O fim da hegemonia: queda do dólar e protestos abalam supremacia americana
Por conta das pressões enfrentadas pelo dólar e os protestos identitários, a crise enfrentada pelos EUA pode redefinir o balanço geopolítico global
Leonardo Sobreira, 247 - A atual crise pela qual os Estados Unidos passam, tanto a econômica quanto a evidenciada pelos protestos raciais, aponta para o possível fim de sua hegemonia como superpotência global.
No que diz respeito à economia americana, o fracasso da estratégia de contenção do coronavírus faz com que moedas rivais ao dólar ganhem mais força. De acordo com o economista Stephen Roach, da Universidade de Yale, “isso é especialmente nítido no caso do yen, que deve se valorizar com base no sucesso relativo da estratégia do Japão de contenção do COVID-19. O mesmo pode ser esperado do México e do Canadá, cujas moedas foram fortemente afetadas no começo do ano pela combinação letal do choque do coronavírus e o colapso no preço do petróleo.”
Juntos, Japão, México e Canadá são responsáveis por 32% do comércio exterior dos EUA. Além disso, quando se considera a China (23%) e a zona do euro (17%) - e o fato de que o yuan chinês se valorizou em 53% desde 2004 e de que o pacote de estímulo da União Europeia de 750 bilhões de euros evidencia a resiliência do euro - a competitividade relativa do dólar se torna ainda mais frágil.
Dada esta dinâmica de valorização ao redor do mundo, e a previsão de extensão de crise nos EUA, é extremamente provável que a confiança no dólar despenque drasticamente. Desta forma, o famoso argumento “TIDA”, “there is no alternative” (não existem alternativas viáveis que possam substituir o dólar em nível mundial), cai por terra.
No que diz respeito ao aspecto social, de acordo com o historiador da Universidade de Princeton Harold James, “assim como a União Soviética nos seus últimos anos, os EUA cambaleiam por conta de falhas catastróficas de liderança e tensões socioeconômicas suprimidas finalmente vieram à tona.”
Ele continua, “de fato, muitos aspectos do presente annus horribilis remetem os anos finais da União Soviética, começando pela intensificação dos conflitos sociais e políticos. No caso Soviético, rivalidades étnicas suprimidas e aspirações nacionalistas rapidamente vieram à tona, levando o país à violência, secessão e desintegração. Nos EUA, a resposta de Trump aos protestos contra o racismo, brutalidade policial e desigualdade somente amplificou o problema racial histórico no país. E, assim como as estátuas de Lenin durante o colapso do império Soviético, as estátuas dos líderes Confederados estão sendo derrubadas.”
Diante destas condições, dificilmente a hegemonia americana pode ser mantida. A questão é se a doença, por assim dizer, é terminal, ou pode ser recuperada. Ao que tudo indica, sob as atuais pressões, mesmo com uma eventual mudança no poder, o dano causado por Trump é irreparável.
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