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Paper Excellence compra fábrica canadense sob protesto de ambientalistas

O grupo sino-indonésio também luta para se instalar no Brasil e Greenpeace sediado em Jacarta avisa: se a aquisição for concluída, será péssimo para os brasileiros

Área desmantada e espansão global (Foto: Greenpeace e reprodução)

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Por Joaquim de Carvalho, 247 - A Paper Excellence, que disputa com a brasileira J&F o controle da Eldorado Celulose, anunciou nesta quarta-feira (01/03) a compra da Resolute Forest Products, fábrica candense de papel, celulose e outros produtos de madeira. Em 2021, a Paper já havia adquirido no Canadá a fábrica de papel e celulose Domtar.

"Estamos entusiasmados em receber a Resolute no Paper Excellence Group. O negócio da Resolute é complementar ao nosso. Ele apresenta novos produtos à nossa oferta e nos permite receber uma força de trabalho impressionante, fortalecendo nossa equipe existente. Estamos bem posicionados com a adição de capacidade de madeira competitiva em um momento de escassez significativa no estoque de habitação em toda a América do Norte", afirmou Patrick Loulou, vice-presidente e diretor de estratégia do Paper Excellence Group.

Se a compra da Resolute foi motivo de comemoração por parte do grupo empresarial controlado pela família sino-indonésia Widjaja, a simples possibilidade de aquisição, ventilada na semana passada, já deixava os ambientalistas canadenses muito preocupados. "A Paper Excellence, maior produtora de celulose do Canadá com laços estreitos com o polêmico império corporativo Sinar Mas Group/Asia Pulp & Paper, está prestes a expandir drasticamente sua influência sobre as florestas do Canadá com a aquisição de uma das maiores madeireiras do país", alertou o Conselho Nacional de Defesa dos Recursos Naturais do país (NRDC, na sigla original).

Com a aquisição da Resolute, destacou o NRDC, a Paper Excellence se consolida como "a rei da celulose do Canadá e uma das empresas madeireiras mais poderosas do continente". 

A concentração de um segmento nas mãos de um ou de poucos empresários já seria motivo suficiente para preocupação em qualquer lugar do mundo. 

No caso da Paper, a preocupação da NRDC aumenta em razão do passivo ambiental atribuído à família Widjaja. Passivo de possíveis ilegalidades que não se restringem ao meio ambiente.

"Esta expansão vem na esteira de novas evidências que detalham os laços profundos entre a Paper Excellence e o gigante indonésio Sinar Mas, um conglomerado com laços com o desmatamento internacional, emissões de carbono e abusos dos direitos humanos. A mudança cede o futuro de grande parte das florestas do Canadá a um império familiar ligado ao desmatamento global e à grilagem de terras", afirma o NRDC.

As violações atribuídas à Asia Pulp & Paper (APP) já geraram movimentos que exigiam que redes varejistas como o Carrefour na França e fabricantes como a Mattel (brinquedos) nos Estados Unidos suspendesse a compra de produtos da empresa sino-indonésia, o que ocorreu. 

Depois disso, surgiu a Paper Excellence, que tenta se desvincular da APP. Porém, em novembro do ano passado, o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês) publicou reportagem que apresenta o vínculo entre as duas empresas, através de uma teia de empresas offshore.

A Paper Excellence contestou a matéria, mas o ICIJ manteve a publicação. O vínculo familiar entre as empresas é inegável. O líder da Asia Pulp & Paper, Teguh Widjaja, é pai do chefe da Paper Excellence, Jackson Widjaja, que conduziu todas as negociações com o grupo brasileiro J&F para aquisição da Eldorado em 2017, embora, ao que se sabe, ele nunca tenha colocado os pés no Brasil.

Em 2019, Jackson se encontrou com o então vice-presidente da república, Hamilton Mourão, em Xangai, China, e depois com Eduardo Bolsonaro, em Jacarta, Indonésia. Nos dois encontros, posou para foto com checões bilionários de valores diferentes, mas que nunca deixaram de ser peças de ficção, já que nenhum centavo foi investido no Brasil.

A expansão global da família Widjaja preocupa também ambientalistas sediados na Indonésia. O 247 procurou o Greenpeace no país asiático em razão do movimento que levou ao boicote de produtos da APP e o risco que representa a instalação do grupo no País. "A aquisição de uma fábrica de celulose no Brasil por Sinar Mas (controladora da APP) é uma má notícia para as comunidades e florestas locais. Mais investimentos em indústrias destrutivas por uma empresa com o pior histórico possível é um desastre em formação", disse Syahrul Fitra, ativista florestal sênior do Greenpeace na Indonésia.

Ele explica: "A subsidiária indonésia de celulose e papel da Sinar Mas/APP, e seus fornecedores desmataram mais de um milhão de hectares de floresta nativa em Sumatra para suas plantações até 2010. Após uma campanha das comunidades afetadas e ONGs durante a qual a empresa perdeu muitos de seus compradores, a empresa introduziu uma política de desmatamento zero em 2013 e se comprometeu em 2014 a apoiar a proteção e restauração de um milhão de hectares de floresta. Infelizmente, Sinar Mas não honrou suas promessas. Apenas cerca de metade da área já foi protegida – a empresa diz que foram 600 mil hectares. Pior ainda, apenas uma pequena fração das operações da APP em áreas de turfeiras foram encerradas". 

Syahrul Fitra acrescenta que a perda de floresta pantanosa, onde havia as turfeiras, acarreta "enormes emissões de carbono". 

A ativista sênior do Greenpeace na Indonésia lembra que seu país, juntamente com o Brasil e o Congo, que têm as maiores florestas tropicais do mundo, formaram recentemente uma aliança para proteger essas áreas e o planeta.

"Os esforços para proteger as florestas nos três países devem estar centrados no compromisso com o desmatamento zero e a restauração de áreas desmatadas e degradadas. Deve significar o fim da impunidade dos criminosos ambientais e ser liderado pelos povos indígenas e comunidades locais dessas regiões, que lutam pela proteção de seus direitos, terras e meios de subsistência, e que são os mais afetados pela emergência climática", afirmou.

Nesse sentido é que Syahrul Fitra disse que "a aquisição de uma fábrica de celulose no Brasil por Sinar Mas é uma má notícia para as comunidades e florestas locais".

Só no Mato Grosso do Sul a Eldorado tem 250 mil hectares plantados e é obrigado por lei a preservar pelo menos 20% de vegetação nativa na mesma bacia hidrográfica. Com o passivo ambiental da família Widjaja, a preocupação de ativistas faz todo sentido.

A Paper Excellence foi procurada segunda-feira (27/02), mas não se manifestou.

 

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