em especial, na virada das décadas 1970 e 1980, que ele chama de “nossa grande catástrofe”. “Esse é o ponto de não retorno, que marcaria a nova época que vivemos mais de 40 anos depois”, afirma Pochmann em live organizada pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE-Unicamp), com a presença de outros pesquisadores.

    O livro trata da transformação do país de colonial para urbano e industrial e, agora, para o mundo dos serviços, um “ingresso precário” na era digital. O autor observa uma participação passiva e subordinada do país na divisão internacional do trabalho. Desse modo, “como mero importador de serviços digitais, o país parece cancelar o seu futuro”. Em consequência, reproduz seu passado trágico de mandonismo e clientelismo. Ou seja, um colonialismo moderno, “que se difunde crescentemente pela hegemonia do modelo primário exportador”. Uma transição ocorrida ainda que o modelo anterior não tenha sido concluído, desmontando a organização coletiva.

    Concentração e dependência

    Dividida em seis capítulos – transição social, ciclos econômicos, capitalismo periférico, neoliberalismo, pobreza, desconstrução do trabalho –,

    Neocolonialismo à espreita destaca também momentos de avanços nas políticas públicas e redução da desigualdade da renda. Mas esbarrando em obstáculos permanentes, como a concentração da riqueza e da propriedade. Agora, no entanto, o país volta a um cenário de dependência de produção e exportação de bens primários, aliado ao rentismo financeiro. “Dessa forma, o sentido da construção de padrão civilizatório superior encontra-se desfeito. O avanço possível concentra-se em poucos, enquanto o retrocesso observado serve a muitos”, afirma Pochmann no livro.

    “De um lado, a degradação da estrutura social herdada da industrialização fordista tem desconstituído a antiga classe trabalhadora da manufatura e significativa parcela da classe média, o que fortalece a expansão do novo precariado. De outro, a concentração de ganhos significativos de riqueza e renda em segmento minoritário da população gera um contexto social inimaginável, em que somente uma parcela contida dos brasileiros detém parcelas crescentes da riqueza”, acrescenta.

    Tragédia da desigualdade

    Mercado, Estado, economia e política estão “entrelaçados”, diz a professora Maria Aparecida Bridi, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Na medida em que, ao descortinar as várias transições que o país teve, (constatar que) os governos não foram capazes de alterar o papel do país na divisão internacional do trabalho. Não foi capaz de superar a dependência e a subordinação e sobretudo, o que é mais trágico, a desigualdade”, afirma.

    Ela lamenta a existência de “classes dirigentes descomprometidas com um projeto de nação soberana”. Aponta as reformas que não ocorreram e poderiam levar o Brasil a outro patamar e a “opção pela desindustrialização” por governos neoliberais. Ainda que o “Estado pós neoliberal” (2003-2015, governos Lula e Dilma), em período mais recente, tenha buscado um olhar mais social.

    Elias Jabbour, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), vê nova “heterodoxia”, vinda dos ano 1990, avessa ao nacionalismo e ao desenvolvimentismo. “Somos educados atualmente a odiar o Brasil”, comenta o professor, para quem é preciso enfrentar as mazelas do país “sem cair no discurso da negação da nossa história, do nosso autochicoteamento”.

    Centralidade do trabalho

    Economista-chefe do Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (Iree), Juliane Furno aponta uma segunda mudança estrutural. “Dentro de um país que passou por uma transição truncada e precoce para uma economia de serviços.” Mas o livro de Pochmann, acrescenta, reafirma a centralidade do trabalho. “Houve modificações e permanências”, diz, propondo uma “nova lógica de direitos sociais”, que considere essas transformações.

    Muitas mudanças trazem riscos aos trabalhadores, à sociedade, à vida no planeta, à vida em família e à democracia. “E ainda à própria economia que os adeptos das reformas liberalizantes hoje dizem defender”, acrescenta a professora Magda Barros Biavaschi. Pesquisadora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, ela reflete sobre as resilientes heranças “escravocratas, patriarcais e monocultoras”. Lembra que governantes que tentaram romper esses processos foram “suicidados, maltratados pela história, destituído por golpe civil-militar, ‘impeachmados’ ou colocados na cadeia” por quase dois anos. “Será que é nosso passado autoritário que cria amarras?”, questiona.

    Na apresentação de Neocolonialismo à espreita, o diretor do Sesc São Paulo, Danilo Santos de Miranda, trata de perspectivas e impedimentos. “Nessa transformação advinda da velocidade do tempo histórico, é o futuro da nação que se encontra em jogo. Então, o horizonte de possibilidades é disputado por projetos discrepantes ou, o que é mais alarmante, pela falta de um projeto.”

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